A União Europeia e o Canadá alertaram nesta segunda-feira que uma cláusula do pacote de recuperação econômica proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pode levar a mais protecionismo por parte do país.
A cláusula em questão é conhecida como "Buy American" (compre produtos americanos, em tradução livre) e procura assegurar que apenas ferro, aço e manufaturados produzidos nos Estados Unidos sejam usados em projetos de construção contemplados pelo pacote.
O embaixador da União Europeia em Washington, John Bruton, criticou a medida e afirmou que ela mandaria um mau sinal para o mundo.
"Se a primeira legislação importante que Obama assinar como presidente for em parte protecionista, isto não mandará uma boa mensagem", disse Bruton ao jornal Financial Times.
Em uma carta para os líderes do Senado dos Estados Unidos, o embaixador do Canadá em Washington, Michael Wilson, afirmou que, se a cláusula estiver no pacote aprovado, abrirá um precedente negativo com repercussões globais.
"Os Estados Unidos perderão a sua autoridade moral de pressionar os outros (países) a não adotarem medidas protecionistas", diz Wilson na carta, segundo a rede de TV canadense CBC.
Já o ministro do Comércio Exterior canadense, Stockwell Day, afirmou que seu país espera ser excluído de qualquer medida do tipo, que, segundo ele, poderia levar a uma depressão global.
"Estas medidas protecionistas, em uma hora de recessão, só pioram as coisas", disse à rede CBC. "Isto poderia causar medidas de retaliação, e nós não queremos fazê-lo", afirmou Day.
Brasil
Na semana passada, o governo brasileiro também criticou a cláusula de preferência por produtos americanos no projeto de pacote de Obama.
"Eu li que o presidente (dos Estados Unidos, Barack) Obama tomou uma decisão de que, nos novos investimentos deles, devem usar só aço da siderúrgica americana. Se isso for verdade, é um equívoco. O protecionismo nesse momento vai agravar a crise, não resolvê-la", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista no Fórum Social Mundial, em Belém, no Pará.
A cláusula também recebe oposição de membros do Partido Republicano nos EUA.
Por causa das críticas, a Casa Branca afirmou que está revisando esta parte do pacote, embora o vice-presidente, Joe Biden, tenha afirmado na semana passada que considera legítimo que parte da cláusula "Buy American" esteja no plano.
Obama pediu nesta segunda-feira pressa ao Senado pela aprovação do pacote.
O plano de mais de US$ 800 bilhões foi aprovado na semana passada pela Câmara dos Representantes e agora será analisado pelo Senado, onde sua aprovação é quase impossível sem o apoio dos republicanos.
O líder dos democratas no Senado, Harry Reid, afirmou esperar que o plano seja votado ainda esta semana.