A casa no Henrique Jorge ainda guarda ares de sítio. Três benjamins centenários sombreiam todo o terreno. Recuada, a construção revela detalhes originais como as telhas do alto e os tijolos de pedra da base. Na casa viveu a escritora Rachel de Queiroz. A família chegou ao Sítio Pici em 1927. Ela tinha 17 anos. Na casa, tombada pela Prefeitura em outubro deste ano, Rachel escreveu o clássico O Quinze, casou com José Auto, teve Clotilde e perdeu a filha dois anos depois.
"O sentimento com um lugar que guarda tantas histórias suas não se perde nunca. Tenho certeza de que ela ficaria muito feliz com o tombamento", celebra o morador Leonor Maria, 60. Ele acompanhava o grupo que se reuniu ontem em frente à casa, iniciando uma série de atos simbólicos que deve se repetir todo dia 17 ao longo de 2010. “Pelo centenário de Rachel no ano que vem e porque a data de seu aniversário é 17“, explica Aguinaldo Aguiar, do movimento Pró-Parque Rachel de Queiroz.
O tombamento é visto como o primeiro passo para a implementação do projeto de urbanização das margens do riacho Alagadiço que passa no fundo do terreno do sítio. Como o espaço foi loteado na década de 70, hoje o riacho está longe da casa de Rachel, separado por várias outras construções. O projeto do parque é grande. Abarca 12 bairros e está dividido em 15 trechos. O riacho tem cinco quilômetros de extensão. Começa no açude João Lopes, no Bairro Ellery, e encontra o rio Maranguapinho, no Parque Genibaú.
Complexo
De acordo com a titular da Secretaria Executiva Regional III, Olinda Marques, já estão garantidos R$ 947 mil por meio de uma emenda parlamentar do senador Inácio Arruda (PCdoB). Com o dinheiro, no ano que vem, devem ser construídas duas quadras de areia, uma ilha de ginástica e um novo projeto de iluminação, no trecho do riacho que passa atrás do colégio Santa Isabel, no Henrique Jorge.
"É só o início. Estamos chamando de complexo Rachel de Queiroz de tantas ações previstas", anuncia Olinda. O projeto entrou no Plano Plurianual (PPA) do Município com verba de R$ 1 milhão, mas ainda não há nada garantido. O Sítio Pici continua abrigando três famílias que preferem não dar entrevistas. A Prefeitura não fala ainda em desapropriação, mas o movimento Pró-Parque espera que a construção vire um centro de cultura no bairro.