Protesto nacional marca união e luta pela redução da jornada


O ato nacional das centrais sindicais pela redução da jornada de trabalho sem redução do salário, realizado em São Paulo nesta quarta (), contou com vários protestos em diferentes regiões da cidade. O ato da zona sul reuniu cerca de cinco mil pessoas. No centro, quase todos os presidentes das centrais encontraram-se no protesto da Praça Ramos. Já a manifestação no parque Dom Pedro parou um dos maiores terminais de ônibus da cidade por uma hora e meia.

 Além de São Paulo, outros 19 estados promoveram manifestações, panfletagens e paralisações neste Dia Nacional de Lutas, que também pediu a aprovação das Convenções 151 e 158 da OIT (Organização Internacional do Comércio).

“A mobilização no Brasil todo foi além da nossa expectativa. Isso é extremamente importante e vai ajudar muito para garantir que o projeto de lei pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários seja aprovado no Congresso Nacional. O Dia de Luta foi vitorioso e essa avaliação se dá pelo grau de maturidade e unidade que as centrais vêem tendo”, disse Wagner Gomes, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). 

Além da redução da jornada a CTB também reivindicou o fim do fator previdenciário e a reforma agrária em suas mobilizações. “A reforma agrária é uma necessidade ao desenvolvimento do país. Já o fator previdenciário foi a medida mais perversa do neoliberalismo contra o direito à aposentadoria dos trabalhadores”, explica Wagner. 

Na próxima terça-feira, 3 de junho, as centrais pretendem realizar uma audiência pública onde entregarão ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), cerca de 3 milhões de assinaturas favoráveis à aprovação do PL (Projeto de Lei), de autoria dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Paulo Paim (PT-RS), que reduz a jornada de trabalho, sem redução dos salários, para 40 horas semanais, no lugar das atuais 44 horas. 

Um dos cartões postais de São Paulo, a Ponte da Estaiada, localizada na avenida Roberto Marinho, foi o cenário da maior mobilização na capital. Os manifestantes, em sua maioria costureiras, metalúrgicos e trabalhadores da construção civil, foram mobilizados, em especial, pela Força Sindical (FS).

 

Cinco mil na zona sul

“Começamos a nossa mobilização hoje às 5 horas da manhã. Foram sete empresas diferentes do setor que paralisaram suas atividades. O sucesso deste ato é mais uma prova da disposição dos trabalhadores de cobrar dos empresários que distribuam melhor os seus lucros através da redução da jornada de trabalho sem redução dos salários”, falou ao Vermelho Eleno José Bezerra, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM-FS).

A metalúrgica, operadora de máquina, Maria do Carmo, concordou com Eleno. “Essa manifestação veio em muito boa hora. A redução da jornada vai melhorar bastante a minha vida, vou ter mais tempo para estudar e crescer dentro da fábrica”, disse ela na zona sul.

O deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), foi bem recebido pelos trabalhadores presentes à manifestação. As denúncias de que Paulinho teria desviado verbas do BNDES (Banco Nacional dos Desenvolvimento) pareceram não abalar a confiança deles na liderança.

“Quero que todas as denúncias sejam rigorosamente apuradas. Sei que elas não tratam de um caso de justiça, mas sim de política. Tenho sido um fiel soldado da classe trabalhadora no Congresso e isso tem incomodado setores contrários às nossas conquistas”, falou ele à imprensa e aos manifestantes.

Unidade

Ao meio-dia, cerca de 500 trabalhadores participaram do protesto que ocorreu na rua 24 de Maio, centro da capital. Empregados do comércio, costureiras, coletores de lixo, químicos, condutores e metroviários foram algumas das categorias presentes no ato. Além da CTB, a CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), a UGT (União Geral dos Trabalhadores), a NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores) e a CUT foram forças importantes na mobilização do protesto.

O ato político chamou a atenção dos transeuntes e contou com a presença de quase todos os presidentes nacionais das centrais. “O mais importante neste dia é a consciência da unidade das centrais. A unidade é que possibilitará ter a conquista história da redução da jornada e a aprovação das Convenções 151 e 158. Unidos provaremos ao Brasil que com mais produtividade e distribuição dos lucros é possível dar mais tempo livre aos trabalhadores”, afirmou o presidente da CGTB, Antonio dos Santos Neto.  

O presidente da UGT, Ricardo Patah, também enalteceu a unidade das centrais e destacou o significado da conquista para o desenvolvimento social e econômico do país. “A diminuição da jornada de trabalho, além de gerar 2,5 milhões de novos empregos, impactará em mais educação, saúde, esporte e lazer para os brasileiros, questões decisivas para o nosso desenvolvimento.”

Tatiana Cristina Vieira, que trabalha 48 horas semanais em uma das lojas da Galeria do Rock – que fica na 24 de Maio – acompanhou atentamente as falas das lideranças sindicais. “Eu apóio inteiramente esse protesto aí pela redução da jornada de trabalho. A gente precisa ter descanso. Se reduzir vai gerar mais empregos, os empresários ganham muito e podem fazer isso”, defendeu ela.

Já a dona da loja em que trabalha Tatiana, Andréia Borgoni, discordou da funcionária. “O problema de São Paulo é que tem muita gente de fora da cidade, principalmente do nordeste. Isso faz com que os paulistanos não tenham acesso ao emprego. Eu não acho que a solução é reduzir a jornada. Minha loja é pequena e não tenho como contratar mais gente”, afirma.

Embora o clima de unidade política esteja em alta entre as centrais, em nenhum momento do dia de hoje todos os presidentes das seis centrais se encontraram em apenas um ato. A opção das centrais foi pulverizar o Dia Nacional de Lutas em atos pequenos e médios pela cidade, garantindo a mobilização das categorias em que cada central tem mais força.   

Greve geral

De todas as seis centrais mobilizadoras do Dia Nacional de Lutas, apenas a CTB expressou nos carros de som a possibilidade de uma greve geral pela redução da jornada de trabalho. “Nós estamos vivendo o melhor momento político e econômico para os trabalhadores. É hora de sermos ousados. Temos que nos preparar para a possibilidade de uma greve geral pela redução da jornada. Não podemos perder a oportunidade do bom momento”, disse Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB.

Para a imprensa, a NSCT manifestou o desejo da unidade das centrais por uma greve geral no dia em que o PL da redução for votado no Congresso. “A pressão é grande por parte da mídia e de empresários atrasados para que a jornada de trabalho continue como está. Em função disso, toda luta da classe é pouca. Uma boa oportunidade para uma greve geral seria o dia da votação do PL da jornada no Congresso”, refletiu Luiz Gonçalves, presidente da NSCT de São Paulo.

As lideranças das demais centrais declararam ao Vermelho que uma greve geral só seria possível e necessária caso ocorresse resistência à aprovação da redução da jornada. “O que vai dizer se faremos ou não uma greve geral é o processo de mobilização e discussão da redução da jornada e das Convenções 151 e 158 no país. Se não houver resistência à aprovação destas bandeiras, não vejo necessidade de uma greve geral”, informou Artur Henrique, presidente da CUT – central que jogou maior peso na mobilização de cerca de cinco mil metalúrgicos na região do ABC.

Se depender apenas da vontade dos trabalhadores e transeuntes que estiveram nas manifestações de hoje, uma possível greve geral será um sucesso. “Se tiver greve geral não vou vacilar, vou mobilizar todo mundo para parar o Brasil pela redução da jornada”, disse o ajudante geral de obra, Adenilson Norberto da Silva. “Greve geral? Sei lá, pode ser. O que não dá é para ficar como está. Eu apóio”, empolgou-se Amanda Camargo, caixa de farmácia, que ficou na manifestação depois de seu horário de almoço.

A última atividade ocorreu em um dos maiores terminais de transporte urbano da cidade, o Parque Dom Pedro. Lá os motoristas de ônibus e cobradores pararam por uma hora e meia durante o horário de pico no centro. “Os condutores participarão ativamente de uma greve geral se assim as centrais definirem. Temos que ter esperança e lutar. Não dá para achar que as coisas cairão do céu”, disse a liderança do Sindicato dos Condutores de São Paulo, José Carlos Negrão.

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