Pronunciamento do Senador Inácio Arruda em Homenagem ao centenário de nascimento de Olga Benário Prestes.


Sr Presidente, Srªs e Srs Senadores, ocupo esta tribuna para fazer, neste dia de hoje, o registro do aniversário de 100 anos de nascimento do Olga Benário Prestes. Olga nasceu em 12 de fevereiro de 1908. De origem judia, Olga, cujo nome verdadeiro era Maria Bergner, nasceu em Munique, na Alemanha, em 1908. Com quinze anos de idade, ingressou para a Juventude Comunista e, aos dezessete anos, mudou-se para Berlim, onde continuou sua militância.

É notório o episódio onde, em 1928, disfarçada de estudante de Direto, Olga e outros camaradas invadiram a sala de audiências onde seu companheiro Otto Braun era acusado de subversivo. Lá dominaram os policiais e libertaram o preso. Após a operação, Olga fugiu para Moscou, onde passou a trabalhar para o Movimento Internacional Comunista.

Em 1934, Olga foi designada para garantir a chegada segura ao Brasil do líder comunista – e posteriormente Senador da República – Luís Carlos Prestes. Aliás, Sr. Presidente, considero que está na hora de o Senado da República resgatar a figura de Luís Carlos Prestes. Cassado de forma indecorosa pelos seus Pares, com processo encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal, processo que demonstrava o famoso início da Guerra Fria, era uma cassação puramente ideológica. O Supremo mandou e o Senado da República cassou o Líder do Partido Comunista do Brasil no Senado, naquela época, conhecido como Partido Comunista Brasileiro, Luís Carlos Prestes.Acho que é o momento de fazermos esse resgate. Agora, buscamos resgatar a figura belíssima de Olga Benário.

Durante a longa viagem, os dois, Olga e Prestes, se apaixonaram. Já no Brasil, mesmo na clandestinidade, articularam um movimento que eclodiu como uma revolta armada nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro.

Olga e Prestes foram presos e, apesar de protestos internacionais, ela foi entregue, grávida de sete meses, à polícia nazista alemã pelo governo de Vargas, numa operação montada pelo seu agente, digamos assim, "policial" principal daquela época, que era a figura de Filinto Müller, que, para que a história saiba dos acontecimentos, dá nome a uma ala do Senado Federal. Então, foi entregue por Filinto Müller, que fazia às vezes de polícia política do governo de Getúlio de então. Olga ainda passou três anos num campo de concentração, antes de ser enviada para a execução na câmara de gás, em 1942.

Sua belíssima trajetória de vida foi retratada no filme Olga, realizado em 2004, pelo diretor Jayme Monjardim, inspirado na biografia também belíssima, de mesmo nome, escrita por Fernando Morais, esse grande escritor e jornalista brasileiro.

Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quero destacar que, na Alemanha, a Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista fundou, em 1984, na cidade de Berlim, a Galeria Olga Benário.

E, agora, como ponto alto das homenagens que presta ao seu centenário de nascimento, a instituição convidou a professora Anita Leocádia Prestes, filha de Olga e de Luís Carlos Prestes, nascida em Berlim, quando Olga estava na prisão feminina, para inaugurar a "pedra de tropeço", uma pequena placa de latão que é cravada nas calçadas dos prédios onde moravam vítimas do Holocausto.

As placas começam sempre com os dizeres: "Aqui morava" e, em seguida, lê-se o nome, data de nascimento, data de deportação e uma referência ao local e data de morte da vítima. Hoje, já são mais de 13,5 mil marcos como esse espalhados por quatro países da Europa – os nazistas e os fascistas transformavam em vítimas fatais aqueles que tinham o argumento da luta pela democracia, pela liberdade e pela defesa dos direitos dos povos no mundo inteiro.

O local escolhido para afixar a homenagem foi o último endereço de Olga, como cidadã livre, na Alemanha.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Olga Benário Prestes foi modelo inquestionável de firmeza, coragem e convicção política.

Finalizo este pronunciamento destacando trechos de uma carta que Olga escreveu em fevereiro de 1942, pouco antes de completar 34 anos, logo após ouvir, no campo de concentração, a relação das 200 prisioneiras que, na manhã seguinte, seriam transportadas e mortas.

Disse Olga:

Queridos, amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras do que a minha própria vida.

E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos.

Mais à frente, continua Olga:

Querida Anita, meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível".

E finaliza:

Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão por que se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos, pela última vez.

Olga.

Sr. Presidente, ao reverenciarmos a memória de Olga Benário Prestes, reafirmamos seus ideais de busca por um mundo justo, fraterno, solidário. Olga Benário Prestes é exemplo de luta, determinação e amor ao Brasil e ao Socialismo.

É a nossa homenagem a essa querida irmã de luta e de fé na longa caminhada em defesa do socialismo.

Viva Olga Benário Prestes!

Era o que tinha dizer.

Obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Após a brilhante homenagem do nosso Senador Inácio Arruda, Líder do PCdoB, a Olga Benário, convidamos para usar da palavra…

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Sr. Presidente, peço permissão a V. Exª para oferecer um aparte ao nosso Senador do Estado do Amazonas João Pedro.
O Sr. João Pedro (Bloco/PT – AM) – Obrigado, Sr. Presidente Mão Santa. Senador Inácio Arruda, V. Exª faz um registro da nossa história. Estou fazendo este aparte para me associar à iniciativa de V. Exª em registrar este centenário, mas, ao mesmo tempo, quero refletir acerca do momento em que o mundo contemporâneo viveu a circunstância da Segunda Guerra Mundial. V. Exª destaca, primeiro, um brasileiro importante, Senador da República, Luís Carlos Prestes; segundo, Olga Benário. V. Exª faz esse registro, e quero apenas contribuir, associar-me ao discurso, à iniciativa, à emoção de V. Exª, porque V. Exª está registrando um fato em que um segmento político se confrontou de forma muito firme, muito consciente: os partidos comunistas se contrapuseram a Hitler, ao fascismo. Quero chamar a atenção para isto: os comunistas tiveram um papel importante – digo fundamental – na derrota do fascismo no início da década de 40 – final da década de 30, década de 40. Então, V. Exª faz o registro de dois personagens: um, brasileiro; outro, uma alemã, que viveu aqui, que se casou com um brasileiro, que tem uma filha – e esta tem filhas, hoje, no Brasil. Quero associar-me à emoção da V. Exª. É mais um registro histórico. E o papel dos socialistas, dos comunistas, dos democratas foi importante, porque eles enfrentaram e derrotaram o fascismo de Adolf Hitler.

O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Agradeço a V. Exª. Ao fazer esse registro, V. Exª amplia a força da emoção deste pronunciamento. V. Exª é como um socialista: conhece bem a necessidade imperiosa de o mundo dar esse passo a mais na qualidade de vida das pessoas. Eram esses os ideais desse povo, de Prestes, de Olga, de tantos socialistas, de tantos comunistas.

Lembro-me como se deu a resistência francesa, em dois momentos: lá, atrás, antes da Comuna de Paris, quando o povo pobre das ruas – os analfabetos, os operários – teve de se levantar para defender o país, porque a elite francesa da época fez um acordo com a Alemanha, para a Alemanha dominar a França. E foram exatamente os pobres, os carroceiros, os operários, os mais simples do povo que reagiram para defender seu país. Em seguida, na Segunda Guerra Mundial, foram os socialistas, os comunistas, os democratas que fortaleceram a resistência francesa. Eram eles que estavam na linha de frente de todos os combates, dentro da França e, às vezes, fora da França, para defender sua pátria contra o nazi-fascismo.

Então, eu agradeço a V. Exª

Este é um momento importante para fazermos um registro e um resgate histórico. E levanto esta idéia: creio que é hora de resgatarmos, dentro do Senado da República, o nome do Senador Luís Carlos Prestes. Ele foi cassado por esta Casa. Acho que este ato tinha de ser revisto pelo próprio Senado da República.

Muito obrigado.