Pão pode baixar 4%


Depois de um período de altas seguidas nos preços dos alimentos, um pequeno alento para o consumidor. O preço do pão tende a cair 4% nos próximos dias, puxados pela redução de 12% no preço da farinha de trigo em todo o País. ´Como a farinha de trigo representa um quarto, 25% dos insumos do pão, acho que vamos ter uma redução de 4%, no preço do pão´, sinalizou ontem, o embaixador do Brasil e novo presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral.

Em visita ao Sistema Verdes Mares, à tarde, Amaral revelou que a Abitrigo está, inclusive, promovendo uma campanha promocional, mostrando às panificadoras a possibilidade de redução de preço e que os moinhos, as padarias e demais setores da cadeia produtiva do trigo estão contribuindo para minimizar a retomada da inflação. Com a redução no preço da farinha, garante Amaral, o setor está empenhado para que esse ganho seja transferido para a ponta, para o preço do pão e para o das massas.

Segundo ele, a redução é possível devido à desoneração do PIS e da Cofins da atividade moageira e à retirada, mesmo que temporária, da contribuição adicional de frete ao Fundo da Marinha Mercante. ´Se o governo tornar definitivas as desonerações, a medida será muito importante para o combate da inflação´, avalia.

Além disso, explica Sérgio Amaral, a produção brasileira de trigo será maior este ano e a Argentina tende a liberar maior parcela de trigo aos moinhos brasileiros. ´Recentemente, a Argentina liberou mais 900 mil toneladas´, emendou o presidente da Associação Norte e Nordeste da Indústria de Trigo, Roberto Schneider, que o acompanhou com outros representantes do setor, em sua visita à capital cearense.

Sérgio Amaral estima que a safra do cereal, que começa agora em agosto, deve fechar o ano com cerca de 5,3 milhões de toneladas, o que irá amenizar a crise vivida nos últimos dois anos, e voltar a realimentar os estoques dos moinhos.

Na safra do ano passado, o Brasil produziu apenas 3,8 milhões de toneladas, diante de um consumo anual superior a dez milhões de toneladas. Em 2006, o Brasil importou 7,9 milhões de toneladas de trigo e produziu apenas 2,23 milhões de toneladas, menos de um quarto da demanda do País.

Diante desse cenário, avalia Amaral, mas sobretudo devido ao crescimento da demanda mundial por trigo e da instabilidade econômica da Argentina este ano, o incremento na produção brasileira deste ano será muito importante.

Liberdade de compra

Apesar do aumento da produção, o novo titular da Abitrigo alerta que o Brasil precisa manter a política de liberalização da importação de trigo, o que tem permitido aos moinhos buscar o grão em outras origens, a exemplo dos Estados Unidos e Canadá. ´Ao termos liberdade para comprarmos de outras origens, para diversificarmos os fornecedores, poderemos produzir tipos de farinhas diferentes, produtos diferenciados, de maior valor agregado, que o mercado exige´, explicou.

Ele defende, também, alíquota zero permanente para a importação do trigo, o que, segundo ele, garantiria o abastecimento e produtos com preços mais baixos. Amaral reconhece, no entanto, que essa é uma medida que precisa ser melhor discutida pelo setor.

´Essa é uma questão para ser discutida com calma. Os primeiros interlocutores para se discutir isso são os produtores brasileiros´, aponta o embaixador. Ele defende ´que eles (os produtores) precisam ter a garantia adequada de que o trigo que for produzido no Brasil será adquirido pelos moinhos´.

Para Amaral, o trigo brasileiro é de boa qualidade, mas não atende às necessidades dos moinhos brasileiros devido a baixa produção, daí ter sempre que recorrer às importações. Ele reconhece no entanto, que o setor necessita de matéria- prima diferenciada, de melhor qualidade, que permita a produção de iguarias de maior valor agregado. Isso tem, conforme disse, levado os moinhos, as panificadoras e os confeiteiros a procurarem por novos tipos de farinhas, em outros países. Em sua primeira visita ao Ceará, como presidente da Abitrigo, até então dirigida por Samuel Hasken, Sérgio Amaral destacou a grande representatividade dos moinhos do Estado no PIB brasileiro para justificar sua vinda a Fortaleza. ´O Ceará é o primeiro Estado que visito, porque aqui estão moinhos muito importantes´, declarou o embaixador.

Ele lembra que a participação econômica do setor em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é de 8%, três vezes maior do que os 2% de participação do PIB estadual, em relação ao PIB nacional. ´Além dessa representatividade, estou impressionado com a tecnologia avançada dos moinhos do Ceará, e sobretudo, com a visão do setor, sobre o seu papel na economia brasileira. Isso justifica que os moinhos cearenses tenham na Abitrigo, um lugar muito especial´, frisou, após visita aos moinhos e ao cais do Porto do Mucuripe, na manhã de ontem.