Mais acessível, intercâmbio atrai jovens em busca de experiências


Mais acessível, intercâmbio atrai jovens em busca de experiências Entre os alunos de grande parte das universidades brasileiras, existe, nos últimos anos, um consenso: nunca foi tão fácil fazer intercâmbio e estudar no exterior. Antes considerado um investimento que apenas os jovens com melhores condições financeiras poderiam realizar, passar uma temporada fora do País, fazendo cursos em instituições de ensino estrangeiras, tem se tornando uma realidade possível para qualquer aluno e atraído cada vez mais o interesse dos estudantes cearenses à procura de novas experiências pessoais e acadêmicas.

Dados do programa Ciência sem Fronteiras, uma das alternativas de intercâmbio mais disseminada nas faculdades no Brasil, mostram que, em dois anos, desde que a iniciativa foi implantada pelos ministérios da Educação e da Ciência, 1.743 bolsas de estudo foram concedidas para universitários do Ceará. O Estado é o 9º no Brasil e o 2º no Nordeste com a maior quantidade de jovens aprendendo além-mar. Ao mesmo tempo, as escolas superiores locais, por meio de convênios com os grandes centros de ensino internacionais, enviam, ano a ano, dezenas de acadêmicos ao exterior para complementar graduações, mestrados e doutorados.

Experiências

As experiências bem sucedidas de quem passou uma temporada nas universidades do exterior e retornou ao Brasil também tem funcionado para incentivar cada vez mais jovens a fazerem mobilidade acadêmica, diz a professora Carolina Quixadá, diretora da Assessoria para Assuntos Internacionais da Universidade de Fortaleza (Unifor). Segundo ela, os brasileiros costumam se adaptar facilmente ao cotidiano das escolas estrangeiras e, por isso, conseguem fazer bom proveito da viagem.

“A partir do momento que mais pessoas vão e voltam, falando para os colegas sobre os benefícios, começa o marketing boca a boca entre eles. Está aumentando a consciência de que existe um mundo lá fora e que essa é uma grande oportunidade não só acadêmica, mas profissional e pessoal”, destaca Carolina.

A instituição possui 90 parcerias com universidades de 20 países, sendo os europeus mais visados, em especial Espanha, França, Portugal e Alemanha. Semestralmente, cerca de 50 estudantes de cursos variados entram nos programas. Segundo Carolina, os procedimentos para se candidatar às vagas são os mesmos de alguns anos atrás. No entanto, hoje, com a ajuda da Internet, os estudantes encontram menos dificuldades para participar do intercâmbio.

Passaporte

“O próprio estudante pode solicitar a documentação para a viagem, como visto, passaporte. Com as redes sociais, também é mais fácil eles se encontrarem, coletarem dados sobre a universidade estrangeira e locais de hospedagem e compartilhar informações em geral”, afirma Carolina Quixadá.

Tito Lívio Romão, titular da Coordenadoria de Assuntos Internacionais da Universidade Federal do Ceará (CAI-UFC) afirma que, hoje, há mais oportunidades e facilidades para realizar mobilidade acadêmica, o que fez aumentar a procura pelo estudo em outros países. A UFC disponibiliza aproximadamente dez programas de bolsas de intercâmbio, além da mobilidade por meio de convênios com instituições estrangeiras de locais como Alemanha, França, Estados Unidos, Portugal e outros.

Segundo ele, nos últimos anos, principalmente após a chegada do Ciência sem Fronteiras, o intercâmbio se tornou mais acessível. Antes da iniciativa, a média de estudantes da Federal cearense enviados a outros países ficava entre 50 e 60 pessoas por ano. Desde 2012, contudo, somente pelo programa, mais de 1.200 alunos da UFC já tiveram a chance de estudar fora. “Isso aconteceu porque foi aberto um leque de possibilidades, inclusive para aqueles estudantes que não tinham condições de viajar para fora e se manter. Eles ganham a passagem e recebem bolsas mensais, além de auxílio em saúde e instalação”, explica.

Prestes a embarcar para a França, onde irá passar um ano estudando Engenharia Mecânica, a cearense Mônica Gondim, de 22 anos, aluna da UFC, está realizando o sonho antigo de viver fora do País e completar a formação em universidades estrangeiras de renome. Além do desejo de obter novos conhecimentos acadêmicos e culturais, a jovem, selecionada pelo Ciência Sem Fronteiras, vê no intercâmbio uma forma de adquirir independência e ter um diferencial no currículo quando voltar ao Brasil. Com isso em mente, ela já tem metas definidas para os próximos meses. “Quero tentar estagiar em alguma empresa, fazer as cadeiras do jeito certo, ficar fluente em francês e me destacar. Também espero poder viajar e conhecer outros países”, diz Mônica.

Mercado

Na visão de Tito Cruz Romão, o intercâmbio representa um ganho para o aluno, para a universidade e para o mercado de trabalho local. Segundo ele, entrar em contato com diferentes formas de ensino e de vivência ajuda os estudantes a terem novas visões de mundo, o que pode ser aplicado, futuramente, em sua própria universidade de origem e ao longo de sua carreira.

“É um aprendizado que eles vejam esses novos sistemas educacionais, porque vai gerar uma demanda por mudanças dentro da universidade. Isso trará vantagens também para o mercado de trabalho, porque vai absorver pessoas com um olhar sobre a vida e a profissão bem mais amplo e aprofundado”, destaca.

Mayra Dias, estudante do curso de Direito, está vivendo, desde o início do ano, na cidade de Le Havre, na França, onde frequenta a faculdade local

Alunos destacam trocas culturais e amadurecimento

Mayra Dias, 22, e Mateus Menezes, 20, ambos alunos da Universidade de Fortaleza (Unifor), são alguns dos jovens cearenses em intercâmbio atualmente nas instituições de ensino estrangeiras. Mayra, estudante do curso de Direito, está vivendo, desde o início do ano, na cidade de Le Havre, na França, onde frequenta a faculdade local. Já Mateus escolheu a Alemanha como destino para aprimorar os estudos na área de Comércio Exterior, na qual pretende se graduar e profissionalizar nos próximos anos.

Para os dois, a experiência de mobilidade acadêmica é inédita, contudo, em apenas alguns meses, tem acumulado benefícios a curto e a longo prazo, dentre eles a chance de conhecer novas culturas e pessoas dos mais diversos lugares do mundo, e a capacidade de viver por conta própria.

No caso de Mateus, cujo objetivo é tornar-se especialista nas relações comerciais entre os países, o aprendizado internacional era quase uma necessidade. Mas, para além da formação acadêmica, a aproximação com outros povos acontece, também, no dia a dia das aulas. Segundo o estudante, a Technische Hoschule Deggendorf, universidade alemã na qual estuda, recebe alunos de muitos outros países, o que proporciona importantes trocas de vivências e costumes.

Adaptação

“O mais fascinante aqui é a imersão em uma miscigenação constante de povos. É muito interessante estar em contato com culturas tão diferentes da nossa, como as ocidentais, e vê-los tentando se adaptar, juntamente a nós, à cultura alemã”, ressalta o estudante Mateus.

Em situação semelhante, Mayra Dias teve de se acostumar ao sistema educacional francês e às metodologias locais de ensino, bastante diferentes das brasileiras. Mas, ela destaca, com a ajuda dos colegas também intercambistas, o processo de adaptação foi mais fácil. “Aos poucos, fui me instalando, fui conhecendo a cidade, fui conhecendo outras pessoas, estrangeiros e residentes. O que me chamou muito a atenção foi o espírito de sempre querer ajudar o outro. Entre nós, estudantes, existe muito a disposição para tirar dúvidas, acompanhar na hora de resolver algumas burocracias. Existe aquela camaradagem, pois estamos todos no mesmo barco, e isso aproxima bastante”, destaca a estudante.

Crescimento

Mayra afirma, ainda, que a experiência de morar sozinha, em um país desconhecido, sem a ajuda dos pais e de familiares, foi fundamental para o crescimento pessoal. Ao chegar na França, deparou-se com um país burocrático, repleto de dificuldades para resolver qualquer problema. No entanto, a jovem acredita que enfrentar o desafio fez com que adquirisse mais maturidade. “Pagar contas, cozinhar, limpar a casa, administrar o dinheiro, aprender a língua, o Direito, ir no banco, na operadora de celular, Correios. Tudo isso está me fazendo evoluir como cidadã, como filha, como estudante e como pessoa”, ressalta.

SAIBA MAIS

Assessoria para assuntos internacionais da unifor Atualmente, possui 90 parcerias com universidades de 20 países, além de fazer parte do programa Ciência Sem Fronteiras. As bolsas de estudo ofertadas são para graduação, mestrado e doutorado. Contato: 3477-3127

Coordenadoria de assuntos internacionais da ufc Integra mais de dez programas de intercâmbio, além de possuir parcerias com universidades americanas, europeias e asiáticas. Também faz parte do programa Ciência Sem Fronteiras, com bolsas para graduação, mestrado e doutorado. Contato: 3366-7333 / 3366-7336

Escritório de cooperação internacional da uece Possui cerca de 12 convênios ativos com países como Argentina, Estados Unidos, Cuba, México, República Tcheca, Portugal e outros. Participa, ainda, do Ciência Sem Fronteiras. Contato: 3101-9659 / 3101-9655

Fonte: Jornal Diário do Nordeste Vanessa Madeira Repórter