Guiné sofre golpe militar após morte de presidente


Após a morte do presidente do país, Lansana Conte, que esteve no poder por 24 anos, o exército da Guiné tomou o comando do país. Em uma declaração lida na manhã desta terça-feira (), poucas horas depois da morte de Conte, o exército declarou que o governo havia sido dissolvido e a constituição suspensa.

Tidiane Souare, o premiê do país, disse que o governo não foi dissolvido.

Um repórter da Associated Press em Conakry, a capital, afirmou que viu dezenas de soldados armados a caminho das instalações presidenciais, pouco depois que oficiais do exército foram vistos levando ministros e outros funcionários do governo para uma base militar.

\’Constituição suspensa\’

"As instituições da república mostraram-se incapazas de resolver a crise que está destruindo o país", afirmou o capitão Moussa Dadis Camara em um discurso transmitido pela Radio Conakry.

"A partir de hoje, a constituição está suspensa, assim como as atividades políticas e sindicais".

Camara disse que representantes civis e militares constituirão um "conselho consultivo" em lugar do governo deposto e das instituições do Estado.

Aboubacar Sompare, presidente da Assembléia Nacional, disse horas depois à emissora de televisão francesa, France 24, que essas atividades fazem parte de um golpe planejado por um grupo dentro das forças armadas.

Testemunas em Conacry disseram à rede catariana al-Jazira que um jovem capitão da guarda presidencial anunciou que as "pessoas deveriam permanecer em suas residências e que os militares tomariam o controle da situação política e econômica do país".

Policiais e militares foram vistos em todos os lugares da capital.

Um dos representantes da União Africana disse que eles estão "preocupados e monitorando atentamente" a situação.

Longa enfermidade

Os meios de comunicação locais afirmaram que Conte, de 74 anos, faleceu na segunda-feira (), após uma longa enfermidade.

Ele era um dos mais antigos líderes da África em atividade.

Após a conquista da independência da França em 1958, Conte galgou posições dentro da hierarquia militar até a vice-liderança, antes de ser escolhido para liderar um comitê militar de recomposição, que havia derrubado o governo, prometendo democracia e poder civil.

Falando à al-Jazira, Richard Cornwell, do Instituto para Estudos sobre Segurança na África Meridional disse que "estavamos aguardando alguma coisa assim desde que a saúde de Lansana Conte começou a definhar e desde que não houve preparação para qualquer tipo de sucessão".

"Isto já era previsto. Era o último recurso, realmente era o único recurso."

"O que nos preocupa, mais que o golpe em si, é o fato de que as Forças Armadas podem se dividir e isso resultaria em uma guerra civil".

"E, naturalmente, com a Guiné situada onde está, ao lado de Serra Leoa e da Libéria, isso poderá ser muito perigoso para a região".

Cornwell acha que a população deve estar curiosa para saber o que virá da nova facção no poder, cujos membros e poderes ainda não são conhecidos.

"É óbvio que o grupo também sabe que a União Africana não está inclinada a reconhecer qualquer tipo de governo que surja a partir de um golpe, mesmo com a incorporação de políticos civis".

Antes do golpe, Souare, o premiê, pediu em um discurso que o país permanecesse em "calma e em paz", e que o exército mantivesse a tranqüilidade.

Autocracia

A suprema corte foi solicitada a encontrar um substituto para Conte, que sofria de diabetes e era um contumaz fumante, e proclamou 40 dias de luto.

O ex-soldado colonial que liderou o maior exportador mundial de bauxita com mão de ferro desde que tomou o poder em um golpe no ano de 1984, após Ahmed Sekou Toure, o primeiro presidente de uma nação ocidental da África, ter falecido em um hospital americano.

Desde então, apenas três eleições no país foram realizadas, a partir de 1993, e foram vencidas por Conte, enquanto os grupos oposicionistas boicotavam as votações, por considerá-las anti-democráticas.

A saúde de Conte decaiu a partir de 2002, vindo a deixá-lo em coma, gerando rumores sobre sua morte.

Essa situação levou a uma nova disputa eleitoral em 2003, com uma campanha eleitoral que terminou com a vitória de Conte por 95% dos votos.

Os partidos de oposição aumentaram a pressão para que Conte renunciasse, devido à cada vez mais debilitada saúde, o que o fazia permanecer meses a fio no Marrocos, na Suíça e em Cuba para tratamento médico. A situação frágil levantou receios de que haveria instabilidade política se ele morresse no poder.

Demonstrações contra o poder de Conte em 2007 e em novembro passado foram reprimidas de forma sangrenta, com 186 e 4 pessoas mortas, respectivamente.

Entretanto, ele estava confiante em sua permanência até o fim de seu reinado.

"Eu sou o chefe, os outro são meus subordinados", disse em 2007.

"Não há essa questão de transição", afirmou, após ter sido perguntado quem iria ocupar o poder depois dele.