A recriação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) reuniu governadores e deputados do Nordeste em um café da manhã, nesta quarta-feira (), na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília.
A tônica dos discursos pode ser resumida nas palavras do deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA), relator do projeto: “A retomada da Sudene no governo Lula é com a perspectiva de uma política nacional de desenvolvimento regional dirigida para todo o Brasil, trabalhando as diferenças interregionais e intraregionais”.
Mas foi o governador de Sergipe, Marcelo Déda, quem deu um tom emocionado ao discurso em defesa da região. “A caricatura do Nordeste de uma região pobre que vive em busca de favores da União é apenas isso – uma caricatura agressiva e inaceitável. O Nordeste há muito deixou de ser isso e, no último pleito – os ventos nordeste – que nessa época sopram muito forte, tangendo as velas das jangadas e impulsionando a coragem dos nordestinos, fez uma completa renovação política na região Nordeste”.
Para o governador sergipano, esse é o “momento oportuno para fazermos uma nova abordagem sobre o Nordeste e deixar de uma vez por todas definido que o Nordeste não é uma agenda à parte, não é nota de pé de página, é um dos capítulos mais importantes do Brasil”.
O discurso de Marcelo Déda coroou a fala dos demais governadores e parlamentares que fizeram uma defesa vigorosa da importância e necessidade da Sudene, “um instrumento como tantos outros, como BNB, Dnocs e outras instituições que cumprem papel extraordinário no desenvolvimento da região”, disse o presidente da CNI, deputado Armando Monteiro (PTB-PE).
“Tão importante quanto a recriação da Sudene é exigir uma política nacional de desenvolvimento regional. Sem explicitação de uma política nacional é difícil compreender a importância desses instrumentos e perguntar qual o papel que vão exercer diante dos macroobjetivos dessa política que precisam ser explicitados”, disse ainda Monteiro.
Coube ao deputado Zezéu Oliveira a tarefa de relatar o processo de tramitação do projeto de recriação da Sudene. Ele também defendeu uma política nacional de desenvolvimento regional, destacando, em tom de crítica que “os recursos da União são carreados para a mesma finalidade e mesma centralidade – o Sudeste do Brasil”.
Segundo ele, as sugestões apresentadas no projeto é de “uma Sudene enxuta, com controle social e recursos, de fortalecimento do Conselho Deliberativo, com a presença dos governadores”. Ele destacou que “além do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que passa a ter outro papel no desenvolvimento regional, outras medidas são importantes para a região como a aprovação do Fundeb (Fundo de Educação Básica) e Fundo de Revitalização do Rio São Francisco”.
Redenção do Nordeste
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), destacou, em sua fala, a sugestão apresentada ao projeto de que a Sudene deve ser um órgão com presença dos governadores, municípios, setor privado e trabalhadores, e estar vinculado diretamente ao Presidente da República para cumprir o seu papel de aproveitar o potencial gigantesco da região.
Para Wellington Dias, a redenção do Nordeste virá com “novos governadores com novos recursos e a Sudene como instrumento de planejamento”.
O governador da Bahia, Jacques Wagner, conclamou os governadores do Nordeste, incluindo os do Espírito Santo e Minas Gerais, a promoverem a unidade na luta pelo desenvolvimento do Nordeste. “Que cada governador ponha abaixo a vaidade pessoal para promover o desenvolvimento do Nordeste”, acrescentando que “a eleição de novos governadores significa que o Nordeste quer renovação e esta reunião representa o começo dessa renovação”.
Wagner disse ainda que “o Nordeste tem historicamente o sonho do seu desenvolvimento, que passa também pelo processo de industrialização, para que processo migratório não se transforme em dramas urbanos, não só no Sudeste como no próprio Nordeste, em cidades como Salvador e Recife”.
O governador Marcelo Déda disse que “o Presidente Lula está nos convocando a todos – empresários, trabalhadores, governantes – para trazer propostas para mesa, para avançar na perspectiva do desenvolvimento sustentável, com metas adequadas e factíveis, sem pacotes”, destacando que “o controle dos gastos públicos não pode ser um fim em si mesmo num país como o Brasil, deve ser o alicerce de uma política consistente de desenvolvimento econômico e social”.
Projetos de desenvolvimento
O deputado Inácio Arruda (PCdoB-CE) foi mais pragmático em sua fala na defesa da recriação da Sudene. Ele enumerou os diversos projetos que podem representar o desenvolvimento da região. “Tem grandes obras para o Nordeste, como a integração de bacias, que exigem ação conjunta e se não tem órgão como esse não terá solidariedade materializada entre os nordestinos”.
Outros exemplos citados por Inácio foram da transnordestina e dos portos do Pecém, no Ceará; Suape, em Pernambuco e Aratu, na Bahia. “Isso une malha rodoviária e portuária, mas para alcançar isso, só é possível com discussão e planejamento sistemático de toda a região”, explicou.
O senador do Ceará disse que essas obras vão “viabilizar uma região portuária que pode criar as condições de competitividade do Brasil com os grandes mercados atuais – Ásia, Europa e Estados Unidos”. Ele queixou-se da resistência do governador eleito de São Paulo – o tucano José Serra – ao projeto que se assemelha ao processo de desenvolvimento dos países conhecidos como tigres asiáticos.
Inácio citou ainda o exemplo do turismo, “que exige planejamento conjunto, ações combinadas, para não estourar um estado e deixar outro abandonado. Todos tem potencial para desenvolver turismo”, afirmou, destacando o papel da Sudene na conjunção das ações de desenvolvimento dos estados nordestinos.