Garapa Coletivo: experiências de arte e jornalismo na rede


Em Fortaleza, o grupo paulista discute e experimenta as possibilidades narrativas da internet

Pendendo, já, para seu lado a queda de braço pela atenção do público – na difusão das artes, no jornalismo, na comunicação em seu sentido amplo – a internet é uma fonte ainda pulsante para inovação: na linguagem, nos recursos e nas possibilidades de apresentação da informação. Este terreno ainda movediço e aberto à experimentação vem impulsionando, desde de 2007, os trabalhos do grupo paulista Garapa Coletivo Multimídia. O grupo inova não apenas no conteúdo, mas na maneira de apresentá-lo ao público – desenvolvendo formatos específicos para cada ação.


Leo Caobelli, Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes, jornalistas integrantes do Garapa Coletivo Multimídia. Abaixo, fotos do projeto “Morar”

Até domingo, eles trazem à tona questões ligadas ao tema e compartilham experiências audiovisuais no workshop “Narrativas Digitais”, que ministram na sede da Caixa Cultural de Fortaleza. As inscrições estão encerradas e o grupo já se reúne a partir de hoje no centro cultural, entre 14 horas e 18 horas, dividindo o tempo entre discussões teóricas e a realização, na prática, de um produto audiovisual. No fim do processo, eles finalizam o trabalho, que será incorporado às demais ações do projeto, iniciado em junho passado, e que já passou por São Paulo, Salvador e Belém.

Também hoje, a parir das 19 horas, o Garapa ministra palestra aberta ao público e apresenta, de forma resumida, as ações do coletivo. Formado pelos fotojornalistas Leo Caobelli, Paulo Fehlauer e Rodrigo Marcondes, todos com passagem pela Folha de S. Paulo, o Garapa assina projetos como o “Morar”; “A Margem” (expedição fotográfica pelo rio Tietê), atualmente em exposição Centro Cultural São Paulo; e a série “Mulheres Centrais” (www.mulherescentrais.com.br).

Plataformas

“´Morar´ é um projeto que a gente faz desde 2008. Ele virou exposição, publicação e está online. As pessoas estavam sendo despejadas e acompanhamos processo de desocupação. Depois que o edifício foi demolido, resolvemos levar os moradores para o local”, ilustra Paulo Fehlauer sobre o trabalho, uma espécie de reportagem com narrativa ampliada, que inclui entrevistas, texto, vídeo e fotografias dispostos em uma plataforma própria no site do grupo (www.garapa.org/morar).

“Nas oficinas, a gente sempre parte de uma série de referências, discutindo outros trabalhos, especialmente os feitos para web. A partir dessas referências, das ideias de abordagem do grupo, a gente pensa não só no conteúdo audiovisual, mas também na forma de apresentar para o público em uma página na internet”, explica. As oficinas, completa, além de permitir uma interação com outros realizadores, são também um mecanismo de criação.

Outro exemplo de como o conteúdo é trabalhado, ilustra, foi o projeto “Praça da Sé 1”, resultado do mesmo workshop de Fortaleza, realizado em São Paulo no ano passado. Os vídeos são acessados através de quatro pontos do mapa da Cidade exposto no site garapa.org/se. “A gente, nesse caso, tinha relação especial com São Paulo, com a praça, e abordamos quatro pontos diferentes da praça”, diz.

Transição

Da redação convencional dos jornais ao desenvolvimento de plataformas web por meio do coletivo, narra Paulo, houve um processo que partiu da descoberta do vídeo, para além da fotografia, e em decorrência deste, dos recursos possíveis na internet e das outras possibilidades de narrativas, a partir daí. “A proposta do grupo é discutir um pouco a construção de narrativas e o trabalho em coletivo. Nas oficinas, a gente costuma criar um grande coletivo com os participantes. A ideia é que as pessoa passe por todas as etapas da produção multimídia independente”, detalha o jornalista. Um tema pertinente sobre a cidade é escolhido durante a oficina e a partir dele a maneira de explorá-lo e apresentá-lo ao público.

O Garapa costuma dividir suas atividades entre o viés autoral e outro comercial. Segundo Paulo, existe já uma demanda de empresas interessadas em pequenos documentários, produção de vídeos curtos para web e produtos desta natureza capazes de dar sustentação comercial a este tipo de trabalho. A parte autoral, explica, tem uma natureza mais experimental e lança mão também das leis de incentivo para se viabilizarem. “Tem um jogo em que uma coisa meio que alimenta a outra, tanto esteticamente quanto financeiramente”, reforça.

Apesar da popularização da internet e da força que ela vem ganhando com o público, para ele, o setor tem muito que avançar. “Existe bastante gente produzindo, mas de maneira experimental, meio na raça, tentando abrir espaço”, avalia. Carência que, por outro lado, é positiva, exatamente por abrir espaço ao novo. “Qualquer pessoa que queira, pode começar uma produção independente”, garante.

Mais informações:
Workshop “Narrativas Digitais”. Às 19 h, palestra de abertura aberta ao público na Caixa Cultural Fortaleza (Av. Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema). Contato: (85) 3453-2770

Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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