Futebol e ditadura: resgate da memória histórica


O Ceará foi o Estado escolhido para homenagear o primeiro jogador brasileiro anistiado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça que enviou a Fortaleza representante para isso. Trata-se do ex-jogador Nando (Fernando Antunes de Coimbra), irmão do também ex-jogador Zico Antunes. A homenagem é do Centro Cultural Ceará Sporting Club, em conjunto com a Associação 64/68 – Anistia e os governos do Estado e de Fortaleza. Às 20h, hoje, será lançado o livro Futebol e Ditadura, na Assembleia Legislativa do Ceará. As homenagens prosseguem amanhã.
 
O registro deve-se não só ao fato de o Estado do Ceará acolher o primeiro evento dessa natureza, assim como da sensibilidade de um clube futebolístico prestar uma homenagem desse tipo a um ex-craque seu, mas pelo valor simbólico do ato que resgata a memória de uma fase obscura da história do País, cuja intolerância se espraiou por todos os segmentos da sociedade, atingindo até mesmo a área esportiva.
 
O esporte sempre foi uma atividade lúdica que todos os regimes – e governos – sempre procuraram utilizar em proveito próprio por ser um elo com as grandes massas. No Brasil da época ditatorial, não seria diferente: o futebol, por estar na alma nacional, foi o principal alvo dessa investida. Tentou-se associá-lo a uma política de ufanismo nacional para identificar seus sucessos com os do próprio regime. Foi a época do “Brasil – ame-o ou deixe-o”, ou “Pra frente, Brasil”, procurando, sublinarmente, carimbar como impatrióticos os críticos do regime.
 
Não foram poucos os jogadores e técnicos de futebol vistos com desconfiança pelo regime, basta lembrar o técnico João Saldanha, tido como homem de mente progressista e por isso alvo da má vontade dos poderosos de então. No caso de Nando, as restrições se deviam ao fato de ele ter participado, como professor, durante o governo Goulart, do Plano Nacional de Alfabetização, que utilizava o método Paulo Freire de alfabetização, considerado “subversivo” depois do golpe.
 
Quando quis fazer carreira no futebol (era considerado um craque de grande futuro) sua vida profissional foi prejudicada nas várias tentativas feitas para levá-la adiante e terminou detido pela repressão naqueles tempos de intolerância.