O presidente da Bolívia, Evo Morales, substituiu na noite da segunda-feira cinco ministros de seu governo, entre eles o da pasta de Hidrocarbonetos, em meio à crise política que já afeta o abastecimento de gás no país.
O membro do partido governista MAS (Movimento ao Socialismo), Saul Ávalos, substitui Carlos Villegas, que, minutos antes, reiterara que o abastecimento de gás para o Brasil e a Argentina estão "normais" e "garantidos", apesar dos protestos da oposição.
Villegas volta ao cargo de ministro do Planejamento do Desenvolvimento, que ocupou antes de assumir a pasta que administra petróleo e gás no país.
Na pasta da Saúde e Esportes, assumiu Ramiro Tapia; Susana Rivero, em Produção e Pequena Empresa, e Carlos Romero em Desenvolvimento Rural, Agropecuário e Meio Ambiente. Todos os demais ministros foram ratificados por Morales em seus cargos.
A dança das cadeiras no ministério de Morales – especialmente na área de hidrocarbonetos – surpreendeu políticos e analistas. Foi a terceira reforma ministerial do atual governo em dois anos e meio de gestão, desde a posse em janeiro de 2006.
Moderação
Na pasta de Hidrocarbonetos, Villegas era visto como "moderado" por interlocutores de países vizinhos. Ávalos ficou mais conhecido durante a Assembléia Constituinte, da qual foi integrante e defensor das propostas do governo.
Em maio passado, ele foi designado pela administração central como "interventor" (equivalente a diretor, colocado pelo presidente) da Companhia Logística de Hidrocarbonetos da Bolívia (CLHB). A empresa foi nacionalizada e controla quase vinte locais de armazenagem de combustíveis, além de oleodutos, que abastecem o mercado boliviano.
"Quero fazer um pedido, especialmente ao ministro do Planejamento, e a todos os demais ministros, que devemos erradicar a extrema pobreza", disse Morales, num discurso no palácio presidencial Queimado, em La Paz.
O presidente pediu ainda que as novas autoridades trabalhem para que não falte nada aos bolivianos.
Crise política
No turbilhão de uma renovada crise política, opositores ao governo Morales bloqueiam estradas e ocupam prédios públicos em protesto contra o corte no repasse de verbas do setor petroleiro. O governo argumenta que os recursos são usados para pagamento de benefício aos aposentados.
Em meio a um clima tenso, o chefe das Forças Armadas, general Luis Trigo, disse à imprensa boliviana que os prefeitos (governadores) das regiões que realizam manifestações devem "dialogar" com o governo.
"Pedimos o diálogo e que se evitem enfrentamentos", afirmou. "Temos que proteger áreas vitais do país, como a infra-estrutura, os recursos energéticos. Por isso, pedimos cabeça fria para negociar. E vamos evitar os enfrentamentos porque o pior seria que ocorram mortes."
Na segunda-feira, representantes da oposição, como o presidente da União Juvenil Cruzenha, David Sejas, disse à BBC Brasil que havia disposição de "enfrentar" os militares para se chegar às válvulas que garantem o abastecimento de gás a Brasil.
O mesmo foi repetido, mais tarde, por outros representantes da oposição no Departamento (Estado) de Santa Cruz, reduto da oposição a Morales.
"Se não tivermos outra alternativa, se o governo insistir em não repassar estes recursos e mudar a Constituição, vamos, sim, para o enfrentamento (contra militares que fazem a segurança das regiões gasíferas)", disse um deputado opositor, em entrevista a uma das emissoras de rádio da Red Erbol, de La Paz.