Quarenta e dois anos depois do golpe militar de 1964, Aracaju se torna a primeira capital a ter um prefeito comunista. A cerimônia de posse do prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) aconteceu na tarde desta sexta-feira (), no Palácio Inácio Barbosa, sede do Executivo municipal. O ato de transmissão do cargo ao vice-prefeito marca a saída do prefeito Marcelo Déda (PT), que disputará o governo de Sergipe, e a formação de uma frente política mais ampla, coligando PT, PCdoB, PSB, PL, PTB e PCB.
O ato assumiu a forma de uma manifestação de massas. A multidão (veja a foto) concentrou-se em frente à sede da Prefeitura. E depois da posse acompanhou o ex-prefeito Marcelo Déda até a sua residência, no início da noite, numa caminhada simbólica..
“Saio porque tenho uma tarefa a cumprir, porque ouço uma batida diferente no coração do povo de Sergipe, que diz mudança, mudança, mudança”, declarou Déda, ao se despedir da administração aracajuana. Para o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, o ato é histórico porque reveste-se de dois grandes significados. “Significa primeiro que a posse de Edvaldo marca um momento importante de expansão do nosso Partido. Segundo, que Aracaju se destaca no Brasil por ser uma cidade bem administrada. E esse é um argumento muito forte que vale mais do que qualquer discurso para a candidatura de Marcelo Déda”, aponta Rabelo, que viajou a Aracaju para participar do ato de ontem.
Pesquisa mostra Déda 17 pontos na frente
Na última pesquisa divulgada pelo Dataform, instituto de pesquisa vinculado ao jornal Cinform, que circula em Sergipe, Déda apareceu com 17 pontos de dianteira sobre o atual governador João Alves Filho (PFL) – 48% contra 31%. A eleição tende a ser bipolarizada. “A experiência bem-sucedida em Aracaju criou uma expectativa de que ela também pode ser repetida em Sergipe. O Estado está dividido com a real possibilidade de se romper com a política das oliguarquias representada pelo governador João Alves”, situa a vereadora de Aracaju pelo PCdoB, Tânia Soares.
Reeleito em 2004 com 71% dos votos dos aracajuanos, Déda, que já foi deputado federal por duas vezes, deixa a Prefeitura de Aracaju depois de cinco anos e três meses de gestão. No seu discurso de posse na Câmara de Vereadores, Edvaldo se comprometeu a manter o perfil da administração que transformou Aracaju, segundo uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas em 2005, na melhor capital do Norte-Nordeste em matéria de qualidade de vida.
“Darei continuidade a esta administração que ousou mudar a face da cidade com participação popular e com rigor com o dinheiro público. Meu compromisso é tornar Aracaju uma cidade de todos e ampliar ainda mais as áreas sociais”, afirmou Edvaldo, que exerceu duas vezes o mandato de vereador em Aracaju e entrou na militância comunista através do movimento estudantil, no início da década de 80.
Direita há 20 anos “não põe os pés na prefeitura”
Edvaldo também enalteceu as tradições progressistas da cidade: “Desde a redemocratização [em 1985] a direita não põe os pés na prefeitura e certamente levará muito tempo para assim fazê-lo”, prognosticou.
Na avaliação do deputado federal Jackson Barreto (PTB), o fato simboliza um projeto maior de perspectivas de mudança na vida política do Estado. “É um momento histórico para o PCdoB e abre caminho para um passo mais largo para Sergipe e para o Brasil, porque possibilita uma aliança ampla de forças para a conquista do governo de Sergipe, tendo a frente a liderança de Marcelo Déda”, acredita o líder da bancada do PCdoB na Câmara Federal, Inácio Arruda (CE), também presente em Aracaju.
Além do presidente nacional do PCdoB e do líder da bancada do Partido na Câmara Federal, a cerimônia de posse do novo prefeito contou com a presença do presidente da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, do vice-prefeito de Recife, Luciano Siqueira, da prefeita de Olinda, Luciana Santos, do presidente da UNE, Gustavo Petta, e de diversos parlamentares federais, estaduais e municipais.