Começa em Brasília 7º Congresso da UBM


Sob a inspiração de Loreta Valadares, que deu nome ao evento, foi aberto o 7o Congresso Nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), na tarde desta quinta-feira (), em Brasília. Os discursos, as denúncias e palavras de encorajamento à luta, inflamaram a platéia de mulheres de todos os estados brasileiros que lotou o auditório Nereu Ramos – o maior da Câmara dos Deputados. O Senador Inácio Arruda também compareceu à abertura do Congresso.

O discurso do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, que defendeu o empoderamento das mulheres, “porque só se faz alguma coisa com poder”, justificou, levantou o público. Aplaudido em pé, as palavras do dirigente comunista foram de encorajamento para a persistência na luta pela emancipação da luta e de toda espécie de opressão. “Nós sabemos da carga que a mulher precisa se desvencilhar para poder fazer política”, disse Renato, lembrando a tripla jornada da mulher que milita.

A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que falou em nome da bancada feminina do Partido, conclamou as mulheres a lutar pelo poder nas eleições de 2008. As músicas, aplausos, risos e choros – as denuncias e os discursos mais inflamados arrancaram lágrimas das militantes –  eram interrompidos pelo bordão de Cândida Serrão, da delegação do Rio de Janeiro: “As mulheres podem?”, que recebiam em uníssono a resposta: “Podem”.

Caso emblemático

O caso recente da jovem de 15 anos durante um mês com cerca de 20 homens no Pará foi destacado como um caso emblemático do tratamento dispensado às mulheres no Brasil. Para Renato Rabelo, o caso remete a sociedade brasileira à uma condição de bárbarie.

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que participou do evento como coordenadora da bancada feminina na Câmara, lembrou outros fatos recentes que demonstram a situação de desigualdade e injustiça que atinge às mulheres. Ela citou o juiz de Sete Lagoas (MG), Edilson Rodrigues,  que se recusa a cumprir a Lei Maria da Penha e as declarações do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que defendeu o aborto para reduzir a violência no Estado, acusando as mulheres pobres de serem “fábricas de bandidos”.

Ela lembrou a figura de Zumbi dos Palmares, comemorado esta semana no Dia nacional da Consciência Negra – 21 de novembro – como inspiração para a luta emancipacionista das mulheres e de todos os oprimidos.

A embaixadora da Palestina no Brasil, Mayada Bamie, homenageou e foi homenageada na abertura do Congresso. Ela fez uma saudação às mulheres da UBM em nome de 109 entidades de mulheres do mundo. E recebeu homenagem da deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que lembrou a luta do povo palestino contra a opressão israelense e norte-americana.

Também a deputada Jô Moraes – a primeira presidente da UBM -, que completa 20 anos de existência, recebeu homenagem da atual presidente, Eline Jones.

A música da chegada foi uma paródia do samba “Ó abre alas que eu quero passar/ Ó abre alas que eu quero passar/ Eu sou da luta não posso negar/Sou UBM venho prá lutar”. A saída foi embalada pela música “Maria, Maria”,  que elas cantavam enquanto deixavam o auditório, em meio a beijos, abraços e cumprimentos: “… uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”.

Grande homenagem

As grandes homenageadas – lembradas em todos os discursos, foram as participantes – cerca de mil mulheres – que vieram de todos os 27 estados brasileiros. Carregando filhos, bagagens e muita disposição, elas vão se reunir durante três dias – até domingo (), em Luziânia (GO), para discutirem “A Participação Política da Mulher e o Poder”, “Mulher e o Mundo do Trabalho: Visão Emancipacionista” e “A União Brasileira de Mulheres: Concepção, estruturação e fortalecimento”.

Mesas temáticas simultâneas discutirão outros temas de importância para a mulher e o seu desenvolvimento na sociedade, como Saúde das Mulheres, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Imagem Social da Mulher e a Democratização da Mídia; Violência de Gênero; Educação e Gênero e  Justiça Ambiental e Social com Abordagem de Gênero.

Três desafios

Kátia Souto, da direção da UBM nacional, elenca três grandes desafios para a entidade. O primeiro desafio é no campo teórico. “Não podemos imaginar que a luta contra a violência contra a mulher não faça parte da luta contra a violência social, contra a desigualdade social e por um mundo do trabalho que insira a mulher na sua condição de sujeito da história”, explica.

E acrescenta que “essa luta inclui também os aspectos culturais que tanto reforçam a imagem de subalternidade, de submissão”, defendendo a educação como “instrumento fundamental para a transformação dessa cultura discriminatória”.

O segundo desafio é saber traduzir em ação política essa concepção. “Para isso, é preciso estabelecer bandeiras de luta que expressem essa linha política”, afirma a líder feminina.

O terceiro desafio é alcançar equilíbrio entre a luta pela emancipação social e a luta pela emancipação das mulheres. A dirigente identifica como uma grande dificuldade inserir na luta emancipacionista feminina as mulheres que atuam em outras lutas sociais, como a sindical, a estudantil, a comunitária entre outras. A proposta é incluir em todas essas frentes de atuação a discussão sobre os processos discriminatórios que no cotidiano existem e como construir nesse espaço a luta emancipacionista da mulher.