Cearenses debatem com embaixador a experiência de luta do Vietnã


O embaixador vietnamita, Nguyen Van Huynh, empolgou centenas de pessoas que lotaram o auditório da Casa Amarela, da Universidade Federal do Ceará, na noite da última terça-feira (), quando falou sobre a luta do seu povo, os 30 anos da vitória sobre o imperialismo norte-americano e a luta de libertação nacional. Metade dos que compareceram militou nos anos 60 do século passada e participou dos protestos contra a agressão ianque; a outra metade, composta de jovens, foi ouvir o embaixador falar da epopéia que foi a vitória do seu povo, provando ao mundo que o imperialismo norte-americano não é invencível, notadamente quando a causa de quem luta é justa.


Muito simpático, o embaixador começou sua exposição afirmando que parecia até que conhecia Fortaleza, dada a semelhança com a sua cidade natal, costeira como a capital cearense, e também pela hospitalidade dos cearenses.


A libertação custou caro


Van Huynh falou sobre a história milenar do seu povo, triste, com a perda de milhões de patrícios assassinados pelos imperialistas franceses e ianques. Lembrou que os franceses foram derrotados e expulsos em 1940, mas a independência nacional foi conquistada somente em 1945 (No próximo dia dois de setembro eles comemoram os 60 anos de independência). No entanto os franceses voltaram e eles tiveram de lutar mais nove anos até a vitória definitiva em 1954, porém só a metade do país foi liberada, ficando o norte com os socialistas e o sul ocupada pelos norte-americanos.


A ocupação ianque durou 21 anos até a data histórica em que o último invasor deixou o país – 30 de abril de 1975. Portanto os vietnamitas só conheceram a paz há 30 anos. A guerra deixou muitas sequelas: mais de 3 milhões de mortos, muitos sacrifícios, milhões de contaminados pelo agente laranja – arma química usada pelos norte-americanos -, existindo ainda hoje 350 mil contaminados, além da destruição da economia do norte.


O “milagre vietnamita”


Mas a luta dos vietnamitas serviu de lição para todo o mundo, e nos últimos 10 anos a economia cresce a uma taxa de 8%, perdendo apenas para a da China, que é a que mais cresce no mundo. Hoje não existe mais fome e o Vietnã ainda exporta um terço do que produz. Este ano foram exportados 700 mil barris de petróleo e no ano passado 4 milhões de turistas visitaram o país.


O Vietnã mantém relações diplomática e comercial com um grande número de países, inclusive com os Estados Unidos. Foi visitado no ano 2000 pelo então presidente norte-americano Bill Clinton, enquanti o primeiro ministro vietnamita visitou Washington em junho deste ano, e já foi inaugurado um vôo direto São Francisco -Hanói. O comércio com a China no ano passado atingiu a cifra de U$ 6 bilhões, estando previsto para o próximo ano U$ 10 bilhões.


Brasil foi o primeiro a reconhecer


O auditório vibrou quando o embaixador informou que o Brasil foi o primeiro país latino-americano a restabelecer relações diplomáticas com o Vietnã, há 16 anos, abrindo embaixada em Hanói. Nguyen Van Huynh afirmou que há uma semelhança muito grande entre os vietnamitas e os brasileiros e que os jovens de lá gostam muito dos jogadores brasileiros e que ele, muito novo, conheceu o Pelé. Informou ainda que 15 jogadores brasileiros atuam no seu país e, brincando, disse que os de lá são melhores.


As primeiras idéias que os vietnamitas têm do Brasil, segundo afirmou, são o Amazonas e o café, produto que somente há 15 anos eles cultivam, mas já exportam a metade do que é produzido aqui. Lá o consumo de café é pequeno porque o chá predomina há milênios. Eles produzem também caju e camarão. Para estreitar mais as relações com nosso país, no ano passado o presidente Vietnamita visitou o Brasil.


O embaixador vietnamita observou que o seu país ainda tem problemas sociais, e disse que a exemplo do Fome Zero daqui, lá eles também têm programa de erradicação da fome, que há 10 anos atingia um terço da população e hoje varia entre 10% e 15%. As relações comerciais com o Brasil, em 2002, atingiram a cifra dos U$ 20 milhões e este ano chegarão a U$ 100 milhões, o que, para ele, ainda é pouco.


Almoço com o governador


Ontem (), o governo do Estado ofereceu um almoço ao embaixador. Acompanhado do primeiro secretário da Embaixada da República Socialista do Vietnã, Hô Xuân H’ai, ele foi recebido pelo governador Lúcio Alcântara em audiência. Van Huynh conversou ainda com empresários cearenses no Centro Industrial do Ceará e hoje será recebido em audiência pelo secretário de Desenvolvimento Rural, Carlos Matos, retornando a Brasília às 14h30min.


A conferência do embaixador vietnamita em Fortaleza foi articulada pelo deputado federal Inácio Arruda (PCdoB) e contou com o apoio do Instituto Maurício Grabois, Casa de Amizade Brasil-Cuba e Associação 64/68 Anistia-Ceará, presididos respectivamente pelo advogado Benedito Bizerril, sociólogo Mário Albuquerque e advogada Olga Nunes. Dirigentes do PCdoB, PCB, PT e PSB, líderes sindicais, empresariais, estudantis e comunitários participaram do evento e fizeram perguntas ao embaixador sobre a luta de libertação nacional, a vida, os costumes e principalmente sobre a experiência socialista.