Campanha de Lula abordará escândalos dos governos Alckmin e FHC


A campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai estimular o debate sobre ética na administração pública contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e representantes pefelistas da coligação. Os petistas vão se armar com as denúncias de corrupção do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (-2002) para impedir desgate eleitoral de Lula com o escândalo do dossiê.


“Será uma belíssima oportunidade para debate sobre ética. Ao contrário do que pensam alguns adversários nossos, o debate ético nos interessa porque teremos a oportunidade de verificar quem teve coragem de investigar, cortar na própria carne e proporcionar punições para pessoas próximas do partido governante e de todos os envolvidos. Além disso poderemos perguntar por que a compra de votos da reeleição foi abafada pelo Fernando Henrique e por que as CPIs foram vedadas no governo anterior”, afirmou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.


Além do escândalo da compra de votos para a aprovação da emenda da reeleição, a campanha de reeleição vai usar como munição a denúncia de que o governo Fernando Henrique abasteceu com US$ 1,6 bilhão os bancos Marka e Fonte-Cindam antes da desvalorização do real. O dono dos dois bancos Salvatore Cacciola está foragido da Justiça brasileira. Não bastasse, serão usados o escândalo da privatização do Sistema Telebrás e os desvios de recursos públicos das extintas Sudam e Sudene.


A estratégia também será questionar os motivos pelos quais o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin evitou a instalação de dezenas de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) sobre escândalos na administração estadual.  No total, são cerca de 60 CPIs que não tiveram a instalação concretizada na Assembléia Legislativa paulista. Tudo isso não será arma somente nos debates, a idéia é levar essa discussão aos programas do horário eleitoral gratuito.


“Não é razoável que o país seja induzido a esquecer que essa gente da coalizão PSDB e PFL é responsável pelos mais graves recentes escândalos impunes da história republicana do país (…) Em todos esses escândalos, eu estou falando de bilhões desviados”, disse o ex-ministro e deputado eleito pelo Ceará Ciro Gomes (PSB), ao deixar reunião no Palácio do Alvorada na noite de segunda-feira.


Ciro é um dos novos reforços que a coordenação de campanha nacional recebeu para estabelecer as novas estratégias para o segundo turno. Ele é um responsáveis pela idéia de se levantar o debate sobre a corrupção no governo anterior. A posição é uma maneira de evitar que Lula fique acuado nas discussões e vá para o ataque contra os adversários.


 


“Iremos a campo”


O deputado eleito pelo PSB vai se juntar ao governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, para reforçar a campanha nacional, comandada por Marco Aurélio Garcia. Cada um ficará responsável por uma estratégia agressiva no Nordeste e estarão disponíveis para fazer campanha nos outros estados. Tanto Ciro quanto Jaques Wagner disseram que desejam “ir a campo” ao invés de ficarem parados em Brasília.



A idéia é também contar com o fôlego de outros candidatos nos estados do Sul e Sudeste. O candidato do PMDB ao Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que disputará o segundo turno com a deputada Denise Frossard (PPS), anunciou que apoiará Lula. A campanha quer a formalização do governador reeleito do Espírito Santo, Paulo Hartung. Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy cuidará com mais afinco da campanha para tentar melhorar o desempenho de Lula, sobretudo no interior.


O problema ainda é o Rio Grande do Sul, onde, apesar de o ex-governador Olívio Dutra (PT) ter ido para o segundo turno, o PT deve ter votação bem abaixo da candidata do PSDB, Yeda Crusius, segundo analistas. Isso dificultaria os esforços para aproximar a diferença de votos de Lula para Alckmin, que no primeiro turno foi superior a 22 pontos percentuais.


Para Jaques Wagner, bastará a comparação com o governo Fernando Henrique para reverter a tendência de crescimento do ex-governador de São Paulo e de encolhimento do presidente-candidato nos estados do Sul e Sudeste. “O Alckmin representa um projeto antigo capitaneado por oito anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”, afirmou o futuro governador baiano.


No Centro Oeste, onde Lula foi derrotado por 51,59% a 38,49%, a estratégia é aproximar-se dos governadores Blairo Maggi (PPS), do Mato Grosso, reeleito, e de André Puccinelli (PMDB), do Mato Grosso do Sul, eleito em primeiro turno derrotando o senador Delcídio Amaral (PT). Em Goiás, o PMDB do candidato Maguito Vilela já anunciou que pedirá votos para o presidente.


Maggi e Puccinelli foram convidados para o encontro de quarta-feira pela manhã no Palácio do Alvorada, mas ainda não confirmaram presença. A avaliação é que Maggi é essencial para reverter a tendência alckmista entre os empresários do agronegócio.


Estão previstos no encontro no Alvorada, Jaques Wagner, e outros governadores eleitos como Marcelo Miranda (PMDB), do Tocantins; Wellington Dias (PT), do Piauí; Marcelo Déda (PT), do Sergipe; Binho Marques (PT), do Acre; Cid Gomes (PSB), do Ceará; Eduardo Braga (PMDB), do Amazonas.