Dom Helder colocou sua vida nas mãos de Deus com muita disposição interior e com muita generosidade a exemplo do profeta Jeremias que, também, ofereceu a Deus sua vida sem medir esforços mesmo diante dos conflitos, dos sofrimentos, das dores e das incompreensões. Eis aqui a razão do lema de seu episcopado: In Manus Tuas – Em tuas mãos – que ele viveu, em toda sua plenitude, com rigor e coerência.
Jeremias, diante das exigências, da violência e da opressão, disse, numa paixão muito profunda: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7) e Dom Helder, sobre Deus, afirmava: “Teu nome é e só podia ser Amor”. Por isso, agarrou-se, com todas as forças, no amor de Deus e por Ele deu sua vida, foi – lhe fiel e perseverou nessa fidelidade até o fim.
Desde os primeiros dias de sacerdote, ordenado no dia 15 de agosto de 1931 com 22 anos de idade, trabalhou de modo incansável, dedicou-se aos mais simples, aos operários, aos letrados da sua cidade – Fortaleza – e foi, a partir daí toda “uma vida pelos irmãos”.
Em 1936, partiu para a cidade do Rio de Janeiro e lá teve um objetivo a perseguir: a luta em defesa dos menos favorecidos, dos excluídos e dos esquecidos. Agiu, não só com palavras, sempre oportunas e confortadoras, dirigidas, especialmente, às pessoas de boa vontade, mas, sobretudo, com ações concretas. Basta olhar para os organismos que ele fundou, os projetos que executou e as campanhas que promoveu.
Em 1964, ao chegar à Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Helder dizia: “A música é divina! E se a música ajudasse?” Então foi ao encontro do compositor suíço, Pierre Koelin, com uma vontade enorme, buscando criar um mundo mais justo, mais fraterno e mais humano. Assim nasceu a belíssima “Sinfonia dos Dois Mundos”. O movimento de Evangelização “Encontro de Irmãos” foi a menina dos olhos do grande pastor dos empobrecidos, porque aí ele via os “pobres evangelizando os pobres”.
E a “Operação Esperança”? Ela nasceu num momento de desespero, como uma urgente necessidade de criar sinais de vida e de esperança no meio da população marcada pelo sofrimento e pela desesperança.
Dom Helder, pequeno na estatura, mas grande nos sonhos, nos ideais e na santidade, colocou sua vida nas mãos do Pai com a firme convicção e com a inabalável certeza de que a pessoa humana é objeto do amor de Deus.
Percebendo, também, claramente, que ela é sujeito da sua própria história, procurou sempre valorizá-la como instrumento desse amor e, ao mesmo tempo, numa grande súplica, desejava que o Reino de Deus fosse implantado e que se tornasse a realidade mais bela, bonita e solidária, sonhada pelo Pai. Que o centenário de seu nascimento, celebrado a 07 de fevereiro de 2009, produza em nós os frutos que esperamos.
Pe Geovane Saraiva
Pároco de Santo Afonso
Pe Francisco Geovane Saraiva Costa, nascido aos 30 de Outubro de 1956, em Capistrano-CE, filho de Agapito Saraiva Costa e de Maria Eliete Saraiva.