Quando criança, lia os livros deixados pela tia Titilita, professora de língua portuguesa que injetou na menina o gosto pelas letras – ainda em prosa. “Lembro do impacto que Clarice Lispector me causou, para sempre, quando li A mulher que matou os peixes”. De ouvir e de ler se fez a artista, que encanta pela voz marcante e pelo trânsito fácil entre os universos infantil e adulto.
Desta vez, ela organiza e ilustra a Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira – voltada para crianças de qualquer idade, diga-se. O lançamento ocorre nesta quarta-feira, às 16 horas, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Calcanhotto participa ainda de debate sobre música e poesia, além da sessão de autógrafos. No dia seguinte, na Praça Verde do CDMAC, às 21 horas, ela apresenta Olhos de Onda, seu novo show.
Antologia

Antes ainda de começar o livro, ali entre a dedicatória e a apresentação, a cantora dá o indício de onde vem a relação com a poesia. É de Oswald de Andrade o poema “Erro de Português”, que abre a antologia assinada por ela. “O primeiro poeta de quem comprei um livro, pelo Círculo do Livro, foi ele”, diz Calcanhotto em entrevista ao O POVO.
 

No entanto, é para Vinícius, seu poeta preferido, cujo centenário de nascimento é celebrado este ano, que ela dedica a obra. Além, é claro, da tia que foi a responsável pelo apreço da cantora pelos livros. Na antologia, “pessoal e intransferível”, Adriana procurou reunir os autores em ordem cronológica, “para reverberar os ecos de um poeta em outro, de um poema em outro, de uma geração à outra e depois mais outra, através do tempo”, explica na apresentação.
Daí a seleção começar por Gonçalves Dias e o clássico “Canção do Exílio” e encerrar com Gregório Duvivier em “Receita para um dálmata”. No caminho entre os dois, Olavo Bilac, Mário de Andrade, Vinícius, Paulo Leminski, Cacaso, Eucanaã Ferraz, entre outros tantos. O critério para os poemas escolhidos foram as ilustrações, concebidas para cada um dos 110 que compõem a antologia. “Os rabiscos são então sempre a primeira imagem que o poema me trouxe”, diz ela.
Quando a organizadora ressalta que a antologia serve a crianças de qualquer idade não é à toa. Segundo ela, “alguns poetas não produziram nada que fale às crianças, lidam somente com o universo adulto”. Exemplo de Murilo Mendes, de quem Calcanhotto conseguiu encontrar apenas um que se aproximasse do público infantil. Mas ainda que não achasse, não haveria problema. Para ela, “a questão não é de entendimento e sim de fruição”.
O contato das crianças com a poesia é fundamental na opinião da artista. “Quando se aprende um poema na infância, ele nos acompanha pra sempre. Assim guarda-se o ritmo, o universo, a voz dos poetas, este é o principal objetivo da Antologia”, observa a cantora, para quem a escola poderia e deveria fazer mais para aproximar o público infantil dos versos.
Show

Olhos de onda, novo show que Adriana Calcanhotto traz a Fortaleza, marca a volta da cantora aos palcos após uma lesão na mão direita. A partir da dificuldade, ela formulou a apresentação acústica, só voz e violão, que estreou em Lisboa. O repertório mescla sucessos conhecidos, como “Devolva-me” e “Mentiras”, com inéditos.
 

Perguntada sobre o reencontro com o violão, ela diz que a experiência tem sido “Diferente do que era antes, para melhor, quero crer” (risos). Após passar por Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e Angola, em setembro ela deve repetir o espetáculo na Itália, Inglaterra e, de novo, Portugal. “Esta é a turnê que celebra o privilégio de rodar o mundo com minha música”, diz.

 

SERVIÇO

 

Lançamento do livro Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira

Editora: Casa da Palavra
136 páginas

Quando: Hoje, às 16 horas, na Praça Verde do Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar 81, Praia de Iracema).

 

Show Olhos de Onda

Quando: Amanhã, às 21 horas, na Praça Verde.
Ingressos esgotados*

*Segundo a organização do show, a venda de ingressos foi aberta no dia 22 de julho, mas já se encontra esgotada.

 

Fonte: Jornal O Povo