A crise financeira deve estabelecer um novo ambiente de monitoramento e regulação estatal das atividades econômicas, em substituição à situação de grande liberdade de movimentação do capital. A possibilidade de aumento da intervenção do Estado na economia já começa a ser avistada nos anúncios de encampação de bancos norte-americanos e ingleses, nas políticas monetárias de aumento de crédito e nas medidas fiscais expansivas para ativar a produção e estimular o consumo.
O diagnóstico foi traçado no seminário Crise Econômica Internacional promovido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) ontem (), em Brasília. Para os economistas palestrantes, os países latino-americanos não estão no epicentro da crise, mas duas nuvens carregadas pairam sobre o céu do subcontinente: fechamento de postos de trabalhos e aumento de barreiras comerciais entre parceiros regionais.
De acordo com Janine Berg, do Departamento de Estratégias de Emprego da OIT (Organização Internacional do Trabalho), a crise deve levar ao desemprego, ao aumento da informalidade nas contratações e ao descumprimento da legislação trabalhista. Há risco de mais pobreza e deterioração do padrão de vida, e aumento do trabalho forçado e do trabalho infantil. “Não podemos debilitar ainda mais o trabalho das pessoas excluídas”, afirmou.
Oswaldo Kacef, da Divisão de Desenvolvimento da Cepal, não acredita no aumento de “situações extremas” de exploração da mão-de-obra, mas dá como certo o aumento da informalidade e do desemprego. Para Renato Baumann, diretor do escritório da Cepal no Brasil, a crise vai afetar principalmente as mulheres e as pessoas mais jovens. “O desemprego afeta indivíduos com menor capacidade de competir no mercado de trabalho, seja por necessidades familiares, falta de qualificação ou mesmo preconceito”, disse.
A receita para sair da crise, dizem os economistas, é o investimento público. “É preciso o Estado compensar a redução do investimento privado”, acredita Alfredo Calcagno, economista sênior da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). “É hora de fazer políticas expansivas. Não é o momento para ajustes para acalmar mercados. Isso não funcionou nos últimos anos e vai ser menos razoável tentar agora”, afirmou o economista que não teme que o gasto estatal e a queda dos juros possam trazer inflação.
Na avaliação dos economistas, o Estado gastar mais é mais efetivo do que as políticas monetárias de aumento de crédito ou desconto de impostos, que pode ser usado para quitar dívidas ou para a poupança sem incentivar consumo, produção e emprego.
O argentino Alfredo Calcagno defende a maior integração regional e prega contra o protecionismo. “Um risco neste momento é um país impor barreiras contra um país vizinho. A integração regional pode ser uma resposta positiva para superar a crise”. O mesmo ponto de vista tem Renato Baumann, para quem as trocas comerciais regionais podem dar “complementariedade” às economias dos países.