A sessão solene do Congresso Nacional realizada nesta terça-feira () destinada a comemorar o Dia Internacional da Mulher, além de agraciar mulheres que se destacaram na luta pelos direitos humanos e na defesa da mulher, da criança e do adolescente, também prestou uma homenagem especial a Leocádia Prestes.
Mãe de Luiz Carlos Prestes, Leocádia enfrentou a ditadura brasileira e o nazismo alemão, conseguindo resgatar Anita, sua neta, filha de Prestes e Olga Benário. Para receber o prêmio, compareceu à sessão sua neta Zoya Prestes, que foi entregue pelo Senador Inácio Arruda, autor do requerimento de homenagem.
Emocionada, Zoya relembrou a trajetória de Leocádia Prestes na campanha internacional pela libertação do filho e de Olga Benário. Também correu o mundo denunciando as condições desumanas às quais eram submetidos todos os comunistas presos no Brasil e na Alemanha. “Movida por esse amor de mãe, dona Leocádia jamais questionou qualquer decisão do filho. Assim foi em relação à Marcha da Coluna Prestes, em 24, e também quando meu pai resolveu se filiar ao Partido Comunista em 34. Dizia Leocádia: Se meu filho seguiu por esse caminho é porque esse caminho é o caminho certo”, afirmou Zoya.
Ela também leu um trecho do poema “Dura Elegia”, do poeta chileno Pablo Neruda, que foi lida por ele à beira do tumulo de Leocádia Prestes, na cidade do México, em 18 de junho de 1943. Nessa data Luiz Carlos Prestes ainda estava preso no Brasil, e só visitou o tumulo de sua mãe 46 anos depois, seis meses antes dele mesmo falecer:
DURA ELEGIA
por Pablo Neruda
Senhora, fizestes grande, tão grande a nossa América.
Deste-lhe um puro rio de águas colossais
Deste-lhe uma árvore alta de infinitas raízes
Um filho teu, digno de sua pátria profunda.
Senhora, hoje herdamos sua luta e sua dor,
Herdamos seu sangue que não teve descanso
Juramos à terra que te recebe agora
Não dormir nem sonhar até a volta de teu filho
E como em teu colo sua cabeça faltava
Também nos falta o ar que seu peito respira.
Nos faz falta o céu que sua mão mostrava,
Juramos continuar as detidas veias, as detidas chamas que em tua dor crescia
Juramos que as pedras que virão a deter-te
Vão escutar os passos do herói que retorna
Senhora fizeste grande, tão grande a nossa América,
E teu filho algemado combate junto a nós
A nosso lado cheio de luz e grandeza
Nada pode o silêncio da aranha implacável
Contra a tempestade que desde hoje herdamos
Nada podem os lentos martírios desse tempo
Contra seu coração de madeira invencível
O chicote e espada de tuas mãos de mãe
passearão pela terra com um sol justiceiro
Iluminam as mãos que hoje te cobrem de terra
O que feriu teus cabelos trocaremos amanhã
Amanhã romperemos o doloroso espinho
Amanhã inundaremos de luz o tenebroso cárcere que há na terra
Amanhã venceremos e nosso capitão estará junto a nós”