Estados debatem exemplos de ações no semi-árido


As ruas do centro do Crato, a 542 quilômetros de Fortaleza, ficaram estreitas para o cortejo de abertura do VI Encontro Nacional da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (Econasa). Agricultores, participantes de Organizações Não-Governamentais, ambientalistas, técnicos, representantes de movimentos sociais e da Igreja dos 11 estados que compõem o semi-árido (todos do Nordeste, Espírito Santo e Minas Gerais) chamavam a atenção da população, que parou para escutar palavras de ordem como “Reforma agrária, já” e pedidos de acesso à água. Momentos de reflexão e um espetáculo musical reuniram cerca de 800 pessoas, segundo estimativa da organização do encontro. Participantes do VI Econasa se uniram aos da 8ª Mostra Sesc do Cariri para intercambiar experiências.


Nos passos de anônimos da praça Cristo Rei até a Praça da Sé, histórias como a de Maria Luciene de Morais Alves, de Tabira (PE), cidade a 400 quilômetros de Recife, que deixou 18 hectares de terra durante 12 anos para viver em Afogados da Ingazeira. O trabalho na agricultura não dava para sustentar seus cinco filhos. A família decidiu ir para a cidade em busca de serviço. Luciene trabalhou como diarista e em lanchonetes. “Eram 13 horas de trabalho para conseguir um salário mínimo”, conta.


O marido foi para São Paulo trabalhar. Os filhos, que não conseguiam se adaptar à cidade grande, voltaram para o sítio e Luciene, com vontade de retornar a terra, aproveitou para segui-los. Há um ano, ela começou a participar do projeto “Quintais Orgânicos”, em que famílias da localidade produzem hortaliças e frutas orgânicas para vender na cidade, além de criar animais. “Conseguimos até R$ 450 por mês. Meus filhos trabalham comigo”.


O marido, que não queria mais trabalhar na terra, voltou de São Paulo e começou a ajudar no serviço na roça. A família de Luciene e três outras famílias se uniram. Eles plantaram árvores frutíferas como goiaba, graviola, pinha e mamão Havaí para vender também na cidade. “Temos cursos sobre o manejo da terra e assistência técnica que possibilita a reintegração das famílias a terra”.


Assim como o projeto “Quintais Orgânicos” de Tabira (PE), outras propostas estão sendo mostradas e discutidas VI Econasa, que se iniciou ontem, no Crato. O encontro vai até 24 de novembro e reúne 600 participantes. Promovido pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), ele é realizado a cada dois anos e nesta edição tem como tema “Agricultura familiar: tecendo a vida, fomentado sonhos e construindo novas relações sociais no semi-árido”.


Segundo Felipe Pinheiro, da coordenação executiva da ASA Brasil, nestes cinco dias estarão sendo debatidos propostas e processos de como conviver com semi-árido buscando alternativas viáveis para o desenvolvimento local. Exemplo disso, é a implantação de cisternas de placas, que deverá chegar a 200 mil até o final do ano na região do semi-árido. A ASA também coordena os projetos “Uma terra e duas águas” e “Bomba d´água popular” .



O que é a ASA
A ASA nasceu como uma resposta da sociedade às maneiras tradicionais de lidar com o semi-árido. Ela consolidou-se em 200 e hoje congrega 750 entidades de vários segmentos sociais. Todas atuam para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do semi-árido.