Declaração à imprensa emitida pelo presidente Lula


Hanói – Vietnã, 10 de julho de 2008

        Excelentíssimo senhor presidente da República Socialista do Vietnã, Nguyen Minh Triet,

        Senhoras e senhores ministros vietnamitas,

        Companheiros da delegação brasileira,

        Jornalistas do Vietnã e do Brasil,

        Meus amigos e minhas amigas,

Quero, de início, agradecer a gentil acolhida do governo e do povo vietnamita. Em Hanói, minha comitiva e eu recebemos várias demonstrações de carinho. Esta é a primeira visita de um presidente brasileiro ao Vietnã. Por isso, estamos cumprindo uma agenda intensa. Participarei do encerramento de seminário empresarial. Estarei também com o Presidente da Assembléia Nacional, o Primeiro-Ministro e o Secretário-Geral do Partido Comunista.

É uma honra visitar este país e retribuir as visitas que nos fizeram o predecessor do atual Presidente, em 2004, e o Secretário-Geral do Partido Comunista, no ano passado.

O Vietnã tem história que causa respeito e admiração. O povo vietnamita sempre soube defender sua soberania e sua independência. Com a mesma perseverança com que conquistou sua independência, hoje o país se distingue pelo bom desempenho e por elevadas taxas de crescimento de sua economia.

O país se destaca tanto no âmbito regional quanto no plano multilateral. Ocupa, pela primeira vez, um assento rotativo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Tal como o Brasil, orienta-se pelos preceitos fundamentais da Carta da ONU. Ambos os países preconizam um sistema multilateral capaz de dar respostas adequadas aos desafios com os quais nos deparamos.

Juntos, podemos buscar maior legitimidade dos processos decisórios internacionais. É por isso que defendemos que o Conselho de Segurança seja representativo da realidade contemporânea, com países desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do mundo entre seus membros permanentes.

Sentimo-nos honrados com o apoio vietnamita para que venhamos a ocupar assento permanente em um Conselho ampliado.

Essa nossa parceria também se observa no sistema multilateral de comércio. Desde o ano passado, com o ingresso do Vietnã na OMC, temos um aliado importante para pôr fim às distorções no comércio agrícola internacional. O combate à fome e à exclusão social é nossa prioridade número um. Temos mostrado que é possível conciliar crescimento econômico acelerado com redução das desigualdades sociais e regionais. Queremos unir nossas forças por meio do Acordo de Cooperação na Luta contra a Fome e a Pobreza, que assinamos hoje.

A busca do desenvolvimento abre caminho para que trabalhemos juntos também na área dos biocombustíveis. O Protocolo de Entendimento sobre Etanol reflete a vontade de lançarmos as bases de uma nova e promissora parceria entre nossos países.

Os biocombustíveis têm uma relevância especial para países como os nossos. Têm um potencial formidável de geração de empregos; diversificam e democratizam o acesso à energia, diminuindo a dependência mundial de combustíveis fósseis, mais caros e poluentes; contribuem para reduzir as emissões de gases de efeito estufa; e podem ser instrumento essencial para tirar países da insegurança energética e alimentar.

No campo comercial, nossas trocas bilaterais atingiram níveis inéditos nos últimos anos. Entre 2002 e 2007, passaram de 43 para 323 milhões de dólares – um aumento de 650%. Mas nosso comércio ainda está muito aquém do seu potencial. Há grandes oportunidades de negócios para nossos empresários, que poderão ser identificadas e aproveitadas no evento empresarial de hoje.

Nós, governantes, precisamos continuar a estimular nossos homens e mulheres de negócios. Essa é uma das razões principais da minha visita. Precisamos diversificar parcerias e mercados, a fim de maximizar as chances de obtermos benefícios no longo prazo. Além disso, os instrumentos que assinamos hoje abrem caminho para aprofundar nossa cooperação em áreas como ciência e tecnologia, agricultura, saúde e esportes. O estabelecimento de uma Comissão Mista facilitará a coordenação dos mecanismos e iniciativas de consulta e cooperação entre nossos governos.

Outra esfera em que há muito potencial para trabalharmos juntos diz respeito ao Mercosul e Asean. Em novembro, sediaremos a primeira reunião ministerial entre os dois blocos.

Por fim, conversei com meus interlocutores vietnamitas sobre a reunião do G-8, em Hokkaido, da qual o Brasil participou junto com importantes economias emergentes. Discutimos temas muito importantes, como o aquecimento global e a alta do preço do petróleo e dos alimentos. Tenho absoluta convicção de que o Vietnã compartilha conosco a visão de que problemas globais não podem ser solucionados unicamente pelos principais países industrializados.

Por isso, precisamos ter uma atuação conjunta cada vez mais forte na arena internacional, reforçar os alicerces de uma nova parceria Sul-Sul, e construir parcerias estratégicas que unam os países em desenvolvimento.

Meu caro presidente Nguyen Minh Triet,

Eu ainda estou na metade da viagem, mas gostaria de agradecer, do fundo do meu coração, o tratamento carinhoso que tenho recebido aqui. O povo do Vietnã, por tudo que fez nas lutas pela independência e por sua soberania, merece o respeito da Humanidade, porque o que vocês fizeram aqui foi muito mais do que vencer uma guerra, foi uma lição de vida que ensinou a todos os seres humanos que quando queremos uma coisa e temos determinação, nós somos invencíveis.

Desde muito cedo acompanhei a Guerra do Vietnã e posso lhe dizer que fiquei tão orgulhoso da vitória do Vietnã quanto um vietnamita. A vitória de vocês foi a vitória do oprimido e nós nos sentimos co-participantes e muito orgulhosos do significado da vitória de vocês para a Humanidade.

Meus parabéns.