Unasul é passo importante para integração regional


É provável que a Unasul (União de Nações Sul-americanas), cuja reunião encerrou-se na sexta-feira passada no Rio de Janeiro, seja o mais expressivo passo, até agora dado, para a integração dos países da América Latina.

O Mercosul foi uma mera união aduaneira, que enfrentou inúmeros problemas com a volatilidade cambial dos dois principais países – Brasil e Argentina. Nesse ínterim, fortaleceu-se a faceta menos conhecida e mais importante do Mercosul, que foi o Fórum de Ministros do Planejamento, pensando a integração física do continente.

Há tempos tem-se um diagnóstico preciso sobre as zonas de dinamismo no continente – aquelas regiões que, integradas, poderão gerar riqueza e desenvolvimento. Mais especificamente, desde início dos anos 90, com os trabalhos pioneiros de Eliezer Baptista.

Esses estudos foram sendo assimilados no Fórum dos Ministros do Planejamento. E, agora, ganham consistência com a tentativa de dar corpo à idéia da Unasul.

A reunião do Rio foi proveitosa em várias direções. Uma delas, a questão de discutir a segurança do continente, criando um fórum de entendimento que antecedesse a eventual ida dos países em litígio à Organização dos Estados Americanos (OEA).

Esse passo era importante para impedir que a Colômbia continuasse aprofundando as relações militares com os Estados Unidos – o que acabaria por criar um enclave no continente.

Da parte de Hugo Chávez havia a intenção de se criar uma força continental – a exemplo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Prevaleceu a idéia de se ir aos poucos definindo inicialmente um acordo. Reticente no início, a Colômbia acabou aderindo. A morte do principal líder das FARC certamente removerá as últimas resistências ao acordo.

Trata-se do chamado jogo do ganha-ganha – aquele em que todas as partes serão beneficiadas. No campo da defesa, a indústria bélica brasileira ganhará um mercado com escala. Provavelmente haverá acordos de cooperação e trabalho com a indústria argentina.

No campo das obras públicas, faltou um passo mais ousado, da associação da CAF (Cooperação Andina de Fomento) com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A CAF é um banco de desenvolvimento exemplar, bem gerido, com boa classificação de risco. Juntando com o BNDES ampliaria a capacidade de ambos de buscar recursos internacionais para aplicar em obras de integração continental.

De qualquer forma, não haverá dificuldades para financiar essas obras. É mais fácil obter financiamento compartilhados por países, já que as responsabilidades são divididas.

Um ponto acabou causando confusão, no café da manhã do presidente da República, que anunciou um prazo para começar a discutir a moeda única do continente. É importante abrir a discussão, mas uma nova moeda não levará menos de dez anos para ser implantada.

Haverá a necessidade dos países da região terem o mesmo regime fiscal e cambial. É tarefa para muitos e muitos anos.