O traço em Fortaleza”A casa à beira-mar onde hoje funciona um hotel, o prédio que é sede de uma emissora de tv, e o projeto de um museu que não saiu do papel, são o legado de Oscar Niemeyer em solo cearense”
Por mais que, em geral, sejam as grandes obras aquelas que mais marcam a memória e o cenário de uma cidade, um artista como Oscar Niemeyer consegue deixar marcas em nosso imaginário mesmo com projetos inacabados, destruídos ou até não levados adiante. Em Fortaleza, dois prédios têm a assinatura do mais famoso arquiteto do Brasil.
Um terceiro projeto, porém, mesmo com a assinatura de Niemeyer, não saiu do papel. Em 2003, o então governador Lúcio Alcântara iniciou as conversas sobre um museu em homenagem ao homem nordestino. José Carlos Sussekind, engenheiro calculista de Niemeyer, porém, teria sobrevoado Fortaleza e visto o espaço do aterro da praia de Iracema, visualizando a possibilidade de um museu que contasse a relação do cearense com o mar. O projeto do Museu do Mar foi passado para o Governo do Estado em 2004 e, de lá para cá, só fez mudar de mãos e não saiu do papel.
Em 2009, a prefeita Luizianne Lins não concedeu a carta de anuência, licença urbanística necessária para instalação do equipamento. A Prefeitura defendia a construção do museu no Pirambu. Já os técnicos do Governo Cid defendiam a construção no centro turístico da Capital. Segundo o ex-governador Lúcio Alcântara, o projeto era considerado o melhor trabalho recente do arquiteto pelo próprio Niemeyer.
Bem antes do impasse sobre o Museu do Mar, o primeiro grande projeto de Niemeyer foi construído no Nordeste em 1942. Apesar de priorizar projetos arquitetônicos mais robustos, o arquiteto carioca projetou a casa cearense do industrial da cera de carnaúba e filantropo norte-americano Herbert Fisk Johnson Jr. na avenida Beira Mar. De acordo com o arquiteto Romeu Duarte (UFC), em entrevista à coluna Vertical S/A, de O POVO, “era uma casa típica da primeira fase do Niemeyer: prismática, levantada sobre pilotis e com uma rampa interna que interligava todos os três níveis. Havia também uma piscina no térreo, estreita e extensa. Implantada sobre uma elevação do terreno, postava-se sobranceira sobre o mar”.
Hoje, quem quiser ver o desenho original da residência vai ter de recorrer a fotos ou caçar seus traços entre a arquitetura do hotel Mareiro. Na Beira Mar, esquina com a rua Tibúrcio Cavalcante. Desde a fundação do hotel – primeiramente conhecido como Novotel, depois Olympo Praia, hoje Mareiro -, sua arquitetura foi sendo erguida sobre os restos da casa. Aos poucos, com as pequenas demolições e o soerguimento do prédio, esse legado de Herbert Johnson no Ceará sumiu. Outro destaque da casa é ser o primeiro projeto de Niemeyer para o Nordeste. Vale lembrar que a antiga mansão do empresário em Wisconsin (EUA) até hoje está de pé, sendo internacionalmente conhecida como Wingspread, projetada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright.
O que resta de Niemeyer aos cearenses? No pacotão encomendado pelo empresário Adolpho Bloch, dono do antigo “império” Manchete, nos anos 1980, estava o pouco usual prédio erguido no coração do bairro Dionísio Torres. Hoje, abriga a Rede TV!, sucessora às concessões de TV da Manchete. O imóvel mantém-se ativo. Nos anais das obras de Niemeyer, apenas são citados esses dois primeiros projetos construídos em Fortaleza. Entretanto, em 2006, um monumento em homenagem à coluna Prestes assinado por Niemeyer foi inaugurado em Crateús.
SAIBA MAIS
O projeto do Museu do Mar pode ser visto online no link (http://bit.ly/WKmKPX), em que é apresentada uma maquete da obra.
O Povo Online