Ceará pode ter petróleo em duas novas bacias


Duas bacias sedimentares ainda não exploradas no Ceará podem ter a presença de petróleo em seu interior. Não existe, até agora, confirmação do fato, mas a real possibilidade faz com que estudos estejam sendo empreendidos nas áreas desde 2006 por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com a Petrobras.

As pesquisas se voltam para a bacia de Iguatu e de Araripe, esta englobando municípios do Cariri cearense, de Pernambuco, Piauí e da Paraíba.

De acordo com Fernando Lins, professor de pós-graduação em Goeodinâmica e Geofísica da UFRN e integrante do Laboratório de Geologia e Geofísica do Petróleo, a previsão é de que os estudos estejam concluídos em maio de 2010.

´Ainda não foi encontrado óleo nessas duas bacias, mas há a possibilidade. o objetivo das pesquisas, entretanto, não é achar o petróleo em si, mas concluir se as áreas têm condições mesmo de tê-lo´, explica.

O professor conta que a motivação para as avaliações nessas bacias foi o fato de se localizarem próximas à bacia Rio do Peixe, na Paraíba. Nesta, já foi identificada a existência de óleo, sendo, inclusive, incluída na 9ª Rodada de Licitações da ANP (Agência Nacional de Petróleo), na qual 12 blocos, de 19 oferecidos, foram arrematados, no valor de R$ 8,4 milhões. ´Nós estamos querendo saber qual é a correlação entre estas bacias. Pela profundidade semelhante que possuem, há a possibilidade de correlação, de que elas sejam a mesma bacia, ou se são interligadas´, aventa o professor.

Estima-se que as bacias meçam cerca de 2.500 metros de profundidade. ´Nas regiões onde são mais profundas, haveria a possibilidade de haver petróleo´, explica. Mesmo assim, também é possível que o óleo possa ser encontrado já em profundidades rasas, como aconteceu em Rio do Peixe. ´Estamos fazendo um estudo gravimétrico, onde analisamos a superfície sem precisar perfurar toda a extensão´, relata.

Lins informa que as análises já estão avançadas, e que os mapas geofísico e de profundidade já estão prontos. O estudo sísmico que está sendo realizado pela universidade faz parte de um mapeamento de todas as bacias sedimentares interiores do região nordestina, cujos resultados serão repassados à ANP. As pesquisas são consideradas delicadas pelo fato de serem realizadas em áreas ricas em sítios arqueológicos. No caso da Bacia do Araripe, a área abriga o único Geopark das Américas e do Hemisfério Sul.

Estudos antigos

O Chefe do 10º Distrito do DNPM (Departamento Nacional de Pesquisa Mineral), Fernando Antônio da Costa Roberto, ressalta que o órgão ainda não tem conhecimento de evidências de petróleo e gás na Bacia do Araripe, mas que no final da década de 1980 e início da de 1990, a Petrobras realizou estudos por lá.

´Temos conhecimento da execução por sísmica de reflexão pelo consórcio das empresas Azevedo & Travassos Petróleo S.A (ATP) e Andrade Gutierrez Energia S.A (AGE), empenhadas na pesquisa de petróleo nas bacias do interior do Nordeste, em regime de contrato de risco, com a Petrobras. Após esses trabalhos não temos conhecimento de nenhum outro trabalho na região´, informa Roberto.

A Petrobras confirmou ao Diário do Nordeste, através de sua assessoria de imprensa, as pesquisas na bacia, informando que estas foram realizadas ainda antes da existência da ANP, que foi criada em 1993. Entretanto, a estatal aponta que não foram identificadas descobertas. Mesmo assim, a empresa destaca que estão sendo realizados os trabalhos com a UFRN para aprofundar o conhecimento da região.

Prospecção só após leilão

´A prospecção de petróleo na área vai depender da inclusão da Bacia do Araripe nos próximos leilões da ANP. O que acontece atualmente são apenas estudos que poderão contribuir para a inclusão da Bacia do Araripe nos próximos leilões da ANP´, informou a estatal.

A Bacia do Araripe ocupa uma extensão de mais de 8.000 quilômetros quadrados na região fronteiriça dos Estados do Ceará, de Pernambuco, do Piauí e da Paraíba.

Áreas estão incluídas no Plano Plurianual da ANP

A ANP (Agência Nacional de Petróleo) informou que ainda não está pesquisando a área, mas que ela está incluída dentro do plano plurianual da agência. A assessoria de imprensa do órgão afirmou, entretanto, que não se pode precisar o prazo que a Bacia do Araripe será estudada, nem que tipo de pesquisa será realizada.

Ontem pela manhã, o senador Inácio Arruda esteve reunido, em seu gabinete em Brasília, com o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, e o diretor da empresa, Allan Kardec. O encontro, segundo a assessoria de imprensa do senador, teve como objetivo sensibilizar a diretoria da ANP para a necessidade de estudos mais profundos na região do Cariri cearense.

“O petróleo do Cariri interessa para o Ceará, principalmente porque vamos ter uma refinaria. Então, se tivermos petróleo, melhor ainda”, defendeu Inácio para os diretores da ANP. “Se for encontrado petróleo na região sul do Estado, como alguns estudos vêm demonstrando, o Ceará vai ganhar com os royalties, o que significa mais recursos para os municípios”, acrescentou.

Ao senador, o diretor-geral da ANP prometeu ontem incluir na programação plurianual de estudos da agência reguladora um levantamento da região, abrangendo a Chapada do Araripe, como a própria ANP já havia informado, na última sexta-feira, ao Diário do Nordeste. Da reunião, participaram além a diretoria da Agência Nacional de Petróleo, o prefeito do Crato, Samuel Araripe.

Exploração no Ceará

Atualmente, seis campos produzem petróleo no território cearense, nas bacias do Ceará e Potiguar. Na primeira, a produção é feita no município de Paracuru, e é feita em plataformas marítimas. São quatro poços e nove plataformas no mar.

Nesta bacia, está prevista a perfuração de três poços em águas profundas, sendo um neste ano de 2009 e os outros no ano que vem. Já na bacia Potiguar, localizada, em sua maior parte, no Estado do Rio Grande do Norte, mas que também abrange terras cearenses, a produção para cá é realizada em Aracati e Icapuí, com cerca de 500 poços terrestres. Na porção cearense desta bacia, estão previstas também atividades em águas profundas, contemplando estudos geológicos e geofísicos, que culminarão na perfuração de dois poços exploratórios até o ano de 2012.

O processo de licenciamento ambiental para a perfuração nos poços da Bacia do Ceará está tramitando no Ibama (Instituto Brasileiro de Proteção ao Meio Ambiente). Já para a Bacia Potiguar, estão em andamento os estudos geológicos e geofísicos que darão suporte ao posicionamento dos poços a serem perfurados.

A produção, em janeiro deste ano, foi de 9,7 mil barris/dia de petróleo e 184 mil metros cúbicos de gás natural. A atividade de exploração e de produção no Ceará começaram em 1967, com aquisições sísmicas. O primeiro campo foi descoberto em 1997, o Xaréu, com início de produção em 1981.

Depois vieram os campos de Curimã, Espada e Atum, que abrigam nove plataformas localizadas em águas rasas, com lâmina d´água entre 35 e 50 metros.