A Assembléia Legislativa do Estado do Ceará realizou na manhã dessa segunda-feira (.03) uma sessão especial sobre “A crise econômica mundial: repercussões e conseqüências para o Nordeste”. O expositor foi o Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, Márcio Pochmann, dizendo que a crise econômica global poderá levar os países a uma nova guerra mundial, a exemplo do que aconteceu em 1939, após a grande depressão. Na opinião do economista, a saída da crise que se instalou é política. “Ela começou no coração do sistema financeiro e veio às atividades produtivas. Teremos repercussões políticas no mundo todo, de grande magnitude”, previu. Segundo ele, o mundo pós-crise será muito diferente do que conhecemos e o Brasil tem a possibilidade de sair da crise fortalecido.
O senador Inácio Arruda participou do evento, que teve como debatedores o deputado federal Ciro Gomes e o Secretário da Fazenda do Ceará, Mauro Filho. Os deputados Fernando Hugo (PSDB) e Artur Bruno (PT), foram os autores do requerimento que originou o debate.
Em sua fala, Márcio Pochmann lembrou algumas crises mundiais, das quais o Brasil conseguiu sair relativamente bem: em 1873 aconteceu uma crise que afetou drasticamente a produção de café, basicamente a monocultura do País. Depois da depressão de 1929, o Brasil, lançou as bases da economia atual, dando início à industrialização e à urbanização. “Nós somos produtos das decisões tomadas na década de 30”, ressaltou, acrescentando que a crise do petróleo de 1973 levou o País a desenvolver a produção de combustíveis limpos, com o Proálcool.
Para Pochmann, a atual crise não se encerrará em curto prazo. Ele admite que os próximos anos sejam difíceis e definirão, talvez, a construção de uma nova sociedade. “Aqui no Ceará e no Nordeste, poderemos iniciar um momento de substituir a apatia pela rebeldia transformadora” disse. O presidente do Ipea observou que a crise é sistêmica e sua natureza tende a ter ação totalizante. “A crise é profunda e complexa, e vai durar muito mais tempo do que se imagina. Ela se abate sobre todos os fundamentos do sistema econômico e sobre a base de financiamento, que ruiu”, afirmou.
Modelo neoliberal responsável pela crise
O deputado federal Ciro Gomes (PSB) disse durante o debate que o modelo neoliberal de desenvolvimento é o verdadeiro responsável pela crise econômica mundial. Ao mesmo tempo, criticou o Congresso Nacional por não ter, em nenhum momento, se reunido para avaliar os efeitos da economia no Brasil e no mundo. “Não se pode trabalhar desse jeito”, desabafou. Para Ciro, a crise, que se tornou mais aguda a partir do final do ano passado, já era conhecida desde 2007, quando aconteceram algumas modificações na balança das contas internacionais do país. Mas lembrou que houve um trabalho desenvolvido pelo Governo Fernando Henrique Cardoso para vender ao conjunto da sociedade a idéia de que o setor público é corrupto e ineficiente, para que houvesse as privatizações. Isso, segundo ele, foi uma total perversão dos valores. Então, a saída apontada pelo sistema foi desmontar o Estado, “desentranhá-lo de intervenções e entregar às forças do mercado”.
Ciro Gomes considerou que, politicamente, foi duro combater esse teorema. “Mas o que vemos é muito eloqüente. A exacerbação levou à desregulamentação. O destino da humanidade foi entregue a garotos de 22 a 24 que operam a vida e a morte do planeta em Wall Street, como se jogassem um videogame”.
Os efeitos da crise, segundo o deputado, foram reduzidos no Brasil graças às políticas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que levou o País ao superávit nas contas internacionais, ao mesmo tempo em que propicia lucros aos bancos internacionais como HSBC, que teve prejuízo lá fora, mas que aqui registrou lucro da ordem de R$ 1,7 bilhão, no ano passado.
Menor impacto no Brasil e no Ceará
Dando continuidade aos debates sobre a crise econômica, o secretário Mauro Filho (Fazenda) avaliou o momento de recessão e garantiu: os impactos no Brasil e no Ceará não serão tão fortes como em outros países. Segundo ele, isso se dá porque a relação brasileira com a economia americana não é tão estreita quanto a que países como a França, a China e o Japão mantêm com os Estados Unidos. “Nós não vivemos uma crise de solvência. Por isso, jamais seremos afetados na mesma proporção”, afirmou.
Mauro discordou que a recessão seja um retrato da queda do regime capitalista e defendeu a realocação dos recursos do Orçamento da União como forma de remodelar nossa estrutura de atividade econômica. Ele anunciou também que, entre 2009 e 2010, o Governo deve aplicar pelo menos R$ 5 bilhões na economia interna para manter o Ceará numa atividade superior à média nacional.
O secretário admitiu que o Estado não está imune às oscilações da economia brasileira. Contudo, assegurou que a Sefaz tem se empenhado para reforçar o ajuste fiscal local. “Temos que compreender que movimentos de política monetária precisam ser feitos de maneira precisa e examinar como isso deve afetar as empresas que precisam de crédito e tiveram suas linhas de financiamento ceifadas do mercado”, avaliou.
Unidade política
Já o senador Inácio Arruda destacou a importância do debate, que deve repercutir em outras assembléias legislativas e no Congresso Nacional. Disse que a batalha contra a crise econômica deve ser travada no campo da política e para isso era preciso uma maioria política, com uma forte unidade democrática. Destacou a importância do governo Lula para o Brasil e para os países da América Latina, ressaltando mais uma vez a necessidade de uma força capaz de tirar o país da crise, com um projeto próprio, com um projeto de nação. “E não há nação sem unidade política”, finalizou.