MCTI propõe na Câmara, que Nordeste supere os problemas de escassez


APcamaraO secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Inácio Arruda, participou nesta terça-feira (07.07), de audiência pública na Câmara Federal (Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática – CCTCI), para discutir iniciativas de desenvolvimento científico e tecnológico na região Nordeste. Participaram representantes de governos estaduais e o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Jailson de Andrade, que defendeu para o Nordeste a adoção de uma agenda de políticas que supere os problemas de escassez.

“A agenda que o Nordeste precisa é a agenda do futuro, porque a atual ainda é a agenda da escassez, em torno da falta de água, alimento, educação”, apontou o secretário. “Se nós perguntarmos às pessoas se querem ir ao Nordeste trabalhar, ainda há uma resistência em relação à condições locais. Mas se perguntarmos no Brasil inteiro quantos querem ir ao Nordeste passar as férias, especialmente no verão, isso já é diferente. Todos querem ir. É a felicidade que a região traz. Acho que essa é a agenda que nós precisamos construir. E certamente as caraterísticas de cada Estado precisam ser respeitadas.”

Para o secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, Inácio Arruda, a agenda comum com o MCTI originou discussões mais amplas, como o 4º Encontro de Governadores do Nordeste, marcado para 17 de julho, em Teresina, cujo tema envolve também as pastas federais da Justiça, da Previdência Social e da Saúde. “Nós queremos ampliar os investimentos em ciência e tecnologia no Nordeste, por conta dessa necessidade absoluta de transformarmos essa nossa região”, disse. “O Nordeste tem um potencial muito grande, que tem crescido com a ampliação da base de formação superior”, complementou Arruda.

Cenário

Para Jailson de Andrade, a região tem apresentado “um conjunto expressivo” de bolsistas e projetos, com cerca de 10 mil pesquisadores apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI). Ele destacou a Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), programa instituído em 2004, como referência nacional.

“Temos experiências parecidas no Norte e no Centro-Oeste, mas a Renorbio envolve dez unidades da federação, ou seja, os nove Estados do Nordeste mais o Espírito Santo”, ressaltou. “Essa rede apoia 36 instituições federais de ensino superior, 230 pesquisadores e 600 estudantes de doutorado. Já titulou mais de duas centenas de doutores. Então, é uma iniciativa extremamente robusta e que serve de inspiração para o Ministério neste momento em que nós tentamos agregar todas as redes e ações do País em um grande sistema de biotecnologia.”

Na opinião do secretário do MCTI, o Nordeste se ressente pelo baixo número de parques tecnológicos. “Essas infraestruturas são hoje um ponto de aproximação dos setores acadêmico e empresarial, como polos nacionais e regionais de inovação, não só de ciência”, ponderou. “A região tem apenas quatro dos 28 parques existentes no País, dois em Pernambuco, um em Sergipe e outro na Bahia. E nós acreditamos que esses parques possam vir a ser polos de desenvolvimento”.

Outro ponto apresentado pelo secretário Jaíson foram as unidades de pesquisa da pasta na região, o Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI), em Campina Grande (PB), e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), em Recife. “Certamente que há uma grande lacuna e um grande desafio para que os vários Estados da federação, em espacial os do Nordeste, venham a ter a presença efetiva do MCTI, através dos institutos instalados por lá.”

Inácio Arruda avaliou a questão: “Nós precisamos ampliar essa estrutura, não criando novos institutos, mas fazendo que esses centros de pesquisa estejam presentes no Nordeste. Agora, estamos buscando levar um núcleo do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer [CTI/MCTI] para o Ceará. Ali naquela região, nós temos a Funceme [Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos], uma instituição estadual que trabalha para toda a região, junto à unidade do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] em Fortaleza, pequena base semelhante à que o Rio Grande do Norte possui.”

Capacitação

O secretário da Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão, deputado estadual Bira do Pindaré (PSB-MA), enfatizou que “o Nordeste carece muito mais do que toda e qualquer região do País” de ferramentas que lhe sirvam como fator de desenvolvimento, a exemplo da formação de mestres e doutores, “uma condição fundamental para ampliar o horizonte das pesquisas”.

De acordo com Pindaré, apenas 5% da população maranhense tem ensino superior e o Estado tem proporção de 0,24 doutor e 0,67 mestre por mil habitantes. “Isso nos coloca na última posição do ranking nacional de graduação, mestrado e doutorado”, lamenta. “Evidentemente, nós não temos como pensar em desenvolvimento sem pensar no conhecimento, nas inovações e na tecnologia, dos quais somos cada vez mais dependentes.”

Já o secretário do Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Paulo Roberto Cordeiro, considera “a inovação como base da nova tecnologia”. Para ele, “é por meio dela que os estados do Nordeste poderão recuperar muito tempo, porque a indústria do conhecimento necessita de melhorias no patamar da mão de obra, em função da velocidade com que tudo acontece hoje em dia”.

Professor permanente da Renorbio, o superintendente de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico do Estado do Piauí, Francisco das Chagas Lima, mapeou os programas de pós-graduação e a desigualdade de recursos nas regiões brasileiras. “Até 2006, o investimento em pesquisa ainda era muito tímido, comparado a outros países, e se concentrava no Sudeste. A partir de 2007, com o Pacti [Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação], houve já uma grande mudança no Nordeste, com o surgimento em maior número de programas de mestrado e doutorado”, observou.

Coordenaram a audiência os deputados federais JHC (SD-AL), proponente do debate, e Sandro Alex (PPS-PR), 1º vice-presidente da CCTCI. Também se pronunciaram os parlamentares Chico Lopes (PCdoB-CE), Hélio Leite (DEM/PA), Luciana Santos (PCdoB-PE), Paulão (PT-AL) e Tia Eron (PRB-BA).


Com informações do MCTI

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