Cine Ceará exibirá 100 filmes em Fortaleza


Cine Ceará exibirá 100 filmes em FortalezaA mudança no cinema brasileiro nos últimos 24 anos foi radical. Da crise amarga que se instaurou no início dos 1990 à retomada, no final da mesma década, passando pela popularização do digital e a crescente disseminação de novos, baratos e ainda mais avançados recursos, o cinema vislumbra novos horizontes e toda uma geração de realizadores independentes. Mudou a maneira de fazer, mudaram os canais para consumi-lo, mudam também os festivais.

“O Cine Ceará está hoje consolidado no seleto grupo de festivais brasileiros justamente devido ao fato de ter se reinventado. Em vários momentos, foi preciso fazer um ponto de giro, digamos, na sua dramaturgia”, pontua o cineasta Wolney Oliveira, diretor do Cine Ceará, Festival Ibero-americano de Cinema, que chega amanhã à sua 24ª edição.

Wolney está à frente da mostra desde sua terceira edição, em 1993. Para o cineasta, ao longo de todas as mudanças que passaram o cinema, de uma maneira geral, e mais especificamente, a cena audiovisual do Ceará, o festival segue se mantendo como peça fundamental de fomento e mobilização. “A Casa Amarela fez um trabalho pioneiro na formação, já na década de 1970, mas foi o Cine Ceará quem trouxe muita coisa. Puxou muita coisa do que está acontecendo hoje no Estado”, defende o organizador.

Retrospecto

Ao longo de quase um quarto de século, o festival sai de uma pequena mostra de vídeos – criada em 1991 pelo pai de Wolney, Eusélio Oliveira, e o cineasta Francis Vale como a Vídeo Mostra Fortaleza, que trazia um recorte temático sobre o Centro da cidade – a um festival de amplitude internacional, com recorte na produção Ibero-americana.

“A partir da terceira edição começamos a abrir o leque da mostra para exibições para todo o Estado”, narra Wolney, sobre a evolução da mostra que, já em 1995 recebe o nome atual e passa a incorporar uma mostra competitiva brasileira de curtas-metragens, que persiste até hoje. “Enquanto eu for o diretor do Cine Ceará, a mostra de curtas-metragens terá esse recorte brasileiro”, reforça Wolney.

Em 2006, o festival amplia sua mostra competitiva de longas-metragens para abranger produções ibero-americanas – mostra que havia sido criada em 2000. Segundo o cineasta, há uma restrição estratégica, proposital nesses recortes.

“Em relação a competitiva de longa, é fundamental que continue ibero-americana”, defende, justificando que essa delimitação, além de aproximar países e cinematografias afins, e lançar luz sobre filmes que não teriam outro canal para chegar ao público brasileiro, que não por festivais, provoca um benéfico encontro entre os realizadores.

“São fundamentais esses intercâmbios. Os festivais têm uma função mobilizadora fundamental”, diz, citando como resultado direto, coproduções entre realizadores de diferentes países desse eixo que nasceram do encontro no festival, além das discussões e trocas de experiências em torno de temas como mecanismos de financiamento do audiovisual.

O caminho que está se buscado, pontua, é o de criar mecanismos que fortaleçam ainda mais os laços, como a criação, desde o ano passado, de mostras temáticas sobre a cinematografia de um dos países do eixo ibero-americano, que passa a ser escolhido como tema da edição.

Em 2013, Portugal foi homenageado e este ano é a vez da Argentina, que terá quatro mostras específicas dentro da programação. “Os festivais brasileiros têm papel fundamental no intercâmbio com outras cinematografias”, reforça Wolney.

Novo cinema

A escolha de um país homenageado, situa Wolney, nasceu também de uma outra demanda que parte das mudanças no panorama da produção audiovisual e que vem motivando reformulações no formato da mostra, que é a disseminação de produções de jovens realizadores. A cada edição, o festival dedica uma mostra ao chamado cinema jovem do país escolhido. “Este ano, o Miguel Mato, que é cineasta argentino e curador de todas as mostras Foco Argentina, fez a seleção de filmes recentes de jovens realizadores do país, como Miguel Burman”, ilustra.

A produção de jovens realizadores, recupera Wolney, teve espaço no Cine Ceará entre os anos de 1996 e 2000, quando existia uma mostra internacional de novos talentos, antes mesmo da mostra competitiva de longas-metragens.

“Ano passado, sentimos a necessidade de retomar essa coisa, que era nossa, e que nós abandonamos”, diz, citando como referência nessa área o Festival de Tiradentes, hoje firmado como vitrine desse cinema jovem do Brasil.

O Cine Ceará mobiliza também já há algumas edições a mostra de curtas “Olhar do Ceará”, que este ano apresenta 26 curtas-metragens e é um espaço que privilegia esses novos realizadores. Entre os próximos passos almejados nesse sentido, como propõe Wolney, está a criação, já na próxima edição, de uma mostra dedicada a filmes de curta duração realizados em qualquer tipo de mídia não convencional, como celulares. “Provavelmente, vamos fazer uma competitiva com esse tipo de produção”, antecipa. A edição 2015 do festival será dedicada ao cinema espanhol.

Fonte: Diário do Nordeste – Fábio Marques