Quinze perguntas sobre a violência política na Venezuela


 

O sacerdote jesuíta panamenho Jorge Sarsaneda Del Cid formula na rede 15 perguntas ignoradas pela grande imprensa que colocam em evidência diversos aspectos e permitem analisar as motivações da violência desatada pela direita fascista na Venezuela.

 

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, mostra imagens de eventos violentos registrados durante os recentes protestos em Caracas

1. Por que dizem que na Venezuela se sofre com uma grave falta de alimentos, justificando assim destruição e incêndios, se foi um dos quatro países da América Latina com menos fome em 2012 (de acordo com a FAO e a OMS), inferior a 5%, e um dos países com maior índice de crianças e jovens obesos?
Seguindo a lógica dominante, por que não há protestos piores em um país vizinho como a Colômbia, no qual a fome foi sentida por 12,6% da população, isto é, quase o triplo da Venezuela?

2. Se as causas dos ataques, incêndios e manifestações é a escassez de produtos básicos, por que se observam ações de tipo político e não roubo de lojas e armazéns, o que seria de se esperar quando se trata de carência generalizada? Por que um dos dirigentes opositores, Henrique Capriles, afirma que se deve à “falta de remédios” se os avanços em saúde na Venezuela estão entre os mais destacados da região?

3. Por que tanta violência pela suposta “ausência” ou falta de acesso à comida se a revista “The Economist” publicava esta semana que a escassez só afetou cerca de 28% dos produtos? Por que os mesmos analistas não preveem algo parecido na República Dominicana, país no qual o “Latinobarômetro” detectou que cerca de 70% da população não tem dinheiro suficiente para comprar a comida do mês?

4. Por que o epicentro dos protestos pela “escassez” é a Praça Altamira, no meio de bairros de classe alta e habitantes com pele tão branca? Não seria mais lógico em bairros pobres e população mestiça, já que a Venezuela é o segundo país com maior proporção de afrodescendentes da América do Sul, depois do Brasil?

5. Por que a Unesco reconhece a Venezuela como o quinto país com maior matrícula universitária do mundo, que cresceu mais de 800%, sendo que em torno de 75% da educação superior é pública, e no entanto não se conhece nenhuma luta do “movimento estudantil” atual, enquanto há “estudantes” marchando contra “torturas” e por “comida”?

6. Se os estudantes da educação superior na Venezuela já superam 2,6 milhões (isto é, ao redor de 20 vezes a população estudantil do Panamá), por que as manifestações são mais em forma de focos ou grupos de dezenas ou, no máximo, centenas de pessoas?

7. Se o comum e corrente é que os estudantes ou sindicatos marchem por mais benefícios e serviços públicos, assim como leis mais democráticas e equitativas, por que os “estudantes” que marcham na Venezuela o fazem por papel higiênico, defendendo a propriedade privada da imprensa ou do comércio para bens de consumo?

8. Por que não se sabe ainda o nome de nenhuma entidade ou organização estudantil, nenhuma pauta de reivindicações, nem o nome de nenhum de seus mais importantes dirigentes ou membros de diretoria, mas sim os nomes de notórios e antigos líderes da oposição partidária e eleitoral, envolvidos nas ações golpistas de 2002 e 2013?

9. Por que e quem produz as imagens falsas de torturas, assassinatos e humilhações posteriores aos confusos fatos de 12 de fevereiro de 2014, manipulando fotos do Chile, da Europa ou da Síria para que apareçam nas redes sociais e até em meios de comunicação como a CNN como se fossem na Venezuela? Que liderança democrática e civil já usou manobras como essa na história universal?

10. Se os bolivarianos e seus aliados ganharam as eleições de 2012 e 2013, incluídas as municipais mais recentes de dezembro passado, quando obtiveram 55% dos votos e 76% das prefeituras, por que se fala que o oficialismo é hoje “minoria”? Por que sua renúncia ou um referendo revogatório é proposta como saída para “a crise”, fora de todos os prazos e procedimentos legalmente estabelecidos para isso na Constituição feita com a própria liderança bolivariana?

11. Por que se invoca a falta de diálogo se há apenas dois meses foi realizado na Venezuela um encontro histórico entre o Executivo nacional e todos os prefeitos recém-eleitos, incluindo opositores, contando assim com a participação de todos os partidos e posições? Com quem se dialoga, quem dirige ou lidera “a crise”?

12. Por que o principal – e praticamente único – porta-voz das manifestações, supostamente pacíficas e alentadas pela “ineficiência” do governo, é Leopoldo Lopez, pessoa que não conta com nenhuma representatividade, salvo a de seu minúsculo partido, e seu chamado mais importante é há meses “tirar aqueles que governam”? O que o Tea Party (ultradireita dos EUA) tem a ver com tudo isso, já que a relação extremamente próxima com Lopez é muito conhecida?

13. Por que não usam os governos dos estados, as prefeituras e os assentos nas assembleias nacional e estaduais para propor um programa de ações pacífico e político, e por que não canalizam através de sua enorme incidência midiática as denúncias de “corrupção”, “fraude”, “totalitarismo”, “fome” e “repressão” com provas contundentes e inegáveis – não por twits, nem cápsulas de Youtube – como faziam as oposições a Trujillo, Balaguer, Pinochet ou Videla?

14. Por que se protesta, se na Venezuela mais de 42% do orçamento do Estado é destinado aos investimentos sociais? Segundo dados internacionais, cinco milhões de pessoas saíram da pobreza, então quem está protestando? Por que se protesta se o analfabetismo foi erradicado? Do que reclamam os estudantes se o número de professores nas escolas públicas se multiplicou por cinco (de 65 mil a 350 mil) e foram criadas 11 novas universidades?

15. Por que…?

Poderíamos seguir acrescentando perguntas. A verdade é que, como latino-americanos, enquanto nos insultamos, acusamos e desqualificamos, os “grandes do mundo” fazem seus cálculos para nos tirar o petróleo, o cobre, o lítio, a água e tantas outras riquezas que temos. Aí é onde temos que colocar nossa atenção…
Fonte: Prensa Latina, sucursal no Panamá

 

 

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