Neste ano a Unegro (União de Negros pela Igualdade) celebra 20 anos de existência e de luta contra o racismo. Também em 2008 o Brasil registra a passagem dos 120 anos de abolição legal da escravatura no país. Para marcar os dois episódios históricos, a Unegro promove o “1º Colóquio África e Diáspora: o lugar da mulher negra na geopolítica: refletindo sobre os desafios das lutas contra a pobreza e o racismo” de 6 a 9 de novembro, em Salvador, Bahia. 11 países participarão.
Ubiraci, da Unegro O evento será um encontro de idéias, análises, reflexões e troca de experiências sobre a atual condição das mulheres negras na África e na Diáspora. O Colóquio buscar criar oportunidades de refazer e resgatar caminhos e histórias, juntando vozes capazes de fortalecer a presença das mulheres negras como sujeitos políticos nas esferas de poder, em prol de uma ordem mundial socialmente justa, ambientalmente equilibrada e sem opressão de gênero, classe e raça.
Além da Unegro, também a UBM (União Brasileira de Mulheres) e a Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher- Cone Sul) promovem o Colóquio que reunirá especialistas no assunto de Costa Rica, Cabo Verde, Estados Unidos, Rússia, Senegal, Nigéria, Haiti, Canadá, França, Guiné e Moçambique.
“Para o Brasil é extremamente importante abrir esse diálogo com os países irmãos. O sistema sempre considerou a mulher negra superficialmente e o Brasil tem uma história de opressão à mulher muito grande. Um evento como esse subsidiará o debate em nosso país e possibilitará que avancemos na elaboração e apresentação de propostas para superar desigualdades”, disse ao Vermelho Ubiraci Matildes, da coordenação nacional da Unegro e da comissão de gênero da entidade na Bahia.
Segundo ela, há muitos pontos em comum entre os países que se encontrarão no Colóquio. “Um deles é a luta pelo em emprego descente e contra a pobreza”, exemplifica. “O problema da desigualdade de cargos e salários entre as mulheres trabalhadoras negras está presente em todo o mundo e o no Colóquio vamos evidenciá-lo.”
Ubiraci destaca que atualmente 30% das mulheres são chefes de família no país, porém, o mesmo não ocorre nas instâncias de poder institucionais. “As mulheres negras geralmente ocupam cargos inferiores, seja no mercado de trabalho, seja nas instâncias de poder. Desde o processo da abolição até a República elas já mostraram que tem competência. O racismo e a opressão resultam nessa violência institucional que não tem uma política de inclusão das mulheres negras na sociedade”, defende.
O Colóquio e a crise econômica
Um dos temas que deve estar presente no Colóquio será o impacto da crise dos mercados mundiais para as mulheres negras. Para a diretora da Unegro, a fusão dos bancos brasileiros Itaú e Unibanco, anunciada nesta segunda-feira (), é um dos sinais preocupantes da crise no país.
“É muito preocupante esse cenário de crise porque não se conseguiu dar saltos pela estabilidade às mulheres negras nas instâncias públicas e no mercado. É nítido que com a fusão dos bancos vai haver demissão e sabemos que os primeiros a sentirem o desemprego será a população negra, em especial a mulher. Afinal, quem mesmo precisa de um salário mínimo para garantir seus filhos na escola?”, provoca.
“É a população negra que está no chão da fábrica e a política econômica e a crise internacional ataca principalmente essa parcela mais carente da população em todo o globo”, conclui.
Mês da Consciência Negra
O Colóquio também se insere no Mês da Consciência Negra, que tem como ponto alto o feriado do 20 de novembro. Para a liderança, embora a maioria movimento negro, inclusive a Unegro, avalie como positiva a conquista do feriado em cerca de 300 cidades brasileiras, ele não contribui para dar maior visibilidade à luta antiracista.
“O 20 de novembro não deveria ser feriado porque não é um dia de festa, mas sim de luta para que a sociedade possa despertar contra o racismo e pela igualdade. O Brasil não tem tradição de protestar nos dias de folga, tanto que onde há feriado as passeatas do 20 de novembro são menores. Na minha opinião pessoal, o feriado não ajuda a dar visibilidade”, polemiza.
Ao avaliar a política de Estado da Seppir (Secretaria Especial pela Promoção da Igualdade Racial), uma das parceiras da Unegro no Colóquio, Ubiraci destaca avanços e limitações. “Por um lado, considero a Seppir uma grande vitória institucional, fruto da luta na Conferência da ONU de Durban, em 2001, onde se reconheceu a existência do racismo. Por outro lado, a Seppir ainda não tem um orçamento adequado às demandas da população negra. O desafio é que ela se torne um ministério”, explicou.
Contando com a discussão de temas estratégicos como este, Ubiraci ressalta que o objetivo geral do Colóquio é redesenhar cartografias de fronteiras da afro-descendência, dando visibilidade a produções, práticas e projetos em que a mulher negra seja não mais objeto mas sim protagonista e sujeito.
Programação
6 de novembro (Quinta-feira)
18 horas
Ato de Abertura com:
– Governador do Estado da Bahia, Jacques Wagner
– Ministro da Igualdade Racial, Edson Santos
– Ministra da Secretaria de Políticas Especiais para Mulheres, Nilcéia Freire
Membros de Representações Diplomáticas no Brasil
– Coordenador Geral da Agência Espanhola de Cooperação Internacional, Pedro Flores
– Senhora Ana Falú – Diretora Regional do Unifem – Cone Sul
– Procurador Geral da Justiça do Estado da Bahia, Lidivaldo Britto
– Reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho
– Luiza Bairros – Secretaria Estadual de Políticas da Igualdade
– Edson França – Coordenador Nacional da Unegro
18h30min
Conferência de abertura: O pós-abolição no Brasil e na América Latina e o seu significado para as populações africanas e afro-americanas.
Conferencistas:
Epsy Campbel Barr (Costa Rica) – Presidente da Associação Parlamenteo Negro
Edeltrudes Pires Neves – Cabo Verde – advogada, ex-Secretária de Estado e Ministra da Reforma do Estado, Administração Pública e Poder Local; ex-Presidente da Assembléia Municipal de Praia.
Benedita da Silva – RJ – Brasil – Secretária Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro; ex-senadora; ex-deputada federal; ex-governadora do Rio de Janeiro; ex- Ministra da Assistência Social.
Coordenadora: Olívia Santana (BA/Brasil) – Vereadora; Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Municipal; ex-Secretária de Educação da Cidade de Salvador.
20h30min
Atividade Cultural seguida de Coquetel
7 de novembro (Sexta-feira)
9 horas
Abertura do Salão Feminino de Arte e Cultura – Campo Grande
10 horas
Análise dos Impactos das Conferências de Beijim e de Durban nas Políticas de Estado voltadas para as Mulheres Negras.
Conferencistas:
Edna Maria Santos Roland (SP/Brasil) – Coordenadora da Mulher e da Igualdade Racial em Guarulhos – SP; Coordenadora de Combate ao Racismo e à Discriminação para América Latina e Caribe pela UNESCO/Brasil.
Jeannine B. Scott (USA) – Vice Presidente da Africare; MA em Ciência Política e Relações Internacionais – Yale University.
Lily Golden (Rússia) – Professora das Universidades de Moscou e de Chicago; pesquisadora do Instituto de Estudos Africanos – Chicago; escritora e instrumentista; autora de inúmeros livros e artigo.
Coordenadora: Ubiraci Matildes (BA/Brasil) – Conselho Deliberativo da UNEGRO
14 horas
A inserção da Mulher Negra na Produção Científica e Tecnológica e na agenda do Trabalho Decente.
Conferencistas:
Sylviane Anna Diouf (Senegal / EUA) – Historiadora; curadora das Coleções Numéricas e Diretora do Instituto Schomburg-Mellon do Schomburg Center for Research in Black Culture, Nova Iorque, EUA; autora de 10 livros.
Dolores Mohammed (Nigeria /Usa) – Diretora da Essence International School e fundadora da The African Heritage Village em Kaduna –Nigeria; Vice-presidente da Comissão de Imigrantes Africanos e Caribenhos da Municipalidade de Philadelphia, EUA.
Fatou Sow Sarr (Senegal) – Diretora do Laboratório de Gênero – Institut Fondamentale d’Afrique Noire -Université Cheikh Anta Diop – Dakar; Dra. em Sociologia e Antropologia (Montreal e Paris).
Maria Inês (Brasil) – Vice-diretora do UNIFEM – Cone Sul
Mônica Custódio (RJ/Brasil) – Coordenadora de Trabalho e Renda – UNEGRO/RJ
Coordenadora: Rosa Anacleto (SP/Brasil) – Metroviária e Diretora da UNEGRO/SP
8 de novembro (Sábado)
9 horas
Direitos Culturais, Sexuais e Reprodutivos: a luta contra a violência, o tráfico internacional e o desafio da autodeterminação das mulheres.
Conferencistas:
Tetchena Bellange (Haiti / Canadá) – produtora de cinema e teatro, documentarista e atriz; diretora da Bel Ange Moon Productions; formada em Cinema e Comércio Internacional, Universidade de Montreal.
Jannaati Sow-Gbetro (França/Guiné) – diretora da Associação Cultural Núbia, especializada na promoção de culturas africanas; formada em Direito e Comunicação.
Fernanda Lopes (Brasil) – UNFPA -DF
Coordenadora: Estela Mares Cardoso (SC/Brasil) – Coordenadora de Gênero da Unegro – SC
14 horas
O lugar da mulher negra na geopolítica e os desafios da luta contra a pobreza e a discriminação.
Conferencistas:Olívia Santana (BA/Brasil) – Vereadora.
Vinie Burrows-Harrison (EUA) – Representante da ONU na Federação Democrática Internacional de Mulheres – FDIM; atriz, escritora, professora, ativista política e consultora;
Marema Touré Thiam (Senegal) – Presidente da seção Senegal da Associação de Mulheres Africanas pela Pesquisa e Desenvolvimento – AFARD; Dra em Sociologia; Fundadora da Thiory Ingénierie Conseils.
Maria Ângela Ismael Manjate Janace (Moçambique) – Deputada da Assembléia da República pela Frelimo.
Coordenadora: Dra. Márcia Virgens (BA/Brasil) – Promotora Pública, Ministério Público do Estado da Bahia
9 de novembro (Domingo)
09 horas
Encaminhamentos do Colóquio O Lugar da Mulher Negra na Geopolítica e os Desafios da Luta Contra a pobreza e a Discriminação.
11 horas
Ato de encerramento do evento: Mulheres Negras Contra o Racismo e a Pobreza. Local: Praça 2 de Julho-Campo Grande
Realização:
União de Negros pela Igualdade (Unegro)
União Brasileira de Mulheres (UBM)
Unifem (Cone Sul)
Apoio Institucional:
Ministério Público do Estado da Bahia
Agência Espanhola de Cooperação Internacional
Democracia Participativa – Região Rhône Alpes – França
Seppir – Secretaria Especial pela Promoção da Igualdade Racial
UFBA – Universidade Federal da Bahia
Unesco – Brasil
Serviço:
1º Colóquio Àfrica e Diáspora
O Lugar da mulher negra na geopolítica: refletindo sobre os desafios das lutas contra a pobreza e o racismo
Data: 6 a 9 de novembro de 2008
Local: Reitoria da Universidade Federal da Bahia – UFBA
Endereço: Palácio da Reitoria, Rua Augusto Viana, s/nº – Canela, Salvador – Bahia – Brasil