O Senado argentino rejeitou na madrugada desta quinta-feira ()o projeto de lei que aumenta o imposto às exportações de grãos, as chamadas retenções. A derrota do governo se deu após de 18 horas de debate e veio por onde menos se esperava. Foi o próprio vice-presidente da República, também presidente do Senado, Julio Cobos, o responsável por impor a derrota a Cristina Kirchner.
Cobos reflete antes de anunciar seu voto Apesar de ser maioria no Senado, o bloco governista não conseguiu obter a maioria simples de 37 votos para aprovar a medida, que gerou um enorme conflito setorial de dimensão nacional durante mais de quatro meses, entre o governo e os grandes produtores rurais argentinos.
O resultado da votação apontou um empate em 36 votos entre as posturas a favor (governistas) e contra (oposição) o aumento das retenções. O voto de Minerva coube ao presidente do Senado, Julio Cobos, que constitucionalmente é o vice-presidente da República.
Ao fundamentar sua decisão, depois das 4h da madrugada desta quinta-feira, Cobos disse: "Que a história me julgue, peço perdão se me equivoco. Há quem diga que tenho de acompanhar a institucionalidade, devido ao risco que isso implica. Meu coração diz outra coisa, e não creio que isso seja motivo para pôr em risco o país, a governabilidade e a paz social", disse.
Festejos da oposição
Os dirigentes das quatro câmaras patronais agropecuárias, que impulsionaram o locaute de 101 dias contra as retenções, festejaram a decisão desta madrugada no bairro de Palermo, zona norte de Buenos Aires.
Ainda não amanhecera quando os representantes agrários, que haviam acompanhado o debate parlamentar em Palermo junto a centenas de produtores, destacaram a "valentia e a ação democrática" de Cobos.
Horas depois, o presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi, declarou a rádios locais que a decisão do Senado não foi "contra o governo", e que não se inicia uma "crise institucional".
Indefinições
O projeto governamental chegou ao Senado após ser aprovado pela Câmara dos Deputados por 129 votos a favor e 122 contra, em uma sessão que foi encerrada no dia 5 de julho e que durou mais de 17 horas.
O conflito entre o campo e o governo começou no dia 11 de março, quando o Ministério da Economia ditou uma resolução na qual impôs impostos móveis às exportações de grãos.
A rejeição ao novo esquema tributário gerou quatro greves que impediram a comercialização de grãos, além de bloqueios de estradas e desabastecimento de alimentos para a indústria, que causaram milionárias perdas ao país.
O voto de Cobos contra a iniciativa governamental, põe em risco sua continuidade no governo e sacudiu as fileiras do partido governante.
"Seria incrível pensar que o vice-presidente votaria contra o presidente, a não ser que lhe quisesse dar um golpe mortal", disse o legislador governista Miguel Pichetto, que criticou os peronistas que votaram contra a proposta governamental.