Durante os dias 9 e 11 de outubro foi realizado em Caracas o seminário "A transição energética e seu impacto sobre a geopolítica mundial", promovido pela Comissão de Infraestrutura, Transporte, Recursos Energéticos, Agricultura, Pecuaria e Pesca do Parlamento do Mercosul. O encontro reuniu parlamentares e especialistas do Paraguai, Uruguai, Brasil, Argentina e Venezuela na sede da Assembléia Venezuelana, e discutiu em linhas gerais a transição energética e seu impacto sobre a geopolítica mundial, tendo como objetivo gerar uma plataforma de ação comum aos países compreendidos no âmbito do Mercosul. Entre os temas debatidos, estiveram as formas de substituição dos hidrocarbonetos, a situação atual das reservas mundiais de petróleo, o marco jurídico necessário para viabilizar a "transição energética" e o impacto da produção de energia sobre os preços dos alimentos. Também marcaram presença o primeiro vice-presidente da Assembléia Nacional Venezuelana, Saúl Ortega, e o presidente da Comissão de Energia e Minas, Ángel Rodríguez. As principais conclusões do encontro são no sentido de aproveitar estrategicamente a crise que afeta o capitalismo mundial para explorar as oportunidades de crescimento e integração dos países sul-americanos e sair do discurso para a prática na questão energética, avançando no desenvolvimento da indústria regional. Dentre os vários especialistas que participaram do encontro, o embaixador do Brasil, Antonio José Simões, ressaltou que as conseqüências da crise financeira na região vão depender da atitude, mecanismos e medidas adotadas pelas nações da América do Sul. Ao abrir o encontro, Simões lembrou que, historicamente, as crises e guerras são fontes de oportunidades, citando como exemplo o final da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria siderúrgica brasileira conheceu forte impulso. "Quanto mais somos dependentes dos países ricos, mais a crise nos afeta. Não se trata de romper relações, mas de apostar na diversificação e aumentar as trocas com nossos países vizinhos. E é imprescindível fazer isso também no campo energético", avaliou o embaixador. Também destacou que existem grandes projetos de integração em andamento e que podem ser desenvolvidos muitos outros, ainda não explorados, como energias alternativas: energia solar, eólica e biocombustíveis. Outro especialista brasileiro convidado para o debate, Ricardo Dornelles, apontou o uso do álcool, mais especificamente do etanol, para combater os efeitos nocivos provocados pelo alto uso de combustíveis, provocando a destruição da camada de ozônio. Diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia, Dornelles destacou que o Brasil possui condições específicas para a produção de biocombustíveis: " temos cerca de 100 milhões de hectares cultiváveis, permitindo a produção, além de outros produtos, de cana de açúcar, matéria-prima para o etanol". Vice-presidente da Comissão de Infra-Estrutura do Parlamento do Mercosul, o Senador Inácio Arruda avaliou que os parlamentares cumpriram de forma positiva a jornada de trabalho em Caracas. "Todos os painéis foram de alta qualidade técnica, com a participação de especialistas e representantes de organismos internacionais, e permitiram a construção de um panorama atualizado da questão energética na região sul-americana. Também aprovamos uma declaração final, contendo uma série de recomendações em torno dos recursos energéticos na região, de forma que saímos de Caracas com a grande tarefa de consolidar, junto aos parlamentos e governos nacionais, a construção de uma política coesa para a integração energética que alcance êxito", afirmou. Ao final do evento, os parlamentares aprovaram um Projeto de Declaração onde a questão energética é considerada como tema prioritário para os países da região, estabelecendo que o debate da questão energética no âmbito dos parlamentos com a participação de especialistas contribui para maximizar os esforços em torno dessa integração. Nesse sentido, continua o documento, vem se desenvolvendo várias iniciativas em diferentes instâncias do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A declaração menciona que a atual situação de crise financeira emergente nos Estados Unidos e na Europa, a alta no preço do petróleo e dos alimentos, somados às mudanças climáticas, contribuem para a possibilidade de coordenar linhas de ação conjunta para o adequado tratamento dos recursos energéticos sul-americanos, representando uma grande oportunidade para o fortalecimento do inadiável processo de integração regional. Embora os países da América do Sul possuam reservas energéticas suficientes para cobrir suas necessidades, a declaração de Caracas determina a importância de se consolidar um mercado independente e autosuficiente, onde a integração energética seja uma prioridade estratégica, como ferramenta importante na promoção do desenvolvimento social e econômico, assim como a erradicação da pobreza, alcançando uma articulação para diminuir as assimetrias existentes na região. O projeto de declaração menciona a criação do Observatório Energético do Parlamento do Mercosul, no âmbito da Comissão de Infra-Estrutura, composto por parlamentares membros da comissão e por técnicos para subsidiar o Parlamento do Mercosul elaborando diagnósticos, propostas e informativos sobre a questão energética. Nesse sentido, o texto lido ao término da jornada de quatro dias em Caracas declara que o Parlamento do Mercosul deve ratificar a vontade política que no bloco e em seu Parlamento, para criar as condições financeiras e normativas necessárias para viabilizar o desenvolvimento e a execução dos projetos de integração energética. Após o encerramento do Seminário em Caracas, os parlamentares do Mercosul realizaram ainda uma visita técnica às instalações da PDVSA, estatal venezuelana de petróleo.