Raúl Castro reitera disposição para dialogar com Obama


O presidente de Cuba, Raúl Castro, voltou a dizer nesta quinta-feira que está disposto a dialogar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, desde que a conversa ocorra em "absoluta igualdade" de condições.

"Já dissemos que estamos dispostos a falar com o senhor Obama, onde seja e quando ele decidir, mas em absoluta igualdade de condições, sem qualquer ameaça à nossa soberania", disse ele, em resposta a uma pergunta da ANSA, durante a entrevista coletiva concedida após o almoço oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Castro pediu também a libertação dos cinco cidadãos cubanos detidos há 10 anos nos Estados Unidos, acusados de espionagem, propondo a Washington uma troca por dissidentes políticos presos na ilha. Para ele, este seria um ato por meio do qual Washington demonstraria boa vontade para negociar.

"Vamos fazer gestos e gestos, e esses prisioneiros sobre os quais se fala tanto, que nos peçam e amanhã os mandamos com família e tudo", disse ele, referindo-se a militantes acusados no país de conspiração a favor dos Estados Unidos. O presidente cubano ressaltou, porém, que um acordo nestes termos ocorreria somente com a libertação dos cinco cubanos, aos quais ele se referiu como "heróis".

Em um discurso de saudação a Raúl Castro, o presidente Lula voltou a pedir o fim do embargo imposto posto a Cuba pelos Estados Unidos, afirmando que a medida "não tem sustentação econômica, política, ética e moral".

Lula também defendeu a integração do país caribenho a todas as entidades da região e garantiu que trabalhará pela revogação do ato que o exclui da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Na segunda-feira, ao desembarcar no Brasil para participar da série de cúpulas encerrada ontem na Costa do Sauípe, Bahia, o presidente cubano já havia sinalizado uma possível reaproximação com a Casa Branca após o dia 20 de janeiro, quando Obama toma posse. Na ocasião, afirmou que aceitaria negociar junto a Washington a retomada das relações diplomáticas entre os dois países, rompidas desde 1961, e o fim do embargo imposto a Cuba desde 1962, mas somente se as discussões ocorressem com transparência e em igualdade de condições. "Se isso não for resolvido, esperaremos outros 50 anos. Se Obama quiser discutir, discutimos; se não quiser, não discutimos", ressaltou.

Raúl Castro, que substituiu no governo da ilha seu irmão mais velho, Fidel Castro, afastado do poder desde julho de 2006 devido a problemas de saúde, encerra hoje sua primeira viagem internacional como presidente.

Após passar o fim de semana na Venezuela, onde assinou 173 acordos de cooperação, ele participou no Brasil como convidado das cúpulas realizadas na Costa do Sauípe. Durante a reunião do Grupo do Rio, assistiu à cerimônia que oficializou a incorporação de Cuba ao órgão, importante fórum de consultas políticas na América Latina.