Em reunião realizada nesta segunda-feira () na capital paulista, a Via Campesina, a Intersindical, a Coluntas, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e Assembléia Popular, chamadas de Forças de Esquerda dos Movimentos Sociais, avançaram na organização da Jornada Nacional de Lutas de Maio, a se realizar de 21 a 24 de maio, tendo como ponto alto o dia 23. As organizações também iniciaram o debate sobre o documento que pautará as reivindicações da jornada e que, em síntese, defende a linha de nenhum direito a menos, só direitos a mais.
A Jornada será a segunda ação conjunta das Forças de Esquerda. A primeira ocorreu no 8 de Março deste ano, Dia Internacional da Mulher e data que marcou as mobilizações de “recepção” a Bush quando visitou o Brasil. O 8 de Março foi a primeira mobilização unitária de todos os movimentos sociais brasileiros desde a chegada de Lula à presidência da República em 2002.
Segundo o coordenador geral da Corrente Sindical Classista (CSC), João Batista Lemos, “a iniciativa de dar continuidade a este espaço é recentemente e de grande valor para a luta social no país. A ação que as organizações promoveram no dia 8 de Março, e que levou milhares de pessoas às ruas, provou que há um amadurecimento dos movimentos com relação ao governo. Apesar das divergências, há uma compreensão maior de que podemos fazer muita luta sem que isso fira a nossa autonomia para avançar mais nas mudanças que o Brasil precisa.”
Reivindicações
O documento em debate nos Movimentos Sociais das Forças de Esquerda tem três eixos principais de reivindicações. O primeiro se coloca contra a Reforma da Previdência e toda reforma que retire direitos dos trabalhadores. O segundo eixo é por emprego, salário digno, reforma agrária e urbana, por mudanças na política econômica e o não pagamento das dívidas interna e externa. Já o terceiro defende o direito de greve, contra a criminalização dos movimentos sociais.
Além destas bandeiras ainda outras deverão se somar às reivindicações das mobilizações de maio. A redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, a defesa do ensino e da saúde pública, gratuita e de qualidade para todos e todas, a defesa do meio ambiente, contra a destruição da Amazônia e a anulação do leilão que privatizou a Companhia Vale do Rio Doce estão na pauta. A manutenção do veto presidencial a Emenda 3, a democratização dos meios de comunicação, pela energia com tarifa social, contra a autonomia do Banco Central e contra todas as formas de discriminação e opressão racial, homofóbica e sexista são bandeiras incluídas no documento em debate.
Em síntese, as reivindicações da Jornada de Lutas de Maio defenderão a tese de nenhum direito a menos, só direitos a mais. A questão central que se coloca é sobre a possibilidade de reformas, como a Reforma da Previdência, que retrocedam em direitos historicamente conquistados. O problema da criminalização dos movimentos sociais, cada vez mais presente no país, também se apresenta como crucial, dadas as sinalizações do governo para um projeto de lei que restrinja o direito de greve.
A Jornada será descentralizada e pretende levar milhares de pessoas às ruas em todas as capitais e maiores cidades do dia 21 a 24 de maio, sendo que no dia 23 haverá uma concentração nacional de atividades.
Polêmicas
No alvo das polêmicas do espaço que reúne todo espectro de movimentos socais mais expressivos do país está a questão de como pautar o governo para as reivindicações sociais. Em uma ponta a Conlutas, dirigida pelo PSTU, pressiona por um movimento de oposição a Lula. Já na outra ponta está o campo da CMS (que reúne UNE, CUT e MST) que aposta na unidade e luta para que o governo faça mudanças.
Diferente da avaliação da CMS, que entende que a liderança de Lula é marcada por contradições em que ora prevalecem os interesses do povo, ora prevalecessem os interesses econômicos, a Conlutas avalia que Lula já se rendeu ao jogo dos grandes grupos econõmicos.
Contudo, é unânime o entendimento de que somadas as redes dos movimentos sociais se fortalecem e fortalecem suas conquistas. Neste sentido, o 8 de Março revelou uma saída para os movimentos: quando a convergência de pontos consensuais sobrepõem-se aos pontos divergentes as mobilizações crescem, assim como as chances de levar o governo a uma guinada de profundas mudanças.