Passada a polêmica sobre a vinda ou não de investimentos como a usina de Itataia, a siderúrgica de Pecém e a refinaria Premium 2 para o Ceará, a preocupação agora é com a capacitação dos profissionais que atuarão nos empreendimentos.
O que pode mudar no mercado de trabalho cearense em cinco anos? Que profissões oferecerão carreiras mais promissoras? Há mão-de-obra qualificada o suficiente para atender a demanda que estaria por vir?
Ainda não há prazos definidos para o início das atividades — estima-se, por exemplo, que a refinaria inicie suas operações só em 2014— mas questões como estas já têm permeado debates entre investidores, poder público e instituições de ensino cearenses.
O secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará, René Barreira, destacou a importância do Estado se preparar desde já para corresponder à demanda dos investimentos previstos. “Estamos envolvendo todas as instituições de ensino. Cada uma está fazendo um levantamento das ações que já vêm sendo desenvolvidas no ensino de graduação, pós-graduação, na pesquisa e na extensão”, disse. “Está nos planos, inclusive, fazer contato com universidades corporativas de multinacionais dos setores de mineração, siderurgia e refinaria”.
De acordo com o diretor geral do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (Cefet), Cláudio Ricardo Gomes de Lima, caso todos os empreendimentos anunciados para o Ceará começassem a funcionar amanhã, pelo menos 70% da mão-de-obra necessária teria que vir de outros Estados. “É uma estimativa apenas, mas a carência de profissionais qualificados para atender a demanda esperada é um problema real”, afirma.
Lima lembra que o mesmo ocorreu na Bahia, quando o Pólo Petroquímico de Camaçari iniciou suas atividades, no final dos anos 70. “O Estado não estava preparado e acabou precisando importar mão-de-obra, restando os postos que exigiam menos qualificação para os baianos”, conta. “Foi bom para a economia da Bahia, mas melhor ainda para profissionais de outros Estados”.
Desta forma, ressalta, levando-se em conta o tempo exigido para a formação destes profissionais, “se quisermos os melhores empregos”, é preciso começar a agir agora.
“São, em média, quatro anos para formar um tecnólogo e cinco para termos um engenheiro, sem contar a pós-graduação”, acrescenta ele. “É quem está cursando o Ensino Médio hoje que deverá aproveitar estas oportunidades”. Atualmente, o Cefet recebe 7.500 matrículas por ano e espera triplicar este número até o final de 2010.
Não apenas as engenharias
Para o vice-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade de Fortaleza (Unifor), Roberto Ciarlini, com a chegada dos investimentos anunciados para o Ceará, as profissões ligadas à engenharia passarão a ser mais procuradas, mas não apenas elas. Ciarlini acredita que todas as profissões serão contempladas com novos postos de trabalho.
“Os novos negócios precisarão de uma rede de suporte, que incluirá desde especialistas em Direito Ambiental até gestores de Recursos Humanos”, avaliou o vice-reitor. Ele afirmou que o Estado já oferece ensino de qualidade em áreas relacionadas aos investimentos anunciados, mas precisa focar esta qualificação.
“Opções de cursos de capacitação de mão-de-obra tão especializada não são muitos no Ceará porque a demanda nunca foi tão grande. Ela é essencial para que se avance na oferta de cursos”, explicou. “Condições para isso há de sobra”.
Prova disso é que especializações como a de Engenharia de Petróleo, ofertada pela Unifor em Fortaleza e Mossoró (RN), passarão a compor a lista de cursos de graduação já no próximo ano. “Para tanto, investimos constantemente na formação do nosso corpo docente”, lembrou.
A falta capacitação profissional, defende Ciarlini, certamente representa um gargalo e impede que os investimentos sejam mais vantajosos para o Estado, mas o primeiro passo para resolver o problema já está sendo dado quando se reconhece que ele existe. “À medida em que conhecemos a demanda, podemos oferecer uma capacitação mais adequada e de qualidade”, declarou.
FRASE
"Todas as profissões serão contempladas com os novos postos de trabalho"
Roberto Ciarlini
Vice-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Unifor