Médicos do Egito que prestaram atendimento a manifestantes da Praça Tahrir, no Cairo, disseram que muitos foram alvo de gases tóxicos, lançados por policiais para conter os protestos contra o regime de transição egípcio. Os protestos realizados na quarta-feira (23) marcaram o quinto dia consecutivo de manifestações no país. Os manifestantes exigem o fim do poder da Junta Militar que assumiu o governo em fevereiro, com a queda do ex-ditador Hosni Mubarak.
De acordo com reportagem do jornal britânico The Guardian nesta quarta-feira (23), as forças de segurança do Egito estão utilizando uma versão mais potente e perigosa de gás lacrimogêneo para dispersar os protestos contra o governo militar.
Segundo vídeos e relatos de manifestantes, coletados pelo The Guardian, o Exército egípcio vem usando dois tipos de gás lacrimogêneo incomuns para conter os protestos na praça Tahrir, no centro do Cairo. De acordo com o jornal, a composição química dos gases CN e CR torna o gás mais agressivo do que o tradicional CS usado pelas polícias do mundo todo.
A inalação desses gases pode levar a asfixia, convulsões e espasmos musculares, dizem os médicos que trabalham socorrendo os feridos no centro da capital.
Em imagens da rede de TV CNN nesta quarta-feira, manifestantes egípcios exibiram granadas não detonadas de gás lacrimogêneo. Segundo eles, a fabricação das bombas de gás é americana.
Armas de fogo
De acordo com reportagem da agência Efe, a organização Human Rights Watch, que defende o cumprimento dos direiros humanos, denunciou nesta quarta-feira (23) o uso de armas de fogo por parte das forças de segurança egípcias contra os manifestantes.
"A polícia antidistúrbios e os oficiais militares dispararam fogo real e balas de borracha contra a multidão e propagaram espancamentos entre os manifestantes", informou o grupo de direitos humanos em comunicado.
O documento recorre a testemunhos de manifestantes, médicos e funcionários da ONG no local e conclui afirmando que o uso da força é "excessivo" por parte das autoridades.
Organizações não governamentais estimam que, desde sábado (19), 33 pessoas morreram e mais de duas mil ficaram feridas. A organização afirma que a autópsia de 22 dos cadáveres do necrotério de Zeinhom, no Cairo, confirmam a porte por disparos de armas de fogo, enquanto outras três pessoas morreram por asfixia ao respirar o gás lacrimogêneo que as forças de segurança usam para dispersar os manifestantes.
O Prêmio Nobel da Paz de 2005 e candidato à Presidência da República, Mohamed El Baradei, classificou os confrontos no Egito como “massacre”.