A Colômbia deve aproveitar o momento proporcionado pela libertação de Ingrid Betancourt para acelerar o processo de busca pela paz no país, sem que a sociedade esqueça da grave crise de legitimidade vivida pelo presidente Álvaro Uribe. As afirmações são do secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caycedo.
O PC colombiano se manifestou a respeito do assunto nesta quarta-feira (), poucas horas depois do anúncio da libertação da ex-candidata presidencial. De acordo com o texto de Caycedo, não se trata de uma derrota das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), mas apenas um revés que pode consolidar a necessidade de se chegar a um acordo humanitário entre a guerrilha e o governo.
Confira abaixo o texto:
Ingrid Betancourt livre: acelerar a busca da paz
Ingrid Betancourt, os três prisioneiros de guerra norte-americanos e 11 funcionários militares ficaram em liberdade esta tarde, após uma operação militar inserida em áreas limítrofes dos departamentos colombianos de Vaupés e Guaviare.
O governo colombiano apresentou a operação como um triunfo militar na política de guerra contra-insurgente do governo. De fato, a operação implicou ações de inteligência e infiltração que permitiram comprometer os guardiões dos reféns. Valiosas recompensas para estimular as deserções dentro da própria guerrilha se anunciam permanentemente pelos meios de comunicação e bombardeios de propaganda nas zonas de conflito. Não são descartadas interceptações de comunicação com a mediação via satélite do Comando Sul dos Estados Unidos. O resgate coincide com o momento em que o candidato de Bush à Casa Branca visitava a Colômbia.
Deve-se recordar que os governos da França e da Suíça haviam enviado, há vários dias, contatos destinados a tentar liberar várias das pessoas. Os movimentos dos moradores locais, que provinham de três grupos diferentes dispersos na selva, indicam que, efetivamente, estavam em processo de ser reunidos, talvez no contexto das prometidas liberações.
Para Uribe, esse sucesso representa um alívio em meio à crise política desatada pelos processos que a Corte Suprema de Justiça leva adiante contra parlamentares próximos ao governo e à ex-parlamentar Yidis Medina, condenada pelo delito confesso de suborno, que determinou a maioria de votos mediante o qual se tornou possível a reeleição de Álvaro Uribe, nas eleições de 2006; Uribe planejou convocar um referendo para ratificar sua legitimidade. Ao mesmo tempo, se sabe que seu objetivo é uma nova reforma constitucional, que permita-lhe a reeleição em 2010.
A natural alegria pelo logro alcançado não oculta o fato de que permanecem retidos outros reféns. É claro que se trata de um revés, mas não de uma derrota das Farc. O êxito alcançado pelas forças oficiais não desqualifica a necessidade de um acordo humanitário, que pode ser um passo importante na busca de uma saída política negociada do prolongado conflito interno colombiano. Nesse sentido, deve continuar a pressão nacional e internacional para alcançar a paz democrática, com justiça social e soberania.