Jovens são presas por rejeitar serviço militar


Três mulheres israelenses de 19 anos se recusaram a servir o Exército e foram presas. Omer Goldman, Miya Tamarin e Tamar Katz deviam se alistar nesta terça-feira para prestar o serviço militar obrigatório.

Ao se apresentar, na data do alistamento, na base militar de Tel Hashomer, as jovens anunciaram que não pretendem servir pois são contra a ocupação dos territórios palestinos.

Em Israel, a lei obriga todos os israelenses a prestar serviço militar – as mulheres por dois anos e os homens por três.

As jovens chegaram à base militar acompanhadas por cerca de cem manifestantes que levantaram cartazes contra a ocupação em frente à base militar.

“Não queremos participar da ocupação”, “Basta de ocupação”, diziam os cartazes.

“Não pretendo ir para o Exército em hipótese alguma”, disse Omer Goldman à BBC Brasil, “eu me sinto obrigada, moralmente, a recusar”.

“Viajei muitas vezes aos territórios ocupados, e vi, com meus próprios olhos, o que o Exército israelense faz lá, são coisas com as quais eu não posso colaborar”, afirmou.

Liberação

Gabriel Castellan, porta-voz do Exército israelense, disse à BBC Brasil que o número de jovens que se recusam a prestar o serviço militar obrigatório por razões políticas é pequeno, mas tem aumentado nos últimos dois anos.

Em 2005 foram registrados 57 casos, e em 2007 o número chegou a 72.

O número de jovens que foram liberados do serviço militar também vem aumentando.

De acordo com Gabriel Castellan, porta-voz do Exército israelense, no ano de 2003 a porcentagem de homens israelenses que não prestaram o serviço era de 22%, e entre as mulheres 35.6%.

Em 2008, a porcentagem chegou a 27.7% entre os homens e 43.7% das mulheres.

O porta-voz disse à BBC Brasil que a principal razão para a liberação, tanto de homens, como de mulheres, do serviço militar é ligada a motivos de religião.

Os homens que comprovam estudar em um seminário rabínico são liberados e as mulheres que declaram ser religiosas também obtêm a isenção do serviço militar.

Outras razões para a liberação do serviço militar são problemas de saúde, antecedentes criminais e residência no exterior.

Além dos jovens que se negaram a prestar o serviço militar obrigatório, desde o inicio da segunda Intifada (levante palestino que começou em 2000), mais de 500 soldados e oficiais da reserva se recusaram a servir no Exército por razões políticas.

"Medo"

Omer Goldman não sabe quanto tempo ficará presa e admite que tem medo.

“Sim, tenho medo. Outros jovens que recusaram já ficaram dois anos na prisão, espero que não fiquemos tanto tempo”.

“Por enquanto todos os meus planos para o futuro ficaram congelados, e não sei por quanto tempo”.

Miya Tamarin é pacifista e tentou ser liberada do serviço militar por “razões de consciência”. O Exército libera automaticamente jovens mulheres religiosas – normalmente ortodoxas ou ultra-ortodoxas – por razões de consciência, porém, rejeitou o pedido de Tamarin.

“Há uma semana recebi a resposta negativa do Exército e decidi que minhas convicções pacifistas não me permitem participar de uma instituição que é toda baseada na violência”, disse Tamarin.

Segundo Tamar Katz, “as ações do Exército só vão gerar mais hostilidade e mais violência e não quero participar de uma organização que aponta armas contra civis de maneira indiscriminada”.

"Traição"

As três jovens, como outros que se recusaram a prestar serviço militar, são acusadas de “traição” e “covardia”, por muitos em Israel.

Grande parte da população fica indignada com jovens que tentam “se esquivar” de prestar o serviço militar, considerado quase que sagrado em Israel.

Porém, elas afirmam que a razão da recusa não é covardia e que não têm a intenção de se esquivar de suas responsabilidades como cidadãs israelenses.

“Acho que nosso ato de recusar é um ato de responsabilidade social”, disse Omer Goldman, “espero que esse ato leve mais pessoas a questionarem a ocupação”.

“Desde pequena estive envolvida em ações voluntárias de responsabilidade social e minhas colegas também”.

“Durante o último ano todas nós participamos de projetos voluntários, eu trabalhei na cidade de Yavne, em um projeto de educação de crianças etíopes”.

“Essas acusações contra nós, de que ‘queremos tirar o corpo fora’ de nossas responsabilidades para com a sociedade israelense são absurdas”, afirmou Goldman.

“Para o bem da sociedade israelense, devemos nos recusar a participar da ocupação”, concluiu.