Foram quase 200 anos de sonho, desde aquele dia, em 1818, quando a proposta de levar água do rio São Francisco para o rio Jaguaribe foi lançada
Começaram os trabalhos de engenharia para interligar as bacias do Nordeste Setentrional à bacia hidrográfica do rio São Francisco. A notícia é digna de comemoração, pois torna mais perto o sonho acalentado pelos habitantes da região, desde a época do Brasil Colônia.
Chegar até aqui não foi uma luta fácil e, certamente, ninguém pode repousar em louros. Contudo, dada a largada tudo se torna mais concreto e tangível. Foram quase 200 anos de sonho, desde aquele dia, em 1818, quando a proposta de levar água do rio São Francisco para o rio Jaguaribe foi lançada – ainda no governo de Dom João VI – pelo 1º ouvidor do Crato (CE) José Raimundo de Passos Barbosa.
A idéia seria prosseguida, em 1847, pelo intendente do Crato, Marcos Antônio de Macedo, que chegou a encaminhar um esboço do projeto ao imperador Pedro I. Contudo, só com o sucessor, Dom Pedro II, o governo daria os primeiros passos concretos, ao contratar o engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld para estudar o São Francisco. No relatório deste, em 1860, o projeto foi aprovado e até apontado o local de captação da água: Cabrobó. O desafio tecnológico, porém, era superior às condições da engenharia da época, e o Imperador terminou optando por uma solução tópica para aliviar a angústia dos cearenses, a construção do açude Cedro, em Quixadá.
O assunto só viria merecer de novo a atenção oficial durante a gestão de Mario Andreazza no Ministério do Interior (-1985). Porém o regime militar terminou desistindo de peitá-la, até que, com a redemocratização, o governo FHC tentou retirá-la do esquecimento, destinando, 1996, R$ 500 milhões para o projeto. Mas, foi um sonho de verão que seria logo abandonado em 2001.
Foi preciso um nordestino corrido da seca, o pernambucano Luis Inácio Lula da Silva, para retomá-lo com todo vigor, tendo para isso de enfrentar lobbies poderosos, que vão de grupos econômicos temerosos de um Nordeste menos condicionado aos imperativos de uma confortável (para os beneficiários) hegemonia sul/sudestina, até grupos de ambientalistas dominados por correntes fundamentalistas.
O ministro Geddel Vieira vem desenvolvendo uma política sábia, de ouvir as reivindicações das populações ribeirinhas do Nordeste Meridional e de Minas Gerais, procurando incorporá-las de modo a se sentirem igualmente contempladas. Igualmente, merece ser destacado o cuidado em dar prosseguimento simultâneo às obras de revitalização do rio, sobretudo, cuidando do reflorestamento das matas ciliares e da construção das obras de infra-estrutura de saneamento, nas aglomerações urbanas ribeirinhas. Todos, pois, estão de parabéns.