A Comissão de Relações Exteriores do Senado realizou nesta quinta-feira () audiência pública, dividida em dois painéis, sobre a entrada da Venezuela no Mercosul. O primeiro painel, pela manhã, teve como palestrantes o Presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, Darc Costa, o deputado federal e ex-governador de Roraima Neudo Campos, o ex-prefeito do município de Chacao, região metropolitana de Caracas, Leopoldo López e o escritor Gustavo Tovar-Arroyo.
Para a segunda audiência, que teve início às 14h30, foram convidados os embaixadores Samuel Pinheiro Guimarães Neto, secretário-geral das Relações Exteriores do Ministério das Relações Exteriores (MRE), o ex-ministro do MRE Luiz Filipe Lampreia e o coordenador do curso de especialização em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Pio.
Os primeiros momentos da sessão foram marcados por debates em torno de carta enviada à Comissão pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya, na qual este explica a sua ausência. O embaixador participaria do segundo painel, a ser realizado algumas horas mais tarde, mas decidiu não comparecer. O documento enviado por Montoya foi lido pelo presidente da CRE logo no início da reunião. Nele, o embaixador considera que a discussão em torno do ingresso da Venezuela no Mercosul não deve ser dominado “pelo jogo de interesses de particularíssima condição política", referindo-se à presença, no primeiro painel, de dois representantes da oposição na Venezuela – Leopoldo López e Gustavo Tovar-Arroyo.
O senador Inácio Arruda defendeu o embaixador, considerando indevida a presença dos dois opositores venezuelanos. “É injusto para qualquer país que você convoque a oposição ao governo para debater um assunto de interesse de Estado em outro país. É a mesma coisa de levar a oposição brasileira para um debate na Venezuela sobre o ingresso do Brasil em um bloco econômico. Considero pertinente a posição do embaixador da Venezuela, pois se algo parecido ocorresse, também mandaria uma carta de protesto contra essa atitude”, defendeu. Após a leitura da carta do embaixador, foi apresentado requerimento de voto de censura ao embaixador da Venezuela, que foi derrotado.
O presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul, Darc Costa, observou que a indústria brasileira enfrenta hoje uma "ferrenha competição" com a indústria chinesa pelo mercado regional, onde sempre desfrutou de uma condição favorecida. Em sua exposição, ele procurou afastar-se de "questões conjunturais" para defender a construção de um grande mercado sul-americano, uma questão que, em sua opinião, interessa a "nossos netos".
Da mesma forma, o deputado federal Neudo Campos, ex-governador de Roraima por dois mandatos, disse aos integrantes da comissão que procurou "intensamente" ampliar as relações de seu estado com a Venezuela, país com o qual o estado faz fronteira. Em sua opinião, o ingresso da Venezuela no bloco poderá ser considerado "emblemático", pois abriria caminho para a entrada de outros países sul-americanos, aproximando os estados do Norte brasileiro do Mercosul.
O Senador Inácio Arruda enumerou os pontos positivos do ingresso da Venezuela no Mercosul para o Brasil: “Do ponto de vista comercial, hoje as vantagens do ingresso da Venezuela são grandes para o Brasil. As trocas comerciais entre os dois países cresceram muito e se encontram em um patamar acima da média, se comparado a outras exportações.” Segundo o parlamentar, o viés ideológico não deve contaminar os debates sobre a questão, devido à dimensão estratégica do Mercosul para o desenvolvimento da região: “O Mercosul que interessa a todo o Brasil envolve a Venezuela, a Guiana, a Colômbia.
As possibilidades do Brasil crescem à medida que você integra mais a América do Sul. A entrada da Venezuela abre de fato um caminho positivo para ampliarmos o bloco, lidando com interesses não só da região, mas também da China, União Européia, Estados Unidos, dentre outros”, enumerou. “Vamos criar condições mais favoráveis para a entrada de membros plenos no Mercosul, isso nos ajuda e ajuda a região sul-americana”, observou Inácio.