Ao homenagear o centenário de Rachel de Queiroz, em sessão solene no Senado Federal, o senador Inácio Arruda saudou a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, ressaltando a vida “intensa e fecunda” da escritora cearense, que viveu 93 anos, mas com apenas 20 foi rapidamente reconhecida e aclamada por intelectuais do porte de Mário de Andrade Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Cruls. “A petulância da juventude”, como chamara, a transformou numa romancista”, lembrou o senador.
Inácio citou passagens da vida de Rachel, quando, por exemplo, ainda muito nova, em 1927, escreveu uma carta ao jornal “O Ceará” usando o pseudônimo de "Rita de Queluz", ironizando o concurso "Rainha dos Estudantes", promovido por aquela publicação. Ainda sob o pseudônimo de Rita de Queluz, ela passou a colaborar no recém-lançado jornal de Demócrito Rocha, na página literária Modernos e Passadistas.
“Rachel sempre teve a preocupação em registrar o testemunho mais fiel possível do seu tempo e de sua gente, deixando ao leitor a tarefa de tirar as conclusões, disse Inácio, acrescentando que isso a motivou, entre outras coisas, a escrever seu primeiro livro, de repercussão nacional praticamente imediata: “O Quinze”. “Acreditava que a literatura sobre a seca produzida até aquele momento era insuficiente para captar o drama humano que conhecera tão de perto, ainda na infância, aceitando o desafio de deixar sua impressão”, registrou Inácio em seu pronunciamento.
A sessão solene em homenagem ao centenário de Rachel de Queiroz no Senado Federal foi uma iniciativa do senador Inácio Arruda, através do requerimento N° 256/2010, aprovado no plenário do Senado. Ele aproveitou a ocasião para distribuir com os presentes cópias do fac-símile manuscrito do livro O Quinze. O manuscrito foi disponibilizado por José Mindlin, presidente da Sociedade de Cultura Artística e colecionador de livros raros desde os treze anos de idade, além de ter sua publicação autorizada por Maria Luiza de Queiroz Salek, irmã da escritora.
Durante a sessão solene Rachel de Queiroz foi homenageada por vários senadores, entre eles o presidente da Casa e também imortal, José Sarney, dizendo: “Enquanto existir a literatura brasileira, a obra da escritora estará presente como um dos momentos mais importantes e mais extraordinários da inteligência do país. E também, enquanto eu viver, ela estará viva na minha memória”.
Representando a família de Rachel de Queiroz, a editora de suas obras, Maria Amélia Mello. Na ocasião foi distribuída a publicação “Letras”, editada pela Fundação Demócrito Rocha, especialmente para celebrar o centenário da escritora.
A comemoração do centenário de nascimento de Rachel de Queiroz, segundo o senador Inácio Arruda, é uma justa homenagem a esta mulher singular. “Que a nostalgia gerada por sua ausência no cenário intelectual brasileiro nos remeta, usando uma imagem de uma crônica da própria Rachel, a um cheiro de alfazema e mocidade”. E finalizou recorrendo ao poeta e acadêmico Manuel Bandeira, ao escrever o "Louvado para Rachel de Queiroz", em virtude do cinquentenário da escritora:
Louvado para Rachel de Queiroz
Louvo o Padre, louvo o Filho,
O Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel, minha amiga,
nata e flor do nosso povo.
Ninguém tão Brasil quanto ela,
pois que, com ser do Ceará,
tem de todos os Estados,
do Rio Grande ao Pará.
Tão Brasil: quero dizer
Brasil de toda maneira
— brasílica, brasiliense,
brasiliana, brasileira.
Louvo o Padre, louvo o Filho,
o Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel e, louvada
uma vez, louvo-a de novo.
Louvo a sua inteligência,
e louvo o seu coração.
Qual maior? Sinceramente,
meus amigos, não sei não.
Louvo os seus olhos bonitos,
louvo a sua simpatia.
Louvo a sua voz nortista,
louvo o seu amor de tia.
Louvo o Padre, louvo o Filho,
o Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel, duas vezes
louvada, e louvo-a de novo.
Louvo o seu romance: O Quinze
E os outros três; louvo As Três
Marias especialmente,
mais minhas que de vocês.
Louvo a cronista gostosa.
Louvo o seu teatro: Lampião
e a nossa Beata Maria.
Mas chega de louvação,
porque, por mais que a louvemos,
Nunca a louvaremos bem.
Em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo, amém.
Veja na íntegra o pronunciamento do Senador Inácio Arruda em homenagem ao centenário de Rachel de Queiroz.
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PRONUNCIAMENTO DO SENADOR INÁCIO ARRUDA (PC DO B – CE)
Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras e Senhores Senadores,
Há exatos 100 anos, no dia 17 de novembro de 1910, nascia em Fortaleza a menina Rachel, filha de Daniel de Queiroz Lima e de Clotilde Franklin de Queiroz.
A nossa homenageada a escritora Rachel de Queiroz faz parte da nobre estirpe cearense dos Alencar, na qual identificamos, em ramo familiar próximo, o jornalista e senador do Império José Martiniano Pereira de Alencar, por duas vezes presidente da província do Ceará e também seu filho, o famoso escritor José de Alencar.
Toda a genialidade literária e precocidade de Rachel de Queiroz é também fruto da educação recebida de seus pais, em que o desenvolvimento do gosto pela leitura ocupava posição central. Dizia Rachel: “Nasci numa casa de intelectuais – meu pai, minhas tias e minha mãe, que, lá na fazenda, no sertão, assinava revistas e livros franceses. Em casa, o ambiente era esse. O normal era escrever”
O pai, que transitava entre a carreira jurídica e a atividade docente, encarregou-se pessoalmente de suas primeiras letras e sua mãe, ávida leitora de autores nacionais e estrangeiros, especialmente franceses, orientou-a na ampliação de seus horizontes, muito além de seus estudos formais, encerrados com a conclusão do curso normal aos 15 anos de idade.
Aqueles que nos acompanham neste momento me permitirão abandonar a linha estritamente cronológica desse pronunciamento. Rachel de Queiroz viveu uma vida bastante intensa e fecunda de praticamente 93 anos, somada aos 7 de saudade que completam a mágica dos 100 anos que valorizam a homenagem. Por outro lado, a própria Rachel gostava de ensinar aos jovens repórteres que a procuravam que a vida não funcionava como uma história em quadrinhos, onde o acontecimento de um quadro era desdobrado logicamente no quadro seguinte.
Vou me arriscar, portanto, a continuar a apresentar a homenageada tomando como base temas que transitaram em sua vida e apresentam-se refletidos em sua marcante obra.
Com o pseudônimo de "Rita de Queluz" ela envia ao jornal "O Ceará", em 1927, uma carta ironizando o concurso "Rainha dos Estudantes", promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta a convida para colaborar com o veículo. Três anos depois, ironicamente, quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita a "Rainha dos Estudantes". Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local, com uma única explicação "Sou repórter".
Aos 16 anos, começou a publicar em jornal. Nos arquivos do OPOVO, de Fortaleza, preservam-se amostras de suas primeiras criações literárias. Sob o pseudônimo de Rita de Queluz, ela colaborava no recém-lançado jornal de Demócrito Rocha que, em 1928, na página literária Modernos e Passadistas, estampa a produção dos escritores locais, ao lado de poemas de Guilherme de Almeida, Peregrino Júnior, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e outros.
Sempre teve a preocupação em registrar o testemunho mais fiel possível do seu tempo e de sua gente, deixando ao leitor a tarefa de tirar as conclusões. Isso a motivou, entre outras coisas, a escrever seu primeiro livro, de repercussão nacional praticamente imediata: “O Quinze”. Acreditava que a literatura sobre a seca produzida até aquele momento era insuficiente para captar o drama humano que conhecera tão de perto, ainda na infância, aceitando o desafio de deixar sua impressão.
Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever "um livro sobre a seca". "O Quinze" — romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca — é mostrado aos pais, que decidem "emprestar" o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, sendo elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel numa personalidade literária. Com o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora "paga" o empréstimo dos pais.
Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, mantida pelo escritor, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura).
A “petulância da juventude”, como chamara, a transformou numa romancista. Aos 20 anos foi rapidamente reconhecida e aclamada por intelectuais do porte de Mário de Andrade Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Cruls. O poeta-editor Augusto Frederico Schmidt assim referiu-se ao O Quinze: Livro brasileiro, profundamente brasileiro! Que felicidade o se poder chamar um livro nosso de brasileiro, porque a preocupação brasileira que seguiu o nosso movimento modernista quase que retirou dessa circunstância toda a excelência, tornando-se até uma coisa artificial, à força de intencionalidade.
O escritor Graciliano Ramos prestou o seguinte depoimento: O quinze caiu de repente ali por meados de 30 e fez nos espíritos estragos maiores que o romance de José Américo, por ser livro de mulher e, o que na verdade causava assombro, de mulher nova. Seria realmente de mulher? Não acreditei. Lido o volume e visto o retrato no jornal, balancei a cabeça: Não há ninguém com esse nome. È pilhéria. Uma garota assim fazer romance! Deve ser pseudônimo de sujeito barbado. Depois, conheci João Miguel e conheci Rachel de Queiroz, massificou-me durante muito tempo a idéia idiota de que ela era homem, tão forte estava em mim o preconceito que excluía as mulheres da literatura. Se a moça fizesse discursos e sonetos, muito bem. Mas escrever João Miguel e O quinze não me parecia natural.
Rachel quando chegou ao Rio de Janeiro, no início da década de trinta, foi procurada por José Olimpio. Nascia aí uma associação que durariam 57 anos. Durante todo esse tempo, a Editora José Olympio publicou a maioria das obras de autoria de Rachel e aquelas por ela traduzida. Só nos anos quarenta foram 31 traduções, aí incluindo obras de Dostoievski, Tolstoi, Balzac. Rachel conta que trabalhava regularmente, como verdadeira operária da tradução, oito horas por dia. “Nisso ganhava a vida e a única vantagem que levava sobre os funcionários da firma é que trabalhava em casa”. Ao traduzir Os irmãos Karamazov, por exemplo, Rachel recebeu de José Olympio cinco traduções diferentes, tidas como as melhores em cinco idiomas: francês, espanhol, italiano, alemão e inglês. Na extensa bibliografia apresentada pela página da Academia Brasileira de Letras, contam-se 46 obras traduzidas pela José Olímpio.
Entretanto, afirmou a vida toda que escrevia menos por prazer do que pela necessidade de se sustentar, razão pela qual só contabilizava 5 títulos – “O Quinze”, “As Três Marias”, “Dôra, Doralina”, “O Galo de Ouro” e “Memorial de Maria Moura” – pois os outros livros eram compilações de crônicas feitas para vários órgãos de imprensa com que se relacionou ao longo da sua fértil vida intelectual.
Considerava-se, para escrever, preguiçosa. Chegou a comparar o ato de escrever a uma gravidez, onde o livro ficava ali dentro, crescendo e incomodando, sem pressa, até que pudesse sair. Contudo, valorizava a imensa capacidade de entretenimento da literatura, o prazer de ter em mãos bons livros. Sempre moderna, já na era da predominância da Internet, destacava a diferença entre a informação, disponível de forma facilitada na rede mundial, relacionada com o trabalho, e a literatura, essa sim, destinada ao lazer. Agoniava-se, entretanto, com a necessidade de produzir essa satisfação no leitor mesmo com a mais descompromissada das crônicas que publicava regularmente.
O Ceará carregava consigo por onde a vida a levava. Reproduzia na vida pessoal um pouco da vida do cearense, que encontramos em todo o mundo. Desde a primeira mudança de residência, com a família se afastando dos efeitos perversos da grande seca de 1915, inicialmente para o Rio de Janeiro, depois para Belém, foi e voltou pelo Brasil – Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo, Maceió – sem perder o contato com as antigas raízes da família Queiroz em Quixadá.
Também é do cearense o gosto pela conversa, pelo relato de “causos”, pelo relacionamento humano. “Gosto do ser humano” disse certa vez, “gosto da humanidade, gosto dos meus próximos e gosto dos distantes”. Gostava, sobretudo, das crianças, do sentimento de maternidade, multiplicado e expandido na relação de cumplicidade avó-neto. Considerava-se possuidora de uma maternidade inesgotável, que não pudera ver fluindo em descendência própria em razão do falecimento de sua única filha, antes de completar dois anos.
Acabou sendo avó de todas as crianças da família, colocando seu talento no contar histórias, o que permitiu que enveredasse também pela literatura infantil.
Seu livro O Quinze é lançado numa época de intensa agitação política e cultural e na efervescência do fim da Republica Velha. Rachel ousou lutar em várias trincheiras, seja nas letras, nas redações dos jornais e na luta política partidária sendo a época membro militante do partido comunista.
O lançamento do romance "Caminho de Pedras", pela José Olympio – Rio se dá em 1937, que seria sua editora até 1992. Em 1937 com a decretação do Estado Novo, seus livros são proibidos e queimados em Salvador – BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos. Permanece detida, por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza.
Nunca lhe abandonou a crítica às injustiças e o sentimento social que a levou a escrever “O Quinze”. Nunca lhe abandonou a preocupação com a educação, mesmo tendo rejeitado convite para assumir o respectivo ministério, o que a tornaria pioneira no primeiro escalão do Executivo. Era só uma jornalista, disse então ao Presidente Jânio Quadros, “e gostaria de continuar sendo apenas jornalista”.
Nunca lhe abandonou, sobretudo, o entendimento da democracia, da importância do voto e da liberdade de manifestação do pensamento, como revelava em crônicas à época da primeira eleição do Presidente Lula, com o mesmo ardor dos escritos da juventude.
Disse certa vez Rachel: “Eu sou muito humilde. Eu não faço grande uso de mim mesma, e, portanto, da minha chamada “obra”. Mas numa coisa eu posso lhe garantir que estou tranqüila: Percorra todo o meu trabalho, desde a adolescência, quando comecei a trabalhar em jornal e você nunca encontrará uma só palavra contra a liberdade, contra os direitos humanos, contra a igualdade racial. Quer dizer, minha folha de serviço não é brilhante, mas é limpa.”
Mulher forte, como todas as suas personagens. Quebrou, um tabu, tendo sido a primeira mulher admitida na Academia Brasileira de Letras, em 1977, derrotando ninguém menos do que o grande jurista Pontes de Miranda. Ressaltava que tinha sido escolhida por sua obra e não pelo fato de ser mulher, e aproveitou a oportunidade para brincar com o aparente machismo da Academia, escolhendo um modelo de fardão bastante sóbrio, comparada com o dos seus pares, “na medida em que todas as fêmeas da espécie animal são menos ornamentadas que os machos”.
Na sua literatura, as mulheres também são dominantes, fortes, positivas, na tradição multissecular da mulher fazendeira nordestina, a matriarca que cuidava dos negócios da família nas longas ausências de seus companheiros. O texto de Rachel nos fala tanto de classe social, quanto de gênero sendo vanguarda nestas questões.
Quando se trata de uma imortal, a homenagem tem que ser feita para sempre. Quero ressaltar dentre as muitas iniciativas para comemorar o centenário de Rachel de Queiroz a que o grupo de comunicação OPOVO em conjunto com a Fundação Demócrito Rocha preparou para a celebração do centenário de Rachel de Queiroz, que acontece também hoje em Fortaleza com o Prêmio Rachel de Queiroz, o lançamento de uma revista e a exibição de um documentário na TV OPOVO. O Projeto Rachel de Queiroz 100 anos contou ainda com o lançamento de livros pelas Edições Demócrito Rocha: O infanto Juvenil Rachel, o mundo por escrito; o livro de ensaios críticos Rachel de Queiroz, uma escrita no tempo, e duas coletâneas de crônicas A Lua de Londres e Do Nordeste ao infinito. Homenagens que ficarão guardadas para sempre na memória dos cearenses.
A Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, promove a "Exposição Rachel de Queiroz". O chargista Sinfrônio também decidiu reverenciar Rachel. A ideia surgiu no ano passado e, agora, ele está lançando uma animação concebida em computação gráfica 3D. "1915 – O ano em que a Terra queimou" tem roteiro inspirado no romance "O Quinze". A editora Armazém da Cultura lança, um livro inédito de poesias da autora, intitulado "Serenata". Os poemas, que datam de 1925 a 1930, já haviam sido publicados em jornais e revistas cearenses da época e foram entregues à editora pelo bibliófilo José Augusto Bezerra, que mantém o Memorial Rachel de Queiroz. O livro é organizado e apresentado pela escritora Ana Miranda.
Senhor Presidente, Senhoras Senadoras e Senhores Senadores,
À maneira dos pintores impressionistas, espero que essas pinceladas esparsas que produzi tenham tido o condão de compor, no conjunto, o belo quadro que representa Rachel de Queiroz, sua vida e sua obra. E reconheço a impossibilidade de esgotar, numa fala apenas, a sua universalidade.
A comemoração do centenário de seu nascimento é uma justa homenagem a esta mulher singular. Que a nostalgia gerada por sua ausência no cenário intelectual brasileiro nos remete, usando uma imagem de uma crônica da própria Rachel, a um cheiro de alfazema e mocidade.
Ao encerrar recorro ao poeta e acadêmico Manuel Bandeira, ao escrever o "Louvado para Rachel de Queiroz", em virtude do cinquentenário da escritora:
Louvado para Rachel de Queiroz
Louvo o Padre, louvo o Filho,
O Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel, minha amiga,
nata e flor do nosso povo.
Ninguém tão Brasil quanto ela,
pois que, com ser do Ceará,
tem de todos os Estados,
do Rio Grande ao Pará.
Tão Brasil: quero dizer
Brasil de toda maneira
— brasílica, brasiliense,
brasiliana, brasileira.
Louvo o Padre, louvo o Filho,
o Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel e, louvada
uma vez, louvo-a de novo.
Louvo a sua inteligência,
e louvo o seu coração.
Qual maior? Sinceramente,
meus amigos, não sei não.
Louvo os seus olhos bonitos,
louvo a sua simpatia.
Louvo a sua voz nortista,
louvo o seu amor de tia.
Louvo o Padre, louvo o Filho,
o Espírito Santo louvo.
Louvo Rachel, duas vezes
louvada, e louvo-a de novo.
Louvo o seu romance: O Quinze
E os outros três; louvo As Três
Marias especialmente,
mais minhas que de vocês.
Louvo a cronista gostosa.
Louvo o seu teatro: Lampião
e a nossa Beata Maria.
Mas chega de louvação,
porque, por mais que a louvemos,
Nunca a louvaremos bem.
Em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo, amém.
Salve, Rachel de Queiroz, deusa mãe no panteão intelectual brasileiro! Salve, minha conterrânea, brava mulher cearense, cuja luz alcança até os confins da terra.
Muito obrigado!