O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, pediu ontem, em El Salvador, que os militares de seu país "baixem seus rifles contra o povo", após um manifestante ter sido morto durante um conflito com as Forças Armadas.
De acordo com a Cruz Vermelha, além de ter matado uma pessoa, o confronto deixou outros 15 feridos. Veículos da imprensa local e um chefe da polícia, contudo, afirmaram que houve duas mortes nos enfrentamentos. Em seu discurso em San Salvador, o presidente destituído ressaltou que os oficiais praticaram "um ato criminoso que não pode ficar impune".
Por sua vez, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, ratificou ontem sua determinação em prosseguir com os diálogos diplomáticos para "cumprir as normas" da organização e para que Zelaya volte ao poder.
Na capital salvadorenha, Zelaya recebeu o apoio dos presidentes Rafael Correa, do Equador, Cristina Kirchner, da Argentina, Fernando Lugo, do Paraguai, e Mauricio Funes, de El Salvador. Todos eles se reuniram em San Salvador.
Durante o pronunciamento à imprensa, não foram explicados quais serão os próximos passos dos líderes para fazer com que Zelaya retorne à presidência de Honduras, após o golpe de Estado que o tirou do poder no dia 28 de junho. "Nossa tarefa será continuar usando todos os meios diplomáticos possíveis" para restituir Zelaya ao poder, reiterou o secretário-geral da OEA.
Em nome dos líderes que apoiam o governante deposto, a presidente Cristina Kirchner afirmou que a rejeição ao governo de fato de Honduras expressa uma posição multilateral "indispensável" para preservar a democracia e os direitos humanos.
A mandatária também advertiu que os episódios ocorridos em Honduras nas últimas semanas mostram que "a democracia não é um bem definitivo, mas deve ser construída todos os dias".
Cristina ainda ressaltou que, com a participação dos países da OEA no processo político hondurenho, "resgatamos a reconstrução do multilateralismo regional e universal, para que nenhum indivíduo possa decidir por si próprio o futuro de milhões de pessoas".
Ontem, Zelaya tentou retornar a Honduras, acompanhado do presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel D\’Escoto. O mandatário deposto, entretanto, não pôde pousar no aeroporto internacional de Toncontín, em Tegucigalpa, pois os militares interditaram a pista de pouso com uma série de veículos.
Zelaya afirmou que os pilotos da aeronave que o transportava foram ameaçados pela torre de controle do aeroporto. Falou-se inclusive, segundo o mandatário deposto, de uma intervenção da Força Aérea. Nas proximidades do aeroporto, os seguidores de Zelaya que esperavam a aterrissagem do mandatário eleito democraticamente foram reprimidos pelas forças de segurança.
Após a tentativa frustrada de chegar a Tegucigalpa, a aeronave que transportava Zelaya seguiu para a Nicarágua, onde aterrissou na capital Manágua. De lá, o presidente hondurenho seguiu para El Salvador.