Flávio Dino (PCdoB) chegou ao colégio Aprovação, no centro de São Luís, pouco depois da 20h. E diante de centenas de pessoas que ainda tentavam se acostumar com o amargo que deixou na boca a derrota para o tucano João Castelo, disse que queria compartilhar algo com seus companheiros de militância. “Quero dividir algo saboroso, que somente nós aqui podemos dividir: o futuro”. Embora estivesse abatido pelo resultado das urnas, seu discurso deixou no ar a vontade de continuar a luta por uma São Luís melhor.
Dino declarou: “me apaixonei pela idéia de me candidatar à prefeitura e desde então lutei dia e noite por isso, com o objetivo de transformar a nossa cidade”. Ele recordou que começou o trabalho com poucas adesões e um índice de apenas 4% das intenções de voto. Agora, cercado de gente que o apóia, atingiu mais de 44% dos votos. “Termino o processo eleitoral de cabeça erguida”, salientou.
Enfatizando mais uma vez o caráter da campanha feita por Castelo, Flávio disse que “vocês que estão aqui não acreditaram na fraude, não entraram no reino da mentira. Por isso, cada um de nós poderá dormir com a paz de espírito que eles, nossos adversários, nunca terão”. E completou: “é isso que nos faz sermos vermelhos; vermelhos porque tentamos construir um caminho novo, de uma forma diferente e tratamos gente como gente e é assim que deve ser”.
Dino declarou que ao se candidatar assumiu “o compromisso de ser o que sempre fui”, ao que uma das militantes completou: “… guerreiro!”. E emocionado explicou que “não choro por mim. Porque amo ser deputado federal e volto à Câmara com muito orgulho”. Queria, reconheceu, “vencer essa disputa, mas não a qualquer custo porque o mais importante é poder olhar para o povo de São Luís e do Brasil sem sentir vergonha”.
Sobre o processo eleitoral, lamentou: “passei por uma máquina de moer gente que não conseguiu me moer. Sonhava com a vitória e agora choro pelo povo de São Luís”. Ele completou dizendo que “não é precioso desejar sorte ao Castelo porque na verdade ele não deseja isso a si mesmo, afinal, ele é o que é”. Conforme colocou durante o discurso, “sabemos que Castelo será coerente: venceu de modo sujo e vai governar dessa mesma forma”.
Recordando da primeira eleição de Lula à presidência, Dino disse que “essa derrota tem um gostinho de 1989, quando Lula perdeu para Collor, que se utilizou do mesmo tipo de sujeira”. Lembrando do oportunismo de Castelo que se aproximou do presidente por interesses eleitorais, o comunista declarou que “a arrogância, a prepotência e a violência de nossos adversários chegaram ao ponto de quererem se apropriar até de nossos símbolos, como Lula”.
Tentando consolar os militantes, disse que “no final, tudo acaba bem; se não acabou bem é porque não é o fim”. E concluiu: “adoro ver o pôr-do-sol de São Luís, mas o que vemos aqui é a alvorada. E o sol não sou eu. O sol é uma idéia, um sentimento, uma perspectiva e que tem a cara de milhões de pessoas. Façamos do sabor da lágrima um sabor doce, de esperança e de luta. Queria dar a vocês um discurso triunfante. Não pude. Mas não entrego a vocês o discurso da derrota”.
Seu companheiro de chapa, o candidato a vice, Rodrigo Comerciário, disse que “demos nosso sangue e suor e conhecemos toda a cidade. Sabemos quais são suas necessidades e por isso sabemos que sempre estivemos preparados para assumir a prefeitura”. Ele fez um agradecimento especial à direção nacional do PCdoB, “que sempre reconheceu meu papel. Vi lealdade e sinceridade desses dirigentes”.
Rodrigo observou também que “vivemos um momento importante da história de nossa esquerda. E chegamos até esse ponto sem oferecermos nada em troca, nem cargo, nem dinheiro. Os companheiros aderiram à nossa candidatura pelo desejo de mudar nossa cidade”. Rodrigo disse ainda que “vamos lutar de forma democrática para ter candidatos em 2010”.
Logo após a finalização da contagem dos votos, Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, avaliou a situação de São Luís. “Trata-se de uma vitória política importante porque projeta uma nova aliança de esquerda. E isso fez com que vejamos surgir um novo nome. Flávio surge como uma liderança para além de São Luís”.
Sobre os atos praticados por João Castelo, Renato disse que “esse é o tipo de situação que reflete como as forças oligárquicas ainda tratam o pleito. É sempre na base da troca, dos favores, da influência, do dinheiro”. Renato afirmou ainda que a oligarquia representada por Castelo “está acostumada a usar de meios ilícitos, de sua influência e do poder econômico para comprar voto e tentar manipular a verdade”.
Por isso, ressaltou, “todas as forças que representam uma nova concepção baseada na luta pela mudança uniram-se à nossa candidatura. Nossa campanha foi de esquerda”. Por fim, o dirigente ressaltou a importância da militância, “presente a todos os eventos e que se dedicou à campanha”.