Crise do capitalismo


As principais vítimas das crises do sistema capitalista sempre foram as famílias pertencentes à classe trabalhadora e desta vez não será diferente. A Organização Mundial do Trabalho (OIT) advertiu nesta segunda-feira (-10) que a atual crise do capitalismo internacional terá um grave impacto na economia real e levará à perda (líquida) de 20 milhões de postos de trabalho no mundo.

"O último cálculo que fizemos, com base nas projeções do FMI, da ONU e com os dados existentes dos países, nos leva à conclusão de que, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009 – ou seja, em dois anos – se perderão 20 milhões de vagas", disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavía, durante entrevista em Genebra.

Mais de 200 milhões no olho da rua

"Com isto, o número de desempregados (no mundo) aumentará de 190 milhões, em 2007, até 210 milhões, no final de 2009", concluiu. "E achamos que este cálculo ainda pode estar subestimado, pois não sabemos como vai evoluir a crise, se o crescimento recuará mais do que o projetado ou se a recessão será mais longa", advertiu.

Na opinião de Somavía, "se temos enormes recursos para resgatar o sistema financeiro, não podemos dizer que não há esses recursos para salvar o povo, porque é o povo que vai sofrer os danos da crise".

Perversidade capitalista

O diretor-geral da OIT tocou num aspecto crucial da intervenção feita pelos Estados capitalistas a pretexto de debelar a crise, um fato que nos remete ao caráter de classe do Estado burguês. Os planos multibilionários, que já elevaram em mais de 2 trilhões de dólares as dívidas públicas nos EUA, União Européia e Japão, têm por objetivo socorrer bancos, banqueiros e altos executivos, mas não reservam um só tostão para os pobres.
Governantes como Bush, nos Estados Unidos ou Sarcosy, na França, entre outros, representam os interesses dos grandes capitalistas e governam de costas para os povos. Dezenas de milhões de trabalhadores e trabalhadoras que a recessão provocada pelos capitalistas jogará no olho da rua serão abandonados ao deus-dará, assim como a multidão de mutuários pobres, inadimplentes nos Estados Unidos foram condenados a perder seus imóveis e muitos já viraram moradores de rua ou transformaram seus automóveis em residência.

O presidente francês anda preocupado em alongar a jornada de trabalho dos operários, o que vai agravar o problema do desemprego. Os planos espetaculares que foram anunciados para socorrer o sistema financeiro carregam a perversidade desumana do capitalismo, pois socializa os prejuízos, procura preservar os lucros privados e ignora os interesses da classe trabalhadora, condenando-a a pagar a conta amarga da crise.

Mobilizar a classe trabalhadora

Aos trabalhadores, às trabalhadoras e às organizações sociais resta o caminho da luta para denunciar o caráter capitalista da crise e exigir iniciativas enérgicas por parte do poder público em defesa do emprego, dos salários e da ampliação da rede de seguridade social nesses momentos críticos.

Inegavelmente, o Brasil se encontra em melhores condições que no passado para enfrentar as turbulências provenientes dos EUA. As reservas em dividas fortes constituem um colchão razoavelmente confortável para o país, mas os acontecimentos no mercado de capitais e de câmbio mostram que isto não significa que o país está imune à crise  e nem mesmo que superou a histórica vulnerabilidade externa da economia nacional.

Técnicos do Dieese já projetam uma redução significativa no ritmo de criação de novos postos de trabalho, de forma que podemos esperar uma elevação do nível de desemprego no próximo ano, no rastro da desaceleração econômica. Por isto, torna-se ainda mais urgente a luta para conquistar a estabilidade no emprego, garantindo a regulamentação do princípio constitucional contra a demissão imotivada e a ratificação da Convenção 158 da OIT, além de pressionar por mudanças na política econômica, que ainda é fortemente influenciada pelas receitas neoliberais e reativar a campanha pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários.

Unidade das centrais

Conforme salientou a nota emitida pela CTB sobre o tema no último final de semana (intitulada “O capital financeiro deve pagar a conta da crise”) “o movimento sindical e a classe trabalhadora brasileira não devem se dar ao luxo de contemplar passivamente o desenrolar da crise, pois esta constitui uma série ameaça às modestas conquistas obtidas pelo povo brasileiro desde a eleição do presidente Lula, em 2002.

A CTB também conclamou as demais centrais sindicais a reforçar sua unidade, debater imediatamente o tema e elaborar uma posição conjunta, destacando a defesa do emprego e dos direitos trabalhistas, avanço da integração latino-americana, fortalecimento do Estado e do mercado interno, regulação rigorosa dos fluxos de capitais e taxação das remessas de lucros e dividendos das transnacionais. As supostas saídas para a crise do capitalismo não têm caráter meramente técnicas e não devem ser confiadas a economistas e políticos negligentes que não foram capazes de prever a tormenta financeira e prevenir seus efeitos.

Os pacotes de socorro ao sistema financeiro, embora bancados com dinheiro público, são fortemente influenciados pelos interesses de classe e pelo lobby capitalista (muito mais forte do que o lobby sindical). Daí a necessidade e urgência de um protagonismo maior dos movimentos sociais e das forças progressistas na luta para definir a orientação da política econômica e o destino dos recursos públicos que estão a ser canalizados para contornar os efeitos da crise.