Centenário do vôo do 14-Bis resgata vida e obra de Santos Dumont


Em 2006, celebra-se o centenário do primeiro vôo realizado em um aparelho mais pesado do que o ar. Tal feito, realizado em 23 de outubro de 1906, foi produto da audácia e do gênio inventivo de um brasileiro, Alberto Santos Dumont.


Para festejar o marco histórico no desenvolvimento tecnológico, o deputado federal Inácio Arruda quer instituir 2006 como o “Ano Nacional Santos Dumont”, em comemoração ao centenário do vôo do 14-Bis. O projeto de lei nº 5161/2005 já foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e segue para a Comissão de Constituição e Justiça. Já foram aprovados os requerimentos do parlamentar para a criação de um selo comemorativo e a realização, pelo Ministério da Educação, de um concurso de redação sobre o centenário. Para resgatar a vida e a obra de Santos Dumont, Inácio propõe ainda uma sessão solene na Câmara e uma campanha nacional de divulgação das comemorações. 


Santos Dumont nasceu, no dia 20 de julho de 1873, em Minas Gerais, na fazenda Cabangu (hoje, museu histórico), no arrail de João Gomes Velho, chamada depois de Palmyra e hoje leva seu nome. Já na sua infância destacava-se pelo talento com que produzia pequenos objetos voadores, feitos de bambu e propulsão a elástico. Em 1892, aos dezenove anos, inicia em Paris estudos de Física, Química e Matemática, além de desfrutar da efusiva vida cultural lá existente. Já em 1898, após um longo período de pesquisas e estudos em balonística, eleva-se aos céus de Paris em um balão de 113 metros cúbicos, quando a tecnologia vigente condicionava o uso a um volume de 700 a 800 metros cúbicos, fator de grandes riscos de acidentes. O invólucro de seda japonesa pesava apenas 3,5kg e a rede envolvente e o cordame de sustentação apenas 1,8kg. Um padrão tecnológico bastante avançado para a época.


Nos três anos seguintes constrói seis balões, e em 1901 contorna a Torre Eiffel. O percurso total durou 29 minutos e 30 segundos, partindo do Campo de Saint Cloud e executado com precisão e destreza. A façanha valeu-lhe o prêmio Deutsche de La Meurthe. O prêmio, no valor de 125 mil francos, foi dividido por Santos Dumont entre seus mecânicos e auxiliares, cabendo uma parcela ( mil francos) ao chefe de polícia de Paris para que os trabalhadores pobres pudessem resgatar ferramentas empenhadas. Gestos de grandeza que, ao mundo, revelavam o gênio e o humanista.


Nos cinco anos que se seguiram, desenvolveu nove outros projetos, com a média de um a cada seis meses. Em 1906, o milionário Ernst Archdeacon institui a taça que leva seu nome e o prêmio de 3.000 mil francos para aquele que, com tração própria, conseguisse levantar vôo, percorrendo uma distância mínima de 25 metros, em um aparelho mais pesado que o ar. Santos Dumont trabalha, então, no projeto que o mundo, anos mais tarde, denominaria “avião”. Era o 14-Bis. O modelo concebido por Santos Dumont era inverso ao que conhecemos hoje; ou seja, as asas e o motor estavam localizados na parte traseira. As superfícies de comando foram colocadas numa caixa vazada na parte dianteira, onde era flexionada determinando assim o giro direcional da aeronave. Tal configuração foi inspirada na observação dos patos selvagens, que se utilizam da cabeça e pescoço para direcionar e estabilizar o vôo.


No dia 23 de outubro, no campo de Bagatelle, na presença de centenas de pessoas e de uma câmara cinematográfica, Santos Dumont decola, percorrendo 61 metros de distância e 8 de altura. Marca que seria superada por ele mesmo dias depois, em 12 de novembro. O brasileiro vence o desafio e inaugura uma nova era para a humanidade: o transporte aéreo surgia a partir de então como uma possibilidade concreta e não mais como um sonho. Santos Dumont anuncia sua decisão de disponibilizar os planos de seu novo invento a qualquer pessoa interessada em desenvolvê-lo.