Um ano após última eleição de Chávez, Maduro pede novo modelo econômico na Venezuela


Militantes defendem discurso do governo, de que oposição é responsável pelo desabastecimento no país

Há um ano, o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez ganhava sua última eleição presidencial. Com 55% dos votos, o líder da chamada “Revolução Bolivariana” definia o pleito como “uma batalha perfeita”.

Para celebrar a data, milhares de venezuelanos saíram, nesta segunda-feira (07/10), vestidos de vermelho às ruas de Caracas. “Chávez vive, a luta segue” e “Não voltarão” – em alusão à oposição – foram alguns dos cânticos entoados por chavistas ensopados pela chuva que insistiu em marcar presença em boa parte da marcha, que terminou em concentração na frente do Palácio de Miraflores.

Luciana Taddeo/Opera Mundi
O cenário político e econômico atual difere do vivido em 7 de outubro do ano passado. Entre os desdobramentos da morte de Chávez estão a vitória de Nicolás Maduro contra o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, que não reconhece os resultados eleitorais de abril, a alta inflação, o dólar paralelo disparado e a escassez de produtos.

Por um lado, câmaras empresariais e setores opositores apontam o controle governamental de divisas para a importação como responsável pela baixa na produção nacional. Por outro, os chavistas, alinhados ao discurso governamental, acusam a oposição de promover uma “guerra econômica”, estocando produtos e aumentando preços indiscriminadamente.
“Esta guerra que a oposição está fazendo pode ser combatida com denúncias. Aqui há um povo que acordou e não podemos ficar calados. Temos que denunciar o que está acontecendo, os comércios que colocam esses preços tão altos”, disse a Opera Mundi Carmen Rojas, da organização Frente Francisco de Miranda.

Um dos problemas a serem enfrentados, segundo Rojas, é o consumo em grandes quantidades por medo à escassez. “Se não tem farinha de milho para fazer a arepa, tem banana, mandioca, podemos comer outras coisas. É um erro comprar cinco pacotes de farinha em vez de deixar alguns para que outros compatriotas também consigam”, argumenta.
Em pé ao seu lado enquanto Maduro não chegava ao palco, montado em frente ao palácio presidencial, o aposentado José Rodríguez, também integrante da organização, conta que o povo nunca foi levado em consideração pelas gestões anteriores à de Chávez. “Hoje ganho minha aposentadoria e trabalho com muito prazer pelo país”, afirmou, complementando: “Chávez resgatou o povo”.

Vestida de vermelho, com camiseta em alusão ao “4F” (data da insurreição militar liderada por Chávez em 1992, em uma tentativa de golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez), Rojas assente e complementa: “Desde que nosso comandante chegou, o povo levantou. Agora temos casa, postos de saúde, mercados estatais. É isso que a oposição não suporta. Mas Maduro pode ficar tranquilo, porque vamos levar este legado pra frente”, garantiu.

Para Rodríguez, o processo de conscientização da população, no entanto, é lento: “Ainda estamos acordando e tomando consciência de que os produtos estão caros por responsabilidade dos grandes empresários”, diz. Alinhada a esta opinião, a integrante do governista PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) Eunice Lares afirma que os chavistas passarão “da defensiva à ofensiva”.

“Essa marcha a um ano da vitória demonstra que Chávez não morreu, se multiplicou. Os chavistas estão aqui apoiando o Maduro e estamos dispostos a defender esta revolução com a vida, se necessário. É cedo para avaliar a gestão porque os planos do governo foram afetados pela guerra econômica, mas não vamos mais ficar quietos diante do que está acontecendo”, afirma.

Luciana Taddeo/Opera Mundi

Marcha desta segunda-feira foi encerrada com concentração em frente ao palácio presidencial

Quando questionada sobre em que consiste a ofensiva por parte dos chavistas, Lares fala em uma organização para identificar ações contra a distribuição e comercialização de produtos. “Nós estamos nos tornando oficiais da defesa da soberania alimentar do povo venezuelano. Estamos amparados com o conhecimento das leis para ir com a polícia ver um depósito, a retenção de produtos, e o que tenhamos que fazer a comida chegar ao povo.”

Durante seu discurso, Maduro também insistiu na questão que define como uma “guerra econômica”. “Estamos em dias chaves de uma batalha que temos que ganhar”, expressou, acusando a “burguesia amarela [cor associada à oposição]” de “sabotagem” e de ter um projeto “fascista” e “antipopular” para o país.

Aplaudido por militares que cercavam o palco, o chefe de Estado venezuelano reconheceu a necessidade de transformar o modelo econômico do país, atualmente dependente de importações através da renda petrolífera. Para ele, a tarefa principal deixada por Chávez é “superar o rentismo petrolífero responsável pela burguesia parasitária que viveu na Venezuela com sua riqueza durante 100 anos”.

Luciana Taddeo/Opera Mundi
O presidente venezuelano advertiu que se o modelo atual não for transformado em uma economia diversificada e produtiva, a “burguesia quebrará a coluna vertebral da Revolução Bolivariana”.

Para a deputada suplente do PSUV Antonieta Di Stefano, há uma campanha “muito forte” contra o governo por parte da oposição para gerar a sensação de escassez. “A direita é a dona dos alimentos mais midiáticos, como a farinha de milho, ingrediente da arepa, que remete à nossa cultura. E você vai ao supermercado e encontra a farinha de milho com outros ingredientes, que é mais cara, enquanto as outras estantes estão vazias”, explica.

Segundo Di Stefano, a oposição retém e especula com os produtos estrategicamente para gerar impacto na população. “Com os itens para o Natal, querem nos golpear pelos sentimentos. Seguram absorventes e papel higiênico, que são coisas elementares, para nos humilhar. Mas nós não vamos ser humilhadas, porque isso se chama resistência”, garantiu.

 

Fonte: OperaMundi

 

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