O presidente destituído do Egito, Mohammed Mursi, foi transferido ao Ministério da Defesa e separado dos assessores com que estava detido em um quartel da Guarda Republicana no Cairo, capital do país norte-africano, segundo um comunicado emitido nesta quinta-feira (4) pela Irmandade Muçulmana. Na quarta (3), após destituir Mursi, o Exército nomeou o presidente do Tribunal Constitucional Supremo, Adli Mansur, para a presidência interina do Egito.
A Irmandade Muçulmana confirma que o presidente destituído pelo Exército do Egito nesta quarta (3), Mohammed Mursi, encontra-se em prisão domiciliar.
Em uma entrevista televisiva, o ministro da Defesa, general Abdel Fatah al-Sisi, anunciou a suspensão temporal da Constituição e informou que Mansur convocará eleições legislativas e presidenciais antecipadas, de acordo com o chamado “mapa do caminho” acordado pelo Exército com alguns grupos proeminentes do país.
Depois das declarações do ministro de Defesa, Mursi emitiu um comunicado em que considerou a medida do Exército um “golpe de Estado” e exigiu a todos os egípcios, inclusive os altos oficiais militares, a “fazer cumprir as leis e a Constituição Nacional”, a não responder e a manter a tranquilidade para evitar um derramamento de sangue ainda maior nas ruas.
Depois da destituição de Mursi, a página virtual da cadeia Al-Jazeera publicou um comunicado em que informou que o serviço ao vivo da emissora no Egito havia sido retirado do ar, junto com outros canais televisivos.
A Irmandade disse também que “muitos membros da equipe presidencial está em prisão domiciliar” imposta por forças militares. Da mesma forma, meios estatais informaram que foram emitidas ordens de prisão de 300 membros da Irmandade Muçulmana.
Desde o início dos enfrentamentos entre os manifestantes pró e anti-Mursi, sobretudo em 30 de junho, ao menos 50 pessoas perderam as vidas e outras 350 ficaram feridas. O Exército diz manter Mursi detido de forma “preventiva”, para garantir “os preparativos finais”.
Já na noite desta quarta (3), após a destituição do presidente, ao menos 25 pessoas morreram e um número ainda indeterminado ficou ferido na onda de violência desatada no país após a medida do Exército, de acordo com fontes locais.
Os pormenores do projeto para a transição, composto por cinco pontos e várias advertências, foram difundidos em uma reunião com o grande imã da mesquita e universidade de estudos teológicos Al-Azhar, Ahmed El-Tayeb, e o representante da igreja cristã copta Teodoro 2º, que expressaram a sua conformidade.
Entre outros oradores que anunciaram a sua aprovação estavam o porta-voz do opositor do governo, Mohamed El-Baradei, prêmio Nobel da paz (que lançou o Partido Constitucional em 2012, depois unido com outros partidos seculares na Frente Nacional de Salvação, hoje liderada por El-Baradei), e também um alto dirigente do partido salafista (islamista e favorável à implementação da lei islâmica), Al-Nour.
Brasil considera que houve ruptura da ordem democrática no Egito
A deposição do presidente do Egito, Mouhamed Mursi, é tratada pelo Brasil como “ruptura da ordem democrática”. Mursi foi destituído do poder ontem (3) pelas Forças Armadas e no lugar dele foi nomeado o presidente da Suprema Corte, Adly Mansour. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar da Silva Nunes, reiterou à Agência Brasil que houve “ruptura” e negou a possibilidade de fechar a embaixada brasileira no país.
“Trata se de uma clara ruptura da ordem democrática devido à destituição de um presidente democraticamente eleito [Mursi] e à suspensão da Constituição”, disse o porta-voz. Segundo ele, o chanceler Antonio Patriota acompanha os acontecimentos no Egito por intermédio da embaixada brasileira, do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria de Estado do país.
Tovar rebateu a possibilidade, no momento, de fechar a Embaixada do Brasil no Egito, diferentemente do que determinaram os governos dos Estados Unidos e de Israel. “No momento, não se considera necessário”, ressaltou.
Ao ser perguntado se há mudanças no futuro das relações do Brasil com o Egito, o porta-voz disse que ainda é cedo para fazer a avaliação sobre mudanças. “Ainda não se pode falar em mudança das relações. O governo brasileiro deseja que o povo egípcio encontre uma solução dentro da ordem democrática de forma a atender às suas aspirações de uma sociedade mais aberta, mais justa e mais próspera”, destacou.
Reações internacionais
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon afirmou estar preocupado com a “interferência militar” depois da destituição de Mursi e instou os egípcios a “encontrar um terreno comum para avançar em uma transição pela qual lutam valentemente”.
Já o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, elogiou os protestos populares no Egito, ao descrever a situação como “a queda do denominado Islã político”. Em entrevista ao diário dírio Al-Thawra, Assad declarou que as atuações da Irmandade Muçulmana ajudaram o povo a “ver o que acontece através das mentiras”.
“Em qualquer parte do mundo, quem usa a religião com fins políticos ou para beneficiar uns e não a outros, cairá”, lia-se em um comunicado publicado pela Presidência síria em sua página oficial, como parte da entrevista de Assad.
Em outro sentido, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse estar “profundamente preocupado” com a situação e instou o Exército egípcio a devolver o controle do país a um governo democrático e civil, sem chegar a qualificar a destituição de Mursi de “golpe de Estado”.
Através de um comunicado publicado pela Casa Branca, Obama ressaltou a sua preocupação com a destituição de Mursi e a suspensão temporária da Constituição, e disse que seus assessores estão analisando o efeito que a ação do Exército trará à ajuda de Washington ao país árabe.
A representante da União Europeia (UE) para as Relações Exteriores, Catherine Ashton, também disse estar acompanhando de perto a situação, “plenamente consciente das profundas divisões na sociedade, das demandas populares para a mudança política e os esforços na negociação de um compromisso”, pedindo também um rápido retorno à democracia.
Por outro lado, o rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdelaziz al Saud felicitou Adli Mansur como o presidente interino do Egito, e indicou que a sua nomeação teve lugar em um dos momentos mais importantes da história do país norte-africano.
Após a destituição de Mursi, o líder opositor egípcio Amr Musa informou sobre o início das negociações para a formação de um novo governo e a reconciliação interna.
Blog do Renato Rabelo – com agências, da redação do Vermelho