Inácio homenageia centenário de Waldemar Alcântara


O senador Inácio Arruda registrou em plenário, dia 17, terça-feira, homenagem ao ex-governador do Ceará, Waldemar Alcântara, “um homem que se dedicou à ação pública”.

 

No dia 13 último, o Senado realizou sessão especial, proposta pelo senador José Pimentel, em homenagem ao ex-governador, registrando o centenário de seu nascimento. Ao registrar seu pronunciamento, Inácio lamentou o acidente com bicicleta sofrido pelo filho do ex-governador, o ex-senador e também ex-governador, Lúcio Alcântara; “Nós todos aqui estamos irmanados no sentido de que ele tenha pronta recuperação”.

 
Segue a íntegra do pronunciamento: 
 
 
Senhor Presidente, senhoras senadoras, senhores senadores,
 
 
O Plenário desta Casa realizou sessão especial, no último dia 13, para homenagear o ex-governador e ex-senador do Ceará, Waldemar Alcântara e Silva, no centenário de seu nascimento. Por ter compromissos em Fortaleza, naquele dia, não pude fazer aqui a minha saudação. 
 
 
A atuação de Waldemar Alcântara no parlamento começou em 1947, quando foi o candidato a deputado estadual mais votado do Ceará. Exerceu dois mandatos na Assembleia Legislativa; em 1954, foi deputado federal e, de 1968 a 1974, senador. Foi vice-governador em 1975 e governador do nosso estado de 1978 a 1979. Aqui no Senado, o médico Waldemar Alcântara denunciou as precárias condições sanitárias do país e chamou a atenção para a importância da medicina preventiva. Integrou a Comissão de Saúde e presidiu a Comissão de Segurança Nacional e Assuntos Regionais. Lutou por recursos públicos para resolver problemas como os da mortalidade infantil, epidemias, endemias crônicas e desnutrição.
 
 
Já no seu primeiro discurso no Plenário do Senado, o “advogado do Nordeste” preconizou uma nova política desenvolvimentista para a região nordestina. Em outro pronunciamento, em 1970, defendeu o aproveitamento do Rio São Francisco como forma de redimir o polígono das secas. Waldemar Alcântara também foi secretário de Saúde e de Educação do Ceará. Fundou e presidiu o Instituto do Câncer e o Instituto dos Cegos do estado. Fundou a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde lecionou sobre doenças tropicais e infecciosas. Foi, ainda, presidente da Academia Cearense de Medicina e da Sociedade Cearense de Cardiologia.
 
Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,
 
Waldemar de Alcântara nasceu no dia 12 de abril de 1912, em Anacetaba (atual S. Gonçalo do Amarante), filho de Raimundo Nonato da Silva e de Dona Luiza Alcântara. Iniciou seus estudos em sua cidade natal, na escola pública do Arraial da Lagoinha. Em 1928, mudou-se para Fortaleza e ingressou no tradicional Colégio Castelo, de Silas Ribeiro, de onde foi para o Liceu do Ceará. Terminado o curso de humanidades, embarcou para Salvador, ingressando na Faculdade de Medicina da Bahia, onde se formou em 1938 e regressou à cidade natal, Anacetaba. Mas logo foi novamente para Fortaleza, onde cursou medicina sanitária.
 
Em 1939, casou-se com Dona Maria Dolores de Alcântara, com quem teve quatro filhos: Luzia Maria, Lúcio Gonçalo, Lúcia Maria e Lília Maria.
 
No início de 1940, doutor Waldemar se transferiu para Quixadá, onde assumiu a chefia do Posto de Saúde e manteve um consultório particular. Em seu consultório, chegou a realizar atendimento gratuito à população pobre. De início especializou-se em Cardiologia, mas o imperativo da realidade o levou a exercer a Clínica Geral. Através de sua atividade profissional, conheceu os problemas que afligiam a população local, notadamente as doenças infecciosas e parasitárias.
 
Ainda nos anos 40, chefiou o Centro de Saúde de Fortaleza, passando, logo em seguida, a dirigir o Serviço de Epidemiologia do Departamento Estadual de Saúde. Foi, juntamente com Walter Cantídio,  Hyder  Correia Lima e Joaquim Eduardo de Alencar, um dos responsáveis pela gestão da Saúde Pública no Ceará naquele período.
 
Como presidente do Centro Médico Cearense, defendeu a classe médica e teve grande importância na criação da Faculdade de Medicina do Ceará, em 12 de maio de 1948. Por sua competência profissional e intelectual, o Dr. Waldemar de Alcântara foi um dos 34 professores que deram início à instituição. Na Faculdade, exerceu o cargo de Professor Catedrático de Doenças Infecciosas e Tropicais do Departamento de Saúde Comunitária. Sempre se destacando pela competência de sua atuação, foi diretor do Instituto de Medicina Preventiva e membro do Conselho Universitário. Recebeu o título de Professor Emérito e Doutor Honoris Causa, além de ter ocupado o cargo de Diretor da Faculdade de Medicina do Ceará.
 
Senhoras Senadoras, Senhores Senadores,
 
Em 1946, o doutor Waldemar ingressou no Partido Social-Democrático (PSD), elegendo-se deputado da Constituinte estadual. Em 1951, foi escolhido secretário de Educação e Saúde do Governo de Raul Barbosa, do PSD. Um dos seus primeiros atos na Secretaria foi abrir o Hospital de Maracanaú, concluído em 1938, mas ainda sem funcionamento tantos anos depois. Em sua gestão, conseguiu novos postos de atendimento médico no interior do Ceará e também vários hospitais de pequeno e médio porte nas principais regiões do estado. Como secretário da Educação, criou mais de mil novos cargos de professor primário para prover a rede pública estadual. Instituiu também um sistema de bolsas de estudo para estudantes carentes.
 
Nas eleições de 1954, elegeu-se 1º suplente de Deputado Federal, assumindo o mandato devido à morte do titular, Walter de Sá Cavalcante. Após curto período na Câmara Federal, concorreu à Assembleia Legislativa, elegendo-se para o período 1957-1960. Não concluiu o mandato, pois foi escolhido para o cargo de diretor da Faculdade de Medicina da UFC, que ajudara a fundar. Em sua gestão (1957-1963), a Faculdade de Medicina passa por importantes transformações, com a fundação do Hospital-Escola Walter Cantídio e da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, o que possibilitou o surgimento de vários atendimentos direcionados à população de baixa renda. A criação da Residência Médica, em 1962, contribuiu de forma decisiva para o aperfeiçoamento do ensino da Medicina no Ceará.
 
Com o golpe militar de 1964 e a extinção dos partidos políticos em 1965, Waldemar de Alcântara se filiou à ARENA, elegendo-se suplente de senador em 1966 em chapa com Paulo Sarasate. Com a morte de Sarasate, Waldemar assumiu o mandato, em 17 de outubro de 1968. Nesta Casa, votou contra o monstruoso Ato-Institucional nº 5, que pisoteava o que restava de liberdade no País. Destacou-se como membro da Comissão de Saúde e Assuntos Regionais, onde buscou resolução de problemas seculares, como a mortalidade infantil, desnutrição, epidemias e endemias crônicas. Foi relator do projeto de lei que criou o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Teve atuação marcante também como coordenador-geral da Comissão Coordenadora de Estudos do Nordeste  (COCENE).
 
 
Grande foi sua luta em defesa da criação do Banco do Nordeste, juntamente com Raul Barbosa. Ingressou no BNB como médico e logo se tornou diretor e substituto eventual da Presidência. “Credita-se ao Banco do Nordeste uma farta folha de seviços que o credenciam sobejamente à admiração de todos os nordestinos”, afirmou, certa vez. Palavras de grande atualidade, quando estamos lutando pelo fortalecimento do BNB, defendendo que ele continue a ser o único agente operador do Fundo do Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e autorizando, através de emenda à Medida Provisória 564/12, do Plano Brasil Maior, crédito de R$ 10 bilhões a essa instituição.
 
 
O doutor Waldemar de Alcântara faleceu no dia 10 de dezembro de 1990. Mas, como vimos, muitas de suas lutas beneficiaram o povo do Nordeste e do Ceará, e muitas de suas causas continuam sendo desafios do presente.
 
 
Era o que eu tinha a dizer.