Acordo Hamas-Fatah: resultado esperançoso da sublevação árabe


A assinatura no último dia 4 de maio, no Cairo, de um acordo visando dar um fim à confrontação entre as duas principais organizações palestinas, Hamas e Al Fatah, abre novas esperanças de que a justa luta do martirizado povo palestino possa avançar nos legítimos objetivos de recuperar o seu território e constituir o seu próprio Estado independente.

Este significativo acontecimento poderá ser considerado como um dos resultados concretos da sublevação do povo egípcio que pôs fim ao governo entreguista e corrupto do ex-presidente H. Mubarak, o qual, ao mesmo tempo que se assumia como mediador em negociações anteriores, o que fazia na realidade era sabotá-las, subordinado aos interesses de Washington e Tel Aviv.

E já a partir destas capitais se vêm ouvindo vozes de preocupação, senão mesmo de ameaça perante as mudanças na política egípcia, cujo primeiro-ministro anunciou estar trabalhando na abertura da fronteira de Gaza e para pôr fim ao criminoso bloqueio conjunto com Israel, que mantém em condições de sobrevivência deploráveis 1,5 milhão de palestinos.

O caminho da unidade palestina, no entanto, irá requerer muito esforço, paciência e boa vontade para se consolidar e produzir resultados. O povo palestino parece estar pronto para exigir dos seus dirigentes, como o estão fazendo outros povos árabes, que correspondam de forma incondicional aos seus interesses patrióticos e nacionais.
 
O que foi alcançado no Cairo é apenas um primeiro passo, e tanto Israel como os EUA e os seus aliados ocidentais irão fazer todo o possível – tal com fizeram anteriormente – para frustrar este progresso e para os dividir. A divisão é o seu principal trunfo.

Em 2006, realizaram-se eleições legislativas supervisionadas por numerosas instituições e impulsionadas pelo governo norte-americano segundo a bandeira de desenvolver a democracia. Para sua surpresa, venceu o Hamas, e aí cessou a tão proclamada democracia. A partir desse momento, dedicaram-se, com sucesso, a ignorar o governo do Hamas e a fomentar a divisão palestina, promovendo de fato um golpe de estado que levou ao desencadear de confrontos armados lamentáveis.

O Hamas manteve o controlo da faixa de Gaza, bloqueada e hostilizada, submetida ao terrorismo de estado sionista cujos bombardeios provocaram, só no início de 2009, mais 1.400 mortos, na sua imensa maioria civis.

A Autoridade Nacional Palestina, entretanto, conservou o controlo parcial da Cisjordânia e, recebendo apoio e generosa ajuda econômica dos EUA e da EU, bem como aconselhamento militar e de segurança, que incluiu a colaboração nesses campos com Israel. Esta política provocou fortes problemas internos à Fatah.

Foi profundamente lamentável observar-se que esses contatos eram desenvolvidos enquanto o povo palestino sofria bombardeios genocidas em Gaza, perante o silêncio do Ocidente e da própria reação árabe, congregada na intenção de liquidar o Hamas. Poucas vezes se terá tornado tão evidente a hipocrisia dos chamados defensores dos “direitos humanos”.

Os palestinos parecem dispostos a evitar que esta situação se repita. Vão tentar dividí-los por todos os meios possíveis. A unidade de organizações patrióticas como a Al Fatah com outras organizações da esquerda palestina e com organizações islâmicas como o Hamas pode inclusive constituir um exemplo para forjar uma união anti-imperialista em outros povos árabes.

Nas rebeliões que abalam o mundo árabe, cada uma com as suas características próprias, a unidade das forças populares desempenha um papel decisivo para suster a agressão e o hegemonismo imperialista sionista, para pôr fim a governos corruptos e entreguistas e para constituir Estados verdadeiramente independentes, cujos governos correspondam aos interesses dos seus povos. Para alcançar esta indispensável unidade será necessário alterar mentalidades e adquirir flexibilidade. Tanto a esquerda como os movimentos islâmicos progressistas são chamados a desempenhar um importante papel, e devem rapidamente tomar consciência desse fato.

Os EUA pretendem manter o seu domínio sobre o mundo árabe e islâmico e a sua cruzada é permanente. Nesse mundo, no qual a religião é cultura quase generalizada, esta deverá desempenhar um decisivo papel libertador. Uma Teologia da Libertação islâmica é também possível …. e – porque não – necessária.

Por Ernesto Gómez Abascal*, em odiario.info