Na noite da segunda-feira (), o embaixador da República Socialista do Vietnã, Duong Nguye Tuong, esteve na sede nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na cidade de São Paulo, onde foi recebido para uma palestra sobre o seu país. Falando em português límpido, ele se apresentou como camarada dos comunistas do Brasil, deixando de lado sua condição diplomática, para expor aspectos da construção socialista e interagir com os presentes.
Por Osvaldo Bertolino*
Duong Nguye Tuong iniciou a palestra dizendo que falava para um partido irmão do Partido Comunista do Vietnã (PCV) e que a intenção era trocar experiências e impressões sobre a edificação do socialismo nas condições concretas de cada país. Ele dividiu a intervenção em três partes: a renovação econômica, o papel do PCV na sociedade e a configuração do Estado e do governo. Explicou que até 1986 seu país seguiu o modelo econômico soviético, o que resultou, com a crise que derrubou aquele sistema, em sérios problemas sociais e políticos.
Foi quando o Comitê Central (CC) do PCV decidiu aplicar a política de renovação, conhecida como “socialismo de mercado”. Segundo Duong Nguye Tuong, tal orientação implicou em considerar algumas vantagens do sistema capitalista, adaptadas às condições vietnamitas. Uma delas é a forma de propriedades, que agrupa o setor privado, o Estado e os investimentos estrangeiros. Mas trata-se de uma economia dirigida, comandada pelo governo sob a orientação do PCV.
Esse arranjo, explicou, deu uma nova dinâmica ao país, substituindo importações e até exportando produtos básicos, como o arroz. Hoje o Vietnã é o segundo exportador desse produto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Duong Nguye Tuong disse que em 25 anos o país construiu uma economia moderna, avançada e com características típica do socialismo, que cresce em média 7,2% ao ano há mais de 20 anos. Para ele, a socialização do país passou a ser vista como um projeto de longo prazo, planejado e bem alicerçado, de acordo com as peculiaridades vietnamitas.
Denominações
Outro aspecto da renovação, disse ele, é a condução política do país. Houve uma reforma no PCV e no governo para adequá-los à nova orientação econômica. Isso deixou o partido mais forte para liderar a nova fase de desenvolvimento. Essa renovação, explicou Duong Nguye Tuong, consistiu basicamente em superar a prática de copiar o modelo soviético e adotar uma política em consonância com a realidade vietnamita. Não foi uma tarefa que exigiu grandes esforços porque o PCV tem uma cultura de adaptar-se às realidades, segundo Duong Nguye Tuong, desde a sua fundação, em 1930.
O partido nasceu com a denominação de Partido Comunista da Indochina e em 1945, com o nome de Partido do Trabalho, constituiu a Liga da Independência do Vietnã, com a finalidade de agrupar todas as forças que lutavam para derrotar a colonização francesa. Essa denominação durou até a derrota completa dos invasores norte-americanos, em 1976, quando adotou o nome de Partido Comunista do Vietnã. Segundo Duong Nguye Tuong, essa trajetória demonstra a capacidade do PCV de adaptar-se à cada realidade do país e se expressar de forma condizente com os anseios e a cultura do povo, que sempre vê nos nomes uma significação.
Percalços
Com essas flexões e a adoção de políticas que respondem às características de cada momento, o partido granjeou grande prestígio e respeito. Duong Nguye Tuong explicou que o povo chama o PCV de “nosso partido”. A popularidade é tanta que cada família tem pelo menos um membro filiado. Essa condição, disse ele, demonstra ao mesmo tempo muita confiança do povo e a responsabilidade que cabe aos comunistas na direção do processo revolucionário. O PCV, enfatizou Duong Nguye Tuong, procura corresponder a essa respeitabilidade zelando pelo vigor da teoria e da política dos comunistas.
Ele explicou que o governo vietnamita tem um perfil voltado para os interesses do povo. Um governo do povo e para o povo como princípio da construção do país, enfatizou. E o PCV, como força dirigente desse processo, tem uma grande força mas também muitos desafios. Segundo Duong Nguye Tuong, a natureza do partido como único dirigente desse processo cria condições para o burocratismo e a corrupção, temas que têm merecido atenção especial do Comitê Central. Esses percalços, disse ele, são combatidos para que não obstaculizem o processo de construção de um Vietnã rico, civilizado, democrático e forte.
Caminhos
Encerrando sua participação, Duong Nguye Tuong respondeu a perguntas dos presentes, reafirmando as condições peculiares do país e a busca incessante da democratização das relações sociais, da incorporação da juventude no processo revolucionário e de superação das debilidades econômicas. Ele explicou, em rápidas palavras, as políticas que são adotadas para preservar os direitos dos trabalhadores, a valorização das instâncias democráticas e os desafios que surgiram com a nova realidade econômica e política.
Renato Rabelo, o presidente nacional do PCdoB, fez questão de abrir os trabalhos, ressaltando que não poderia deixar de dar as boas-vindas ao camarada vietnamita. Destacou que em conversa com Duong Nguye Tuong constatou que a tarefa do Vietnã na derrota de dois imperialismos — o francês e o norte-americano — parecia menos árdua do que a de construir o socialismo.
Para Renato Rabelo, foi uma conversa franca, condizente com o histórico de amizade entre os dois partidos. Segundo o presidente do PCdoB, a visita de Duong Nguye Tuong foi uma honra, que merece ser valorizada para a compreensão dos caminhos da construção do socialismo. Participaram da mesa dos trabalhados Ricardo Abreu “Alemão”, secretario de Relações Internacionais do PCdoB, e o presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS), André Tokarski. O evento foi uma co-promoção da Fundação Maurício Grabois, do Portal Vermelho, da Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB, do Cebrapaz e da UJS.
*Jornalista da Fundação Maurício Grabois