Cinco ex-presidentes bolivianos se reuniram com o atual presidente do país, Evo Morales, para analisar a política de reivindicação marítima da Bolívia em relação ao Chile e formar um conselho consultivo. Participaram da reunião Guido Vildoso, Jaime Paz Zamora, Jorge Quiroga, Carlos Mesa Gisberty e Eduardo Rodríguez Veltzé que governaram a Bolívia desde 1982, quando a democracia foi restabelecida, até 2006, ano da eleição de Morales.
Os cinco ex-mandatários concordaram que "todos os bolivianos devem falar uma mesma língua" em relação à demanda por uma saída ao mar que o presidente Morales decidiu levar à justiça internacional depois de 132 anos de negociações bilaterais improdutivas.
Lydia Gueiler, única mulher a chegar ao posto de presidente da Bolívia, foi a única a não comparecer ao encontro por "motivos de saúde", segundo uma carta enviada a Morales. Seu neto também esclareceu que "aos 96 anos, ela está afastada da atividade pública".
Zamora (-1993) elogiou o fato de o presidente ter começado este "tour de encontros" e se declarou disposto a colaborar "em tudo que seja para o bem-estar da Bolívia e, sobretudo para a unidade dos bolivianos".
Por sua vez, Mesa (-2005) destacou "o gesto do presidente" ao convidá-los e o fato de todos terem aceitado porque "isso mostra que acima das diferenças políticas, que realmente existem, está o interesse do país e o tema do mar é algo que nos une".
Compartilhando o mesmo ponto de vista, Quiroga (-2202) disse que "teve, tem e seguirá tendo muitas diferenças com o governo, mas a causa marítima é sagrada e deve unir a todos".
Em uma breve declaração à imprensa, Morales agradeceu as "reflexões, orientações e conhecimento" dos ex-presidentes. "Esta tarde aprendi muito. Muito obrigado por me orientar", declarou.
Desde que assumiu o cargo, essa foi a primeira vez que o mandatário se reuniu com ex-governantes cujas gestões criticou severamente e que, por sua vez, também o questionam. Mesa Quiroga e Rodríguez, por exemplo, estão sendo processados por contratos lesivos ao Estado.
Os ex-presidentes também concordaram que a Bolívia deve "recorrer a todos os espaços: multilaterais, discussão bilateral com o Chile e negociação trilateral que inclua o Peru" por sua saída ao mar, perdida para o Chile na Guerra do Pacífico, em 1879.
No final de março, Morales anunciou que levará a questão aos tribunais internacionais. Dias depois, ele incluiu na reivindicação o desvio do Rio Lauca, que em 1958 provocou ruptura nas relações, e a questão das águas do Silala.
O governo chileno, liderado por Sebastián Piñera, rechaçou o anúncio boliviano. Ele chegou a declarar que a postura da Bolívia "constitui um sério obstáculo para as relações bilaterais" e que a nação vizinha "não pode querer um diálogo direto, franco e sincero, enquanto simultaneamente manifesta sua intenção de recorrer aos tribunais".
Segundo Piñera, seu país tem um tratado de limites datado de 1904, assinado de forma válida e plenamente vigente.